Recursos Naturais
A classificação e sistematização da tipologia dos solos em Portugal tiveram início nos anos cinquenta do século passado com os trabalhos de elaboração da Carta de Solos de Portugal na escala de 1:50 000 e da Carta de Capacidade e Uso do Solo, na mesma escala.
Anos depois, entre 1971 e 1973, foi elaborada uma nova carta à escala 1:1 000 000. Usando a nomenclatura do SROA (Serviço de Reconhecimento e Ordenamento Agrário), esta Carta dos Solos de Portugal classifica os solos em diferentes níveis, de acordo com a sua evolução, tipo de material originário e várias outras características, de que são exemplo o tipo de horizontes do solo, as suas cores, a presença de matéria orgânica e de vários minerais.
Esta Carta identifica 10 classes abrangentes, algumas das quais apresentam subdivisões que totalizam um total de 20 subordens de solo.
Solos incipientes | |
Solos ainda em formação, não evoluídos e que não apresentam horizontes diferenciados relativamente ao material originário. Incluem quatro subordens: | 1. Litossolos – solos muito pouco profundo, esqueléticos, derivados de rochas consolidadas. |
2. Regossolos – solos com maior espessura, derivados de rochas arenosas e areníticas não consolidadas (do grego regos - cobertura). | |
3. Aluviossolos – solos instalados sobre aluviões mas não encharcados (não hidromórficos). Podem separar-se em dois grupos: Modernos e Antigos. | |
4. Coluviossolos, solos de baixa ou de sopé – encontram-se na base das vertentes. | |
Solos litólicos | |
Solos pouco evoluídos, formados a partir de rochas não calcárias. São pouco profundos, frequentemente pobres em termos químicos e com baixo teor em matéria orgânica. Dividem-se em: | 1. Solos litólicos húmicos – com um horizonte superficial úmbrico, de cor escura e rico em matéria orgânica (do latim, umbra - sombra). |
2. Solos litólicos não húmicos – solos litólicos sem horizonte superficial úmbrico. | |
Solos calcários | |
Solos pouco evoluídos, formados a partir de rochas calcárias. Incluem 2 subordens: | 1. Solos calcários pardos – de cores castanho-escuras. |
2. Solos calcários vermelhos – de cores vermelhas e avermelhadas. | |
Barros | |
Solos evoluídos, de cor escura e com muita argila. Dividem-se em 3 subordens com base nas cores: | 1. Barros pretos – geralmente muito escuros, como acontece com os barros de Beja, muito usados como campos de trigo. |
2. Barros pardos – escuros, acastanhados. | |
3. Barros castanho-avermelhados – de tons variados. | |
Solos mólicos | |
Solos evoluídos com um horizonte superficial mólico, bem estruturado, de cor escura e com matéria orgânica (do latim, mollis – fofo, macio). | 1. Castanozemes – solos próprios de climas secos de regime xérico (do grego xeros - seco). Os castanozemes ricos em carbonato de cálcio são designados de Rendzinas. |
Solos argiluviados pouco insaturados | |
Solos evoluídos comuns em áreas de climas com características mediterrânicas. Dividem-se de acordo com a sua cor em: | 1. Solos mediterrâneos pardos – de cores pardacentas, entre o amarelado, o acastanhado, o acinzentado e o preto. |
2. Solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos – de cores avermelhadas ou amareladas. Alguns destes solos derivam de rochas calcárias, sendo conhecidos por terra rossa. Alguns exemplos destes solos surgem em associação com os mármores de Vila Viçosa – Estremoz – Borba. | |
Solos podzolizados | |
São solos evoluídos que apresentam um horizonte sub-superficial espódico (mais escuro, com acumulação de substâncias ricas em alumínio e matéria orgânica) e um horizonte B pardo (arenoso e mais pobre em horizontes orgânicos). Apresentam textura ligeira, com bastante areia. Dividem-se em 2 subordens: | 1. Podzóis não hidromórficos – não apresentam características de encharcamento. |
2. Podzóis hidromórficos – com características próprias de hidromorfismo - encharcamento. | |
Solos halomórficos | |
São caracterizados por apresentarem quantidades excessivas de sais solúveis e/ou teor relativamente elevado de sódio. | 1. Solos salinos – em geral, com cloreto de sódio. |
Solos hidromórficos | |
Solos sujeitos a encharcamento temporário ou permanente que ocorrem em terreno plano ou côncavo. Dividem-se em 2 subordens: | 1. Sem horizonte eluvial, ou seja, sem um horizonte mais claro onde ocorreu exportação ou eluviação de materiais minerais e/ou orgânicos. |
2. Com horizonte eluvial - Planossolos. | |
Solos orgânicos hidromórficos | |
São solos com elevado teor de matéria orgânica que se acumulou em condições de permanente ou quase permanente saturação com água. | 1. Solos turfosos – com horizontes de matéria sáprica (apodrecida). |
Esta nomenclatura de classificação deve-se ao Serviço de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (SROA). No entanto, em 1975 o SROA é integrado no Instituto Nacional de Investigação Agrária, onde foi mais tarde criado o Centro Nacional de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (CNROA). Ao CNROA são atribuídas incumbências de elaboração desta Carta de Solos e das respetivas cartas interpretativas, nomeadamente a Carta de Capacidade de Uso do Solo. As siglas destas várias instituições identificam esta carta, designada como Carta dos Solos de Portugal SROA/CNROA/IEADR.
