Portugal chegou a ser o segundo maior exportador de resina mundial, mas nas últimas décadas do século XX a extração de resina natural tornou-se numa atividade menos atrativa e conduziu ao seu quase abandono.
O aumento da concorrência de outros mercados (nomeadamente, da China), o aparecimento de produtos alternativos – como as resinas sintéticas –, as dificuldades em encontrar mão-de-obra devido ao êxodo rural e os incêndios florestais são algumas das razões que justificam este declínio.
Mas aquilo que parecia a morte anunciada de uma fileira, acabou por não se confirmar. Desde 2008 – ano em que produção de resina registou níveis mínimos históricos – o sector tem vindo a recuperar. Em 2020, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) a produção de resina nacional, à entrada da fábrica, ascendeu às 6310 toneladas, o que representa um crescimento de 12% face ao ano anterior. E segundo os indicadores da fileira do pinho existiam 209 operadores registados na atividade de extração e um total de 16 indústrias transformadoras que, em conjunto, contabilizavam 1500 postos de trabalho.
Dados mais recentes do Centro Pinus relativos às estatísticas de comércio internacional de 2021, mostram que as exportações portuguesas do sector de resina aumentaram 62% face ao ano anterior.
Mas como se justifica este crescente dinamismo de um subsector florestal que parecia votado ao esquecimento? Por um lado, a elevada cotação dos preços do petróleo nos mercados internacionais torna mais competitiva a fileira da resina natural, uma vez que alguns dos produtos concorrentes da resina dependem de combustíveis fósseis. Mas o grande impulso para a mudança de paradigma no sector da resina advém da necessidade crescente de substituir combustíveis fósseis por produtos alternativos de base biológica – criando oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos que estão alinhados com os princípios da bioeconomia, com a resina natural a valorizar-se como um produto renovável e sustentável.
Esta necessidade foi reconhecida no Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), na componente 12 – Bioeconomia Sustentável, havendo mais de 33 milhões de euros para o sector da resina, num pacote que procura fomentar o uso da resina natural como alternativa a materiais de base fóssil e desenvolver iniciativas para aumentar a sua produção através da gestão florestal.
Mas as vantagens do reforço da aposta neste subsector florestal não se esgotam nesta dimensão. O impacte da atividade da resinagem pode ser sentido em diversas vertentes: além de gerar emprego, permite também aumentar o valor dos pinhais e apoia a vigilância das florestas, contribuindo para minimizar o risco de incêndios.
Recorde-se que a substância viscosa, transparente, de cor amarela acastanhada – extraída sobretudo do pinheiro-bravo (Pinus pinaster) – está na base de muitos dos produtos que usamos no dia a dia e que os seus derivados têm dezenas de aplicações, desde as mais conhecidas, na produção de tintas e vernizes, à perfumaria e indústria farmacêutica. Após a recolha, a resina é sujeita a duas transformações:
- a primeira tem por objetivo a limpeza e a destilação, permitindo obter duas matérias-primas: essência de terebentina ou aguarrás (líquido volátil que representa 20% da resina) e colofónia ou pez (sólido não volátil que representa 80% da resina).
- a segunda transformação usa estes derivados no fabrico de outros produtos. A pez é uma importante matéria-prima para a indústria química (tintas para impressão, adesivos, pneus, cosmética, entre outras) e a aguarrás tem igualmente aplicação em múltiplas indústrias, inclusive como solvente e diluente (produtos de limpeza, desinfetantes, inseticidas, perfumaria, farmacêutica). Ambos os derivados são aplicados na produção de tintas e vernizes.
Fique a conhecer um pouco da realidade da atividade do resineiro neste vídeo, da autoria de Paulo Lucas.