Comentário

Cristina Máguas

Porquê preocuparmo-nos com as invasões biológicas?

As invasões biológicas são fenómenos globais, generalizados, que ameaçam a integridade e o funcionamento dos ecossistemas, tanto dos naturais como dos alterados e geridos, desafiando a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais.

A expansão e controlo de Espécies Exóticas Invasoras (EEI) é um dos principais tópicos em ecologia. É também tema em muitas agendas políticas, estando integrado na meta 15.8 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas.

A União Europeia (UE), publicou recentemente a sua primeira lista de EEI, a qual inclui espécies que representam fortes ameaças à biodiversidade. De um grupo inicial de 329 espécies, 66 delas foram consideradas espécies de risco muito elevado a risco médio.

Atualmente, as invasões biológicas ameaçam a biodiversidade do planeta de formas que ultrapassam em muito os impactos económicos e de saúde pública a curto prazo, estando implicadas em 25% a 33% das extinções de espécies de plantas e animais, respetivamente.

Não é só o número total de espécies exóticas invasoras que está a aumentar a nível mundial, mas também o número de novas invasões e o número de espécies individuais reconhecidas como invasoras. Vários fatores têm sido associados a este aumento, nomeadamente a expansão do comércio global, o aumento das ligações a locais anteriormente isolados, e as novas introduções e expansão da gama de espécies já introduzidas devido às alterações climáticas.

A ciência das invasões biológicas – dedicada a detetar, compreender e mitigar os impactes destas espécies – tem sido desafiada a interagir com a sociedade e com os contextos culturais e históricos. A intensidade crescente do intercâmbio de espécies, mediada pela ação humana, tem resultado na homogeneização de floras e faunas. As invasões biológicas são fenómenos globais, generalizados, que ameaçam a integridade e o funcionamento dos ecossistemas naturais e geridos, desafiando a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais.

Consideramos como EEI plantas exóticas que produzem descendência reprodutiva em grande número e a distâncias consideráveis das plantas-mãe, podendo assim propagar-se rapidamente. Aspetos como a perturbação do ecossistema, a eficiência da dispersão, a germinação de sementes e a capacidade de estabelecimento são, deste modo, essenciais para avaliar o potencial das espécies naturalizadas se tornarem invasoras.

Comentário Cristina Mágoas

© Cristina Máguas

O exemplo das acácias

As denominadas acácias australianas são espécies invasoras a nível global, estando presentes em muitos países de diferentes continentes. É o caso da Acacia longifólia (acácia-de-espigas), cuja introdução nos sistemas dunares portugueses resultou na diminuição da diversidade e riqueza vegetal nativa, ao mesmo tempo que aumentava a cobertura de acaciais densos e monoespecíficos.

A acácia-de-espigas é particularmente invasora nos climas mediterrânicos, na África do Sul, Sul do Brasil e Uruguai. A distribuição das várias espécies de acácia resulta de diferentes fatores ecológicos, biogeográficos e introduções realizadas pelo homem. Importa esclarecer que estas espécies não são invasoras no seu local de origem, onde estão em equilíbrio no ecossistema. O seu comportamento invasor, é estimulado em ambientes ecologicamente perturbados.

O potencial invasor das acácias está associado à sua capacidade fixadora de azoto, que permite a sua propagação em dunas arenosas e solos pobres em nutrientes. De facto, estas espécies alteram as propriedades do solo, modificando o ciclo de nutrientes. O aumento de nutrientes no solo promove o seu sucesso e o dos seus descendentes, diminuindo a disponibilidade de luz para as plantas vizinhas. As acácias impactam também a disponibilidade de água ao nível dos ecossistemas devido à sua elevada competição e desenvolvimento.

As denominadas acácias australianas são espécies invasoras a nível global, estando presentes em muitos países de diferentes continentes. É o caso da Acacia longifólia (acácia-de-espigas), cuja introdução nos sistemas dunares portugueses resultou na diminuição da diversidade e riqueza vegetal nativa, ao mesmo tempo que aumentava a cobertura de acaciais densos e monoespecíficos.

A acácia-de-espigas é particularmente invasora nos climas mediterrânicos, na África do Sul, Sul do Brasil e Uruguai. A distribuição das várias espécies de acácia resulta de diferentes fatores ecológicos, biogeográficos e introduções realizadas pelo Homem. Importa esclarecer que estas espécies não são invasoras no seu local de origem, onde estão em equilíbrio no ecossistema. O seu comportamento invasor é estimulado em ambientes ecologicamente perturbados.

O potencial invasor das acácias está associado à sua capacidade fixadora de azoto, que permite a sua propagação em dunas arenosas e solos pobres em nutrientes. De facto, estas espécies alteram as propriedades do solo, modificando o ciclo de nutrientes. O aumento de nutrientes no solo promove o seu sucesso e o dos seus descendentes, diminuindo a disponibilidade de luz para as plantas vizinhas. As acácias impactam também a disponibilidade de água ao nível dos ecossistemas devido à sua elevada competição e desenvolvimento.

Travar as invasões biológicas

Embora se reconheça que as espécies invasoras são um fator global de degradação da biosfera, os seus efeitos só são frequentemente notados quando a invasão já dura há algum tempo: tipicamente quando a sua distribuição e expansão são claras, afetando a produção de bens e serviços, como a disponibilidade água, qualidade ou rendimento de produções agrícolas e florestais ou os custos de produção.

As tentativas de erradicação de espécies invasoras são dispendiosas e altamente exigentes em termos de recursos humanos, sendo a erradicação possível única e exclusivamente no início do processo de invasão.

Importa assegurar o equilíbrio dos ecossistemas naturais e plantados e estar atento ao comportamento das espécies cultivadas, que habitualmente são selecionadas pelo seu potencial de desenvolvimento e se podem tornar invasoras em determinadas condições.

A utilização de biomassa compostada, resultante de operações de controlo de espécies invasoras, pode ser uma forma de favorecer a viabilidade económica do trabalho da sua erradicação.

agosto de 2022

O Autor

Cristina Máguas, doutorada em Biologia, Ecologia Vegetal e Sistemática, pela Universidade de Lisboa (1997), é professora no Departamento de Biologia Vegetal da Faculdade de Ciências na mesma instituição, assim como professora convidada na UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, na Universidade de São Paulo, e no Programa de Mestrado em Biologia da Conservação do Parque Nacional da Gorongosa. Coordena o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), sendo também Presidente da Federação Ecológica Europeia (EEF), Vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO); Vice-Coordenadora do Colégio Tropical da Ulisboa (CTROP) e coordenadora da Unidade de Isótopos Estáveis e Instrumentação Analítica da FCUL (SIIAF). É autora de mais de 100 artigos científicos e coordenadora de mais de 17 projetos nacionais e internacionais.