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Valor da Floresta

O que estuda a anatomia da madeira?

A anatomia da madeira desvenda a estrutura interna deste material lenhoso (também chamado lenho ou xilema secundário), que é o principal constituinte dos troncos e ramos de árvores e arbustos. Esta disciplina estuda as células que compõem a madeira, a forma como se organizam e relacionam, as suas funções e características.

A madeira é um material lenho-celulósico, ou seja, é constituído por células fibrosas, de paredes essencialmente compostas por celulose que são intimamente ligadas por lenhina. Estas células podem ser:

  • Traqueídos (células alongadas, com vários poros e paredes reforçadas com lenhina) – servem como canais de transporte de água e sais minerais e ajudam à sustentação dos caules;
  • Elementos de vaso (células mortas, ocas, de paredes com lenhina) – que funcionam como tubos de transporte de água;
  • Fibras lenhosas (células mortas e alongadas) – conferem rigidez e suporte;
  • Parênquima (células vivas pouco especializadas) – asseguram várias funções, como a fotossíntese, transporte ou armazenamento de substâncias.

Fonte: Baseado em ilustração da quarta edição de “Plant Anatomy“, A. Fahn, Pergamon Press, 1990

 

A madeira das espécies folhosas (integradas no grupo das angiospérmicas, de folhas largas e com frutos que contêm a semente no seu interior) e a das espécies resinosas ou coníferas (integradas no grupo das gimnospérmicas, de folhas finas que lembram agulhas e frutos em formato de cone ou pinha) é diferente ao nível anatómico.

Estas diferenças podem observar-se no estudo anatómico: a madeira das resinosas é composta principalmente por traqueídos (além do parênquima), enquanto a das folhosas tem fibras, elementos de vaso e parênquima, em proporções diferentes consoante as espécies.

É a disposição, combinação, distribuição e dimensão destes diferentes conjuntos de células, revelada pela anatomia da madeira, que faz com que a madeira de uma espécie seja diferente da de outra.

 

Anatomia da madeira: cortes permitem observar planos distintos do seu interior

 

Assim, da mesma forma que a anatomia humana clássica faz a dissecação de um corpo para observar e analisar os órgãos e tecidos no seu interior, a anatomia da madeira recorre tradicionalmente à dissecação deste material lenhoso, das suas camadas e tecidos.

No estudo anatómico da madeira procede-se habitualmente a três cortes – axial (transversal), radial e tangencial (ambos longitudinais) – que deixam à vista planos distintos do interior do lenho, permitindo observar estruturas de aspeto diferente consoante a superfície observada.

Fonte: baseada em Ilustrações do livro “Madeiras Portuguesas: estrutura anatómica, propriedades e utilizações, de Albino de Carvalho

 

O plano transversal é o mais rico em informação sobre a estrutura da madeira, pois permite ver as camadas ou anéis de crescimento (diferentes na primavera-verão e no outono-inverno) e distinguir as características do cerne (parte mais interna da madeira, constituída por tecido fisiologicamente morto, normalmente mais escura e resistente) e do borne (camadas exteriores da madeira, que se encontram mais próximas da casca, geralmente de cor mais clara).

Além destes elementos, os diferentes cortes permitem observar os vasos (porosidade, arranjo, agrupamento, tipo de elemento vaso e perfuração), o parênquima (abundância, disposição classificação), os raios (composição e classificação) e as fibras das espécies folhosas; e nas coníferas podem dar a conhecer os traqueídos de início e fim de estação, os raios (número de células e composição) ou os canais de resina, entre outros detalhes.

As dimensões e formas como os elementos observados se organizam entre si dão pistas sobre as características específicas de diferentes madeiras – o seu tipo de fio e de grão, por exemplo, que influenciam os tipos de trabalhos e utilizações a que se prestam – e sobre as características partilhadas por árvores das mesmas espécies ou géneros botânicos.

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