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Cultura e Floresta

Museus da floresta: cinco sugestões num roteiro para dias de inverno

Madeiras, cortiça, resinas, papéis, fibras, frutos. Estes são alguns dos muitos produtos que as florestas nos dão e que podem ser descobertos em passeios ao ar livre e também “dentro de portas”, em várias coleções e museus da floresta de norte a sul do país. Fique a conhecer alguns deles, num roteiro ideal para dias de inverno.

Admirar mais de 10 mil exemplares de madeiras provenientes de mais de 100 origens, conhecer a história do papel, descobrir uma enorme variedade de sementes e plantas ou aprender sobre as muitas aplicações da cortiça… Tudo isto é possível em vários museus da floresta, mostras, coleções e espaços interativos de norte a sul do país.

Enumerar todas estes espaços de conhecimento e divulgação que se relacionam com as florestas, com a vida que nelas cresce e com os produtos e serviços que ela nos dá não é tarefa fácil, tal a dimensão do património português, pelo que o mais difícil pode ser saber por onde começar.

Aceite cinco sugestões, que incluem desde coleções botânicas a espólios de madeiras, passando por mostras dedicadas ao papel e à cortiça, para começar a descobrir estes museus da floresta, onde não faltam histórias, produtos e boas ideias que vêm das árvores.

Planet Cork, Vila Nova de Gaia

Planet Cork

© World of Wine

Em Vila Nova de Gaia, o Planet Cork faz jus ao nome e convida à descoberta do mundo da cortiça, desde a exploração ancestral do sobreiro, passando pela sua importância na economia portuguesa e pelos passos necessários para o descortiçamento.

À entrada, os visitantes são recebidos por uma impressionante réplica de um sobreiro gigante, a árvore mãe da cortiça e é assim que começa uma experiência interativa pelo valor desta espécie que podemos encontrar em 720 mil hectares do território continental, que representa 22,3% da nossa floresta.

Quem acha que a cortiça serve essencialmente para fazer as tradicionais rolhas de vinho, vai surpreender-se com esta matéria-prima de propriedades únicas. Esta é uma mensagem-chave ao longo do percurso deste museu interativo, que nos leva a descobrir a versatilidade de aplicações deste material, que podem ser praticamente tão variadas quanto a nossa imaginação, desde as mais antigas às vanguardistas, que a colocam em indústrias tão diferentes, como a aeroespacial e a da moda.

Inaugurado em 2020, o Planet Cork integra-se na oferta museológica do World of Wine, considerado o novo quarteirão cultural e turístico do Grande Porto – onde há também museus dedicados ao Vinho do Porto e ao chocolate. Os bilhetes podem ser adquiridos online e as visitas em qualquer dia da semana.

Museu do Papel Terras de Santa Maria, Santa Maria da Feira

Conhece a história do papel em Portugal? Na freguesia de Paços de Brandão, em Santa Maria da Feira, o Museu do Papel Terras de Santa Maria tem a resposta.

Neste espaço instalado em duas antigas fábricas de papel do início do século XIX, pode “viajar” pelas memórias do fabrico do papel. Os diferentes processos e matérias-primas usados no seu fabrico ao longo dos tempos, assim como a variedade de papéis produzidos em Portugal e a sua multiplicidade de aplicações são alguns dos aspetos a reter.

Inaugurado em 2001, o Museu do Papel Terras de Santa Maria pertence à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira e é o primeiro espaço museológico dedicado à história do papel em Portugal.

Museu do Papel

© Museu do Papel Terras de Santa Maria

O espaço reflete a importância que a indústria papeleira tem na região desde há mais de três séculos. Através da visita, é possível conhecer algumas das fases históricas e memórias mais marcantes relacionadas com o papel em Portugal: a produção “folha a folha”, apresentada no espaço oitocentista do Engenho da Lourença (espaço em alusão à primeira empresária de papel do país, Lourença Pinto); o fabrico industrial que permitiu a produção de papel em contínuo, fase que pode ser conhecida na Casa da Máquina; ou a mais recente história da indústria nacional do papel, através do núcleo expositivo “Da Floresta ao Papel”, que dá a conhecer o ciclo sustentável da produção do papel.

Consulte horários e veja como chegar a este que foi eleito o Melhor Museu Português em 2011.

Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Coimbra

Museu de Ciência da Universidade de Coimbra

Dos frutos secos às resinas, passando pelas fibras, em Coimbra há um museu que quer despertar nos visitantes o gosto pelo mundo das plantas. Trata-se do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra que, entre as suas coleções científicas, proporciona uma viagem pela vida e evolução das plantas num espólio de botânica que é composto por uma coleção de mais de 3 mil exemplares de frutos, sementes e ramos (conservados em seco ou em líquido).

Neste acervo destacam-se também diversos produtos de origem vegetal (resinas, gomas e fibras) e madeiras originárias do Brasil e de vários antigos territórios ultramarinos, nomeadamente africanos.

