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19.06.2020

The State of the World’s Forests 2020: biodiversidade, floresta e agricultura

The State of the World’s Forests 2020: biodiversidade, floresta e agricultura

A expansão da agricultura continua a ser o principal motivo de desflorestação e degradação das florestas. O mais recente relatório The State of the World’s Forests atribui ao sector agrícola 73% da desflorestação a nível global, com um consequente declínio na biodiversidade. Uma maior sintonia entre os sistemas florestais e agrícolas é um dos caminhos identificados para que se possam alcançar os objetivos da biodiversidade e desenvolvimento sustentável.

Numa altura em que termina a década da Biodiversidade das Nações Unidas 2011-2020, a edição The State of the World´s Forests 2020 (SOFO) analisa a relação entre biodiversidade, floresta e agricultura, e destaca a necessidade de estabelecer novas estratégias para conciliar estas três vertentes essenciais à vida.

As florestas cobrem 31% da área do planeta e abrigam 80% das espécies de anfíbios, 75% dos pássaros e 68% dos mamíferos, lembra o relatório, e as florestas tropicais albergam 60% das plantas vasculares. A conservação da biodiversidade está, por isso, dependente da manutenção das florestas, que fazem também parte integrante da vida de milhões de pessoas.

As áreas de floresta e agricultura entrecruzam-se em vários graus – cerca de 40% da área agrícola global integra mais de 10% da superfície arborizada – e chegam até a sobrepor-se nos sistemas agroflorestais. No entanto, a dificuldade em reconhecer os benefícios que a floresta e os seus serviços do ecossistema prestam à agricultura tem originado opções de gestão que contribuem para a perda contínua da área florestal e da biodiversidade.

Alimentar a humanidade e ao mesmo tempo conservar e usar de forma sustentável os ecossistemas florestais são objetivos complementares e interdependentes. Neste sentido, além de conciliar a conservação da biodiversidade e o uso responsável das florestas, é fundamental ter em conta a necessidade de transformar os nossos sistemas de produção de alimentos.

Esta é uma das principais ideias a reter do The State of the World’s Forests 2020. Forests, Biodiversity and People, o relatório publicado no final de maio pela Organização das Nações Unidas (ONU) – através dos seus programas para o ambiente (UNAP) e para a agricultura e alimentação (FAO) – sobre a situação das florestas mundiais, que deixa também outro alerta: a desflorestação e a degradação da floresta mantêm-se a taxas alarmantes.

Estima-se que 420 milhões de hectares se tenham perdido nestes 30 anos devido a alterações do uso do solo. A perda de floresta primária foi calculada em mais de 80 milhões de hectares no mesmo período.

Apesar das más notícias, o ritmo de perda tem abrandado. Entre 2015 e 2020, a taxa de desflorestação foi estimada em 10 milhões de hectares anuais, abaixo dos 16 milhões de hectares anuais em 1990.

Ainda assim, o mundo continua muito longe do caminho certo para atingir a meta do Plano Estratégico das Florestas das Nações Unidas: aumentar a área florestal mundial em 3% até 2030, sublinham as mensagens-chave do The State of the World’s Forests 2020. Em paralelo, o reduzido aumento da gestão sustentável registado em áreas de agricultura e floresta (e também de aquacultura) contribuiu para falhar algumas metas da biodiversidade traçada para 2020 – a meta de biodiversidade 7, de Aichi – muito embora o documento realce os progressos feitos em termos de gestão florestal sustentável.

 

Floresta reforça biodiversidade, produtividade e resiliência

As florestas têm níveis de biodiversidade muito mais elevados do que os campos agrícolas. Por isso, os ecossistemas florestais contribuem positivamente para a produtividade e resiliência dos sistemas agrícolas próximos, refere o relatório, que inúmera um vasto conjunto de outros contributos positivos:

– estima-se que 75% da água potável venha de bacias hidrográficas florestadas;

– são reservatórios de variantes silvestres de espécies cultivadas que podem complementar as características das espécies domesticadas;

– sob gestão sustentável, podem minimizar perdas agrícolas relacionadas com a erosão do solo, deslizamento de terras e cheias;

– as matérias-primas de base florestal – por exemplo forragem, fibras e outras matérias orgânicas –, permitem reduzir custos e outas externalidades negativas relacionadas com a produção e o transporte destes materiais com origem em locais mais distantes;

– a polinização proveniente das muitas espécies que habitam as florestas é central à agricultura, já que cerca 35% do volume de alimentos produzidos a nível global beneficiam da polinização animal, entre os quais frutos, vegetais e cereais.

 

Mais sustentabilidade: conciliar floresta e agricultura

Esta relação entre floresta e agricultura não é, no entanto, recíproca. Em boa parte, devido à pressão de alimentar uma população mundial em forte crescimento, o que condiciona a sustentabilidade da agricultura, tornando o seu crescimento e as suas práticas em ameaças à floresta.

O sector agrícola é responsável por 73% da desflorestação em todo o mundo (o que leva a um sério declínio na biodiversidade, focado no capítulo 6 do relatório). O fracasso em reconhecer os reais benefícios das florestas e dos serviços florestais para a agricultura, inclusive para a biodiversidade, levou a escolhas de gestão que afetam negativamente a biodiversidade e resultam em perdas ainda mais amplas.

O cruzamento entre floresta e agricultura – tanto pela arborização de paisagens agrícolas, como pelo cultivo em paisagens florestais – otimiza a relação entre floresta, agricultura e biodiversidade, pelo que o foco nas abordagens à escala da paisagem (integrando agricultura e floresta) são uma recomendação fundamental das Nações Unidas. Em paralelo, a silvicultura responsável tem um papel essencial na conservação da biodiversidade.

O progresso na prevenção da extinção de espécies ameaçadas e na melhoria do seu estado de conservação tem sido lento, alerta o The State of the World’s Forests 2020, referindo que a recuperação florestal em larga escala é necessária para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e para prevenir, interromper e reverter a perda de biodiversidade.

O documento lembra ainda que a saúde e bem-estar humanos estão intimamente associados às florestas, destacando – entre outros dados – que providenciam mais de 86 milhões de empregos e que quase mil milhões de pessoas dependem da floresta como fonte de energia e de alimento.