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Bagão Félix

A árvore e a floresta

Todos os anos, a 21 de Março, celebra-se globalmente a Árvore e a Floresta. Se é certo que este tipo de efeméride acaba por ser pouco relevante pela atenção que suscita, este é um dos dias mundiais que deveria ser todos os dias do ano.

No dia 21 de Março celebrou-se o Dia Mundial da Árvore e da Floresta.

Não sou muito dado a estas efemérides. Não pelo significado que lhes está associado, mas pelo seu ritual quase mecânico que pouca atenção suscita.

Este, porém, é um dos dias mundiais que deveria ser todos os dias do ano.

Uma boa oportunidade para chamar a atenção da sociedade e dos governos  para a necessidade da protecção das árvores, florestas e biodiversidade.

A principal causa de desflorestação advém da acção humana. Cerca de 150 000 km2 de florestas desaparecem em cada ano. O equivalente a três Suíças!

As leis do mercado vêm prevalecendo inexoravelmente sobre as leis da Natureza. A evolução da “economia da terra” está sujeita a uma crescente cultura de indiferença. A política esquece-a pela sua pouca apetência eleitoral por cobrir uma população escassa e por esta não ter o “poder de rua” de outros.

A agricultura está moribunda, o défice agro-alimentar é elevadíssimo, a floresta descuidada, muitos espaços verdes em lenta agonia. Apesar de todos os discursos em contrário…

Também as estatísticas subestimam a árvore e a floresta. É o caso do PIB. O desenvolvimento não se esgota neste indicador, porque não toma em conta a apreciação ou a desvalorização dos recursos naturais.

O PIB considera apenas o que se produz, sem deduzir o passivo que resulta da depreciação ou destruição de bens naturais, como água, solos, arvoredos e florestas. Se isto fosse tomado em conta, a degradação da nossa floresta e a destruição da agricultura teriam provocado uma diminuição do PIB. O que, por certo, levaria a uma maior atenção a estes sectores, pois que deste modo os governantes se sentiriam mais escrutinados… para ver não apenas a “árvore” do momento, mas a “floresta” de sempre. Com sensibilidade e sentido geracional.

Abril de 2024

O Autor

António Bagão Félix é economista. Foi Ministro e Secretário de Estado em vários governos nas áreas das Finanças, Segurança Social e Trabalho. Foi conselheiro de Estado, vice-governador do Banco de Portugal, administrador nos seguros e na banca, presidente da Comissão Justiça e Paz e membro de órgãos sociais de várias Organizações Não Governamentais e Instituições Particulares de Solidariedade Social. Foi ainda condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

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