Academia

Vídeo

“Inovação Florestal”, por Alexandre Gaspar

Ao longo de milénios, a humanidade recolheu da floresta diversos materiais, que usou em seu benefício. Esta é a génese do conceito de bioeconomia da floresta que hoje se reforça através da inovação florestal.

A inovação florestal apoia a transição de uma economia baseada no petróleo para um modelo centrado na bioeconomia, onde as matérias-primas de origem florestal permitem substituir praticamente todos os produtos que antes dependiam dos recursos fósseis. E a valorização dos recursos florestais contribui para a coesão social e territorial.

Recorde-se que ao longo do último século os recursos fósseis finitos permitiram grande evolução tecnológica e económica, mas ela foi feita com impactes negativos no planeta. Nos próximos anos, o desenvolvimento terá de passar por uma economia mais sustentável, baseada em recursos biológicos e renováveis, assim como por uma reutilização destes materiais (circularidade), capaz de minimizar progressivamente o uso de recursos fósseis.

Inovação florestal potencia aplicações de fibras e resíduos da madeira e cortiça

Biocombustíveis de nova geração, química, farmacêutica, cosmética, alimentação, embalagens e até impressão 3D e eletrónica são algumas das novas áreas resultantes da inovação florestal.

Os biocombustíveis de segunda geração, que incorporam resíduos e sobrantes da gestão ou da indústria florestal (em vez de produções agrícolas) são um exemplo, e a partir da conversão desta biomassa produz-se, por exemplo, biocrude, biogás e biocarvão.

O facto de ser possível sintetizar diversos químicos a partir da biomassa florestal (ou refinar os seus extratos para obter produtos mais puros) abre outras oportunidades. Por exemplo, a celulose, que é o principal constituinte das plantas e a molécula mais abundante na Terra, está a ser testada e usada para produzir desde detergentes a bioplásticos, ajudando a reduzir a quantidade de plásticos nos oceanos.

A pasta de celulose, com que se produz o papel, está também a ser aplicada em várias indústrias, como a têxtil e a alimentar, permitindo criar, por exemplo, fibras naturais alternativas ao algodão e um açúcar mais saudável. No campo da inovação florestal, temos ainda as nanoceluloses, intrincados conjuntos de fibras com grande flexibilidade e resistência, com aplicações em inúmeras áreas, e a cortiça, que se reinventa para integrar um número cada vez mais vasto de aplicações, do calçado aos satélites e à construção civil.

Reutilizar e valorizar resíduos e desperdícios industriais

Relativamente à circularidade, que ajuda a reduzir o consumo de recursos naturais, vemos igualmente avanços significativos, como a reutilização e valorização de materiais que antes eram considerados lixos industriais. Entre os múltiplos exemplos, refiram-se:

– Recuperação de solos degradados em antigas explorações mineiras, pela aplicação de uma mistura das cinzas resultantes da queima de biomassa (para produção de energia) com lamas das ETAR – Estações de Tratamento de Resíduos.
– Criação de argamassas com aplicação na construção civil, a partir de areias que resultam da queima da biomassa.
– Produção de um geopolímero, a partir de cinzas da biomassa, que pode substituir o cimento convencional. Alguns cientistas consideram-no um novo tipo de cimento e outros defendem que já era usado pelos Romanos, há dois mil anos, pois ao ser mais resistente ao pH da atmosfera envolvente, terá permitido que algumas construções deste império, como as pontes romanas, subsistam até hoje.

Sobre o Formador

Engenheiro Químico, com pós-graduações em Gestão e em Energia, Alexandre Gaspar trabalha no RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, na área de desenvolvimento de novos negócios e scale-up industrial.

A sua experiência profissional inclui ainda gestão projetos de I&D e consultoria tecnológica na indústria da pasta e papel. Anteriormente, trabalhou também na indústria cerâmica e de moldes para injeção de plásticos.