Recursos Naturais
A formação do solo resulta de um lento processo de alteração das rochas, com a desagregação dos materiais que as constituem, a transformação dos seus minerais e a libertação dos respetivos componentes. Para que este processo aconteça não basta, no entanto, que exista a chamada rocha-mãe.
Para a formação do solo é necessária a presença combinada de vários fatores, que promovem as alterações físicas e químicas dos materiais geológicos originais, as quais ocorrem, em simultâneo, com alterações biológicas capazes de enriquecer os compostos iniciais com matéria orgânica.
Entre os fatores necessários à formação do solo, o fundador do estudo do solo, Vasili Dokuchaev (1846-1903), e mais tarde, o especialista Hans Jenny (1899-1992) identificaram cinco fatores principais:
1. Rocha-mãe
É o substrato inicial a partir do qual se forma o solo. A sua composição mineral tem grande influência nas propriedades do solo, como a textura e a acidez, por exemplo.
2. Clima
A temperatura e a precipitação, com as suas variações, alteram a velocidade a que se faz a desagregação da rocha e condicionam a atividade biológica. Por exemplo, as variações térmicas levam à expansão e contração das rochas, enquanto o contacto com a água da chuva pode dissolver alguns tipos de rocha e alterar quimicamente os seus minerais originais.
3. Organismos vivos
Plantas, animais, líquenes, fungos e micro-organismos decompõem a matéria orgânica e promovem a ciclagem de nutrientes. Esta atividade biológica contribui para a desagregação das rochas e influencia a estrutura e porosidade do solo. Por exemplo, os líquenes degradam as rochas quimicamente, vários animais escavadores abrem-lhes fendas e as raízes das plantas libertam compostos que promovem a dissolução dos minerais;
4. Topografia ou relevo
Elementos como a inclinação e a exposição (ao sol, chuva, vento) influenciam a acumulação ou perda das partículas que compõe o solo. Por exemplo, em encostas íngremes o solo é mais arrastado (mais afetado pela erosão), o que impede a sua acumulação e leva à constituição de solos menos profundos.
5. Tempo
O tempo de atuação dos vários fatores anteriores define a maturidade do solo. O solo recém-formado ou solo jovem é normalmente composto por sedimentos, ar e água, enquanto o solo mais maduro é enriquecido por matéria orgânica (restos de plantas e animais em decomposição). É a matéria orgânica que contribui para a formação das camadas ou horizontes mais superficiais do solo.

A formação do solo é um processo muito lento. São referidas, em média, taxas de formação de solo de 0,1 a 1 milímetro de espessura por ano. Isto significa que a formação de 20 centímetros de solo pode demorar entre 200 e 2000 anos.
Em contrapartida, a perda de solo por erosão faz-se a um ritmo muito mais acelerado. O tempo que demora a formação do solo e a relação entre estas perdas e ganhos justificam que o solo seja considerado um recurso não renovável à escala humana – impossível de repor ao mesmo ritmo a que se perde. Sendo fundamental à vida, é indispensável preservá-lo.
Refira-se que a ação humana pode igualmente ser considerada um dos fatores-chave da formação e perda do solo, fruto de atividades rurais que dependem diretamente deste recurso – como a agricultura e a silvicultura –, bem como da poluição e da urbanização que leva à impermeabilização dos solos, por exemplo.
Embora o planeta Terra tenha aproximadamente 4,6 mil milhões de anos, a formação do solo só começou há pouco mais de metade desse tempo: há cerca de 2,4 mil milhões de anos.
O processo de formação do solo, chamado pedogénese, só teve início quando as condições ambientais permitiram a interação entre a geosfera (parte sólida da Terra), a hidrosfera (a água, nas suas diversas formas), a atmosfera (gases que envolvem a Terra) e a biosfera (organismos vivos).
No início, a crosta terrestre era constituída por rochas, que foram sendo meteorizadas, ou seja, desintegradas física e quimicamente pela ação da água, vento, temperatura e gases atmosféricos. Isto deu origem a uma camada de rocha fragmentada e de minerais, mas sem material orgânico e sem estrutura. O solo verdadeiro só começou a formar-se quando a vida entrou em cena, primeiro com as bactérias e, mais tarde, com os líquenes e musgos.
Esse marco na história do planeta corresponde a um período de grandes mudanças, conhecido como o Evento da Grande Oxidação (Great Oxidation Event), um processo que transformou o ambiente e a vida na Terra: a intensa atividade de microrganismos fotossintéticos (as cianobactérias) aumentou substancialmente a disponibilidade de oxigénio na atmosfera, o que permitiu a diversificação das reações químicas e dos minerais.
Estas reações levaram a que elementos tóxicos (o arsénio, por exemplo) deixassem de estar biodisponíveis, e que outros, essenciais à vida como hoje a conhecemos (como o fósforo, o potássio e o azoto), passassem a estar disponíveis em maiores concentrações. Este processo criou as condições necessárias para a formação do solo, o que, por sua vez, tornou viável o crescimento das primeiras plantas terrestres.
Embora as condições estivessem estabelecidas, a formação do solo foi muito lenta e implicou milhares ou mesmo milhões de anos.
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