A visita pode ser complementada com a descoberta de uma coleção de cerca de 400 modelos de flores e frutos, em cera e papel machê, de finais do século XIX. O espólio museológico integra ainda um valioso conjunto de microscópios, alguns do século XIX, e outro equipamento laboratorial antigo, bem como uma coleção de fósseis vegetais.

O espólio de botânica é parte integrante do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, que, por sua vez, faz parte do património da “Universidade de Coimbra Alta e Sofia”, classificado pela UNESCO como património mundial, em 2013.

O Museu está aberto ao público todos os dias. Antes de visitar, consulte o horário e as atividades que estão disponíveis ao longo do ano. Se o tempo ajudar, desfrute de um passeio pelo Jardim Botânico de Coimbra, um verdadeiro museu ao ar livre com plantas que nos transportam para diferentes latitudes e regiões do planeta.

Xiloteca do Palácio Calheta | Jardim Botânico Tropical | Belém

Mais de 10 mil exemplares de madeiras, recolhidas ao longo de mais 100 anos em vários pontos do globo, podem ser redescobertos na Xiloteca do Palácio Calheta, no Jardim Botânico Tropical de Belém, em Lisboa.

Estas madeira, expostas em duas das maiores salas do Palácio, constituem um conjunto de referência internacional, já que além das amostras recolhidas pelas várias missões científicas portuguesas nos antigos territórios ultramarinos, conta também com exemplares obtidos por troca com outras xilotecas, o que contribuiu para uma coleção muito vasta, proveniente de 107 origens.

Xiloteca do Palácio da Calheta

© Xiloteca do Palácio Calheta

Tábuas, toros cortados nas três dimensões – tangencial, transversal e radial – rodelas e provetas são alguns dos formatos disponíveis para saber mais sobre estas madeiras tropicais e subtropicais, onde não faltam exemplos de espécies florestais ameaçadas de extinção e de árvores que, no seu país de origem, já se extinguiram na natureza.

Refira-se que esta coleção começou a ser constituída em 1911, com madeiras de São Tomé e Príncipe, e prosseguiu nos anos seguintes com amostras vindas da Guiné (1913), de Angola (1914), de Moçambique (1915), da Índia (1091) e de Timor (1926). Em 1929, é inaugurado o museu que as reúne – o antigo Museu Agrícola do Ultramar – criado para, entre outros objetivos, “apoiar o ensino da agronomia e da silvicultura coloniais”. Já então, o local que o acolheu foi o Palácio Calheta. A coleção continuou a ampliar-se, em particular após meados do século XX, com o contributo das missões científicas especificamente dedicadas à floresta, realizadas entre 1957 e 1960, e novas madeiras a chegar do Brasil, Cabo Verde e, mais tarde, de Macau.

Curioso é que a ideia de recolher e reunir amostras de madeira – para as poder estudar – é bastante anterior em Portugal. Data do século XVIII, do Reinado de D. Maria I, altura em que foi pedido às antigas colónias, em nome da monarca, o envio de amostras de madeiras, plantas e sementes, que seguiram para uma coleção inicial na Academia das Ciências.

Aproveite para visitar o Jardim Botânico Tropical onde ela está integrada. Ao ar livre e nas estufas, reúne-se um conjunto de cerca de 600 espécies originárias de vários continentes que vale a pena apreciar. O Palácio da Calheta não está habitualmente aberto ao público, sendo a visita à xiloteca possível, por exemplo, em dias comemorativos, como o Dia Internacional dos Museus, Dia Nacional da Cultura Científica ou em outros eventos anunciados no site do Museu Nacional de História Natural e da Ciência.

Museu Botânico | Instituto Politécnico de Beja

Museu Botânico

© Museu Botânico do Instituto Politécnico de Beja

A relação milenar entre o Homem e as plantas está em destaque no Museu Botânico da Escola Superior Agrária de Beja, que começou por reunir objetos e matérias-primas de origem vegetal para apoiar as aulas do Instituto Politécnico de Beja.

A funcionar formalmente como museu desde outubro de 2002, este é um espaço de etnobiologia, botânica económica e etnobotânica (o uso das plantas num contexto mais rural), onde o visitante pode conhecer as matérias-primas vegetais, mas também os objetos que se fazem a partir destes recursos e as tradições que lhes estão associadas.

O museu conta com exposições de longa duração e exposições temporárias, além do acervo próprio. A sua coleção contém cerca de duas mil peças de várias proveniências, como gomas, resinas, especiarias, fibras, corantes, sementes e objetos feitos com diversas matérias-primas vegetais, além de uma coleção de fotografias de botânica económica, que reforçam o uso tradicional de plantas num contexto económico.

Com mais de 50 exposições promovidas desde a sua criação, já organizou eventos que vão desde leituras botânicas das plantas presentes e de vestígios encontrados em túmulos, a mostras de matérias-primas aplicadas em criações artísticas e perfumaria.

O museu botânico, que recebeu uma menção honrosa da APOM – Associação Portuguesa de Museologia pelo seu serviço educativo, funciona nos dias úteis. A entrada é livre e há a possibilidade de marcação prévia de visitas orientadas ou até de visitas ao acervo.

Foto de topo © Museu do Papel Terras de Santa Maria