Testemunhas vivas da capacidade adaptativa, abrigos de biodiversidade e elos importantes das múltiplas interações que ocorrem nos ecossistemas, as árvores antigas – de alguns séculos a milenares – desempenham um papel essencial no funcionamento e estabilidade das florestas. Um novo estudo científico defende o mapeamento e proteção destas árvores, assim como a sua propagação como forma de apoiar a regeneração e resiliência de ecossistemas sujeitos a perturbações.
Sabia que num carvalho antigo pode haver mais biodiversidade do que em mil carvalhos de cem anos? As árvores antigas são insubstituíveis testemunhos de história, adaptação e vida. Saber onde se localizam e protegê-las é essencial ao equilíbrio dos ecossistemas onde se encontram, enquanto propagá-las pode ser uma via para ajudar a restaurar áreas naturais em risco e sujeitas a perturbações.
Estas são ideias propostas pelo estudo Ancient trees: irreplaceable conservation resource for ecosystem restoration, publicado em finais de 2022, que afirma o valor insubstituível das árvores antigas e alerta para a necessidade de ser feito um esforço global para as descobrir, proteger e propagar antes que desapareçam.
Por árvores antigas entende-se árvores que já ultrapassaram a idade da maturidade habitual e são mais velhas que outras árvores da mesma espécie. A maioria destas árvores antigas encontram-se em florestas naturais, muitas vezes longe do contacto humano, mas há também exemplares e núcleos em áreas agroflorestais, rurais e até urbanas que importa igualmente preservar.
Sabe-se que estas árvores não morrem de velhice, mas sim por fragilidades causadas por agentes ou distúrbios externos, tenham eles origens biológicas, ambientais (como pragas, secas ou incêndios) ou nas atividades humanas. Ainda assim, o estudo afirma que estas árvores são mais resilientes a ataques de organismos patogénicos e a condições ambientais adversas.
Preservar as árvores antigas a nível mundial
Saber onde se encontram estas árvores e núcleos de arvoredo é um primeiro passo para as poder proteger. Por isso, essa é também uma das recomendações deste estudo que, defende duas grandes áreas de atuação para passar do papel à ação:
1. Conservar as árvores antigas identificadas, através de preservação do seu germoplasma e prosseguir com a sua propagação no contexto do restauro florestal. Árvores antigas estão duplamente em perigo, devido aos efeitos das alterações climáticas e também às práticas de desflorestação. “Uma vez cortada uma árvore antiga, perde-se para sempre o legado genético e fisiológico que contêm, além do seu habitat único para a conservação da natureza”, explicam os investigadores no documento;
2. Criar uma plataforma global de conservação, que, através de mapeamento e monitorização, apoie a conservação das florestas antigas. Este mapeamento à escala global será um dos grandes desafios deste projeto, para o qual será necessária a participação das comunidades através de uma aplicação dedicada. Mapear e monitorizar tanto as florestas antigas como estas árvores pode, então, ajudar a comprovar a sua eficácia e ajudar a proteger a sua integridade ecológica, declara-se no estudo. Este esforço já começou a ser feito em alguns países: no Canadá, na Bulgária ou no Reino Unido, por exemplo, onde este tipo de inventário é considerado importante, abrindo caminho para o seu alargamento a nível mundial.
Para que estas propostas sejam colocadas em prática, apela-se ainda à revisão da Convenção Sobre a Diversidade Biológica e da inclusão destas árvores no artigo 15.º, acrescentando o “mapeamento e monitorização das árvores como indicador-chave da eficácia das áreas protegidas em manter e restaurar a integridade da floresta, para um futuro sustentável”, lê-se no estudo.