Na década de 70 do século XX, Portugal foi convidado a participar na Carta de Solos do Mundo, à escala 1/5 000 000, uma iniciativa da FAO e UNESCO.
Em sequência, houve que estabelecer a correspondência entre as unidades taxonómicas adotadas pela FAO/UNESCO e as antes utilizadas na Carta de Solos de Portugal. Assim, às unidades adotadas pela FAO/UNESCO (na tabela, à esquerda) correspondem as respetivas designações do SROA/CNROA/ IEADR (à direita).
Classificação FAO/UNESCO | Classificação SROA/CNROA/ IEADR |
Alisols Do latim alumen - alumínio, elemento essencial na composição das argilas | Solos Argiluviados muito insaturados. |
Arenosols Do latim arena – areia | Regossolos psamíticos. |
Calcisols Do latim calx – limo | Solos Calcários. |
Cambisols Do latim cambiare – mudar | Solos Calcários. |
Fluvisols Do latim fluvius – rio | Aluviossolos e Coluviossolos. |
Gleysols Do nome russo gley – massa de solo resultante da redução do ferro pela matéria orgânica | Solos Hidromórficos sem horizonte eluvial. |
Histosols Do grego histos – tecido, que remete para material orgânico pouco decomposto | Solos Orgânicos Hidromórficos. |
Kastanozems Do latim castanea - castanha e do russo zemlja – terra, que remete para solo de cor castanha | Castanozemes. |
Leptosols Do grego leptos – fino, delgado | Litossolos, Rankers e Rendzinas. |
Lixisols Do latim lixivia - lavar | Solos Mediterrâneos não calcários, com materiais lateríticos. |
Luvisols Do latim luere - lavar | Solos Argiluviados pouco insaturados |
Planosols Do latim planus – plano, nível | Planossolos. |
Podzols Do russo pod – debaixo e zola – cinza | Solos Podzolizados. |
Vertisols Do latim vertere – virar, que remete para a inversão da superfície do solo | Barros. |
Relativamente à designação de cada tipo de solo, em Portugal são válidas as duas classificações: a do sistema nacional conhecida como SROA/CNROA/IEADR, aplicada maioritariamente ao Sul e Centro do país nas décadas de 1960 e 1970 e o sistema de classificação internacional da FAO/UNESCO, criado na década de 1970 e que evoluiu, por ação da IUSS – União Internacional das Ciências do Solo, para a atual WRB – World Reference Base for Soil Resources.
Solo
O estudo do solo como ciência – a pedologia – iniciou-se em Portugal há menos de um século e deu a conhecer a complexidade deste sistema estrutural, antes encarado como mera superfície para a produção vegetal. Conheça como evoluiu e o que nos revela a cartografia do solo.
Solo
Existe uma grande variedade de solos em Portugal, embora predominem os solos pobres e pouco profundos, nos quais o crescimento vegetal tem limitações. A sua fertilidade pode, no entanto, ser melhorada por práticas de gestão adequadas que, além de apoiarem a produtividade vegetal (agrícola e florestal), devem ter em conta a necessidade de equilíbrio e de preservação deste sistema natural.
Solo
O solo é a camada superficial do nosso planeta. Apesar de desempenhar funções ambientais, sociais e económicas essenciais à vida na Terra, nem sempre lhe é reconhecido o devido valor. Conheça a grande diversidade de solos no planeta e o papel essencial que as florestas desempenham na conservação deste recurso finito e não renovável.