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Filipe Louro

Inventário florestal: quanta madeira tenho na minha mata?

Quanta madeira tenho na minha mata? Esta é uma questão presente na mente de cada proprietário florestal e a quantificação de uma produção é um aspeto central para qualquer produtor, seja qual for o sector onde atua. Calcular o volume de madeira é hoje mais fácil com graças às novas ferramentas e tecnologias de inventário florestal que apoiam o processo.

Ao longo de um ciclo, a inventariação de um povoamento florestal é uma ação importante para que se façam escolhas informadas. O volume de madeira de um povoamento, e consequentemente a sua produtividade, são dados relevantes para a gestão sustentável, permitindo adaptar planos de silvicultura e tomar decisões informadas, por exemplo, sobre ações como a fertilização, o controlo de vegetação espontânea e, em última instância, sobre o momento de exploração da mata.

Nessa altura, é crítico para o proprietário florestal conhecer o volume presente na sua propriedade para que possa negociar de forma informada a venda da madeira.

A realização de inventário florestal é uma prática que permite aferir o estado produtivo e fitossanitário de um povoamento florestal. Em Portugal, é um tema que tem sido estudado de forma aprofundada por diversas instituições de investigação e ensino nas últimas décadas. Têm sido desenvolvidos modelos de volume e crescimento para as principais culturas florestais de produção que nos permitem obter estimativas cada vez mais exatas e precisas.

Em primeiro lugar, é importante conhecer a área da propriedade efetivamente ocupada pelo povoamento florestal. É essencial identificar os limites, a orografia e também a ocupação: Que culturas tenho? São povoamentos puros ou mistos? Foram plantados em que data? Este é o primeiro passo para definir um plano de amostragem, que estabelece a quantidade e o tamanho das parcelas a amostrar.

De um modo geral, em Portugal, para povoamentos regulares, são instaladas parcelas de inventário circulares, com áreas entre os 400 m2 e os 500 m2 (com as exceções de povoamentos com densidade tipicamente mais baixa, como o sobreiro e a azinheira, que implicam a utilização de parcelas de 2000 m2). Para que as amostras sejam representativas do povoamento é preciso analisar a propriedade. Embora se possa moderar a amostragem no caso de terrenos mais planos e homogéneos, em terrenos heterogéneos e com orografia mais acentuada é aconselhável que a amostragem seja superior, com pelo menos uma a duas parcelas por hectare.

Depois, cada uma das parcelas definidas tem de ser avaliada. Tradicionalmente, medem-se os diâmetros à altura do peito (a 1,3 metros do solo) de cada uma das árvores, com suta ou fita de diâmetros, e são também medidas as alturas das árvores dominantes (as de maior diâmetro), com recurso a um hipsómetro.

Em paralelo, são também registadas as informações relevantes para aferir o vigor e a fitossanidade do povoamento. Identificam-se as plantas doentes, tortas, mortas ou com conformações atípicas.

Todos estes dados são depois utilizados para, em conjunto com os modelos reconhecidos, estimar qual o volume atual da parcela (e do povoamento), podendo ainda ser realizadas previsões para o volume de madeira nos próximos anos.

É importante para qualquer produtor conseguir quantificar a sua produção, e não deveria ser diferente na floresta. Todos nós conhecemos alguém que, com o seu olho afinado, consegue “adivinhar” o volume de madeira de um povoamento florestal, mas temos hoje outras opções, desenvolvidas para inventário florestal, que nos permitem obter estimativas isentas e precisas com “quase” a mesma rapidez. Saber aquilo que se tem é o ponto de partida para produzir mais e melhor!

Filipe Louro - soluções de inventário florestal para calcular quantidade de madeira em pé

Soluções inovadoras para inventário florestal

A realização de inventário florestal pode parecer um processo complexo, mas com o passar do tempo e com os recentes avanços em tecnologia temos acesso a cada vez mais ferramentas que simplificam o processo.

Pode sempre pedir ajuda. Contacte a associação florestal ou o grupo de certificação da sua região, eles terão certamente ferramentas para o ajudar. Muitos destas organizações têm capacidade interna para realizar consigo este tipo de avaliação ou poderão encaminhá-lo e ajudá-lo a entrar em contacto com prestadores de serviço que o realizem. Pode também contactar o programa Premium, da The Navigator Company, para uma consulta sem compromisso (premiumflorestal@thenavigatorcompany.com).

Recentemente, têm surgido ferramentas que auxiliam este processo. Novas aplicações para smartphone fazem uso dos crescentes avanços tecnológicos para este fim. Uma destas aplicações que tem demonstrado bons resultados é a Arboreal Forest.

A Arboreal Forest utiliza os sensores LiDAR do iPhone Pro para medir os diâmetros das árvores com elevada exatidão e as câmaras para estimar as respetivas alturas com recurso a fotogrametria. Faz uso da antena GNSS interna para georreferenciar cada parcela e cada árvore e utiliza Realidade Aumentada para auxiliar o processo de avaliação da parcela, impedindo que o utilizador avalie árvores que não estão dentro da parcela. Este software está já, capacitado com modelos de volume para as culturas portuguesas e calcula em segundos qual o volume bruto e sólido presente em cada parcela e em cada povoamento. Estima até a massa de CO2 armazenada.

Outubro de 2024

O Autor

Mestre em Ecologia, Filipe Louro é especialista em Inovação e Desenvolvimento Florestal na The Navigator Company. Através da sua experiência em projetos relacionados com ecofisiologia, nutrição, produtividade florestal e técnicas inovadoras de silvicultura, desenvolveu competências em biometria florestal, deteção remota, modelação, estatística e mineração de dados. Estes conhecimentos foram complementados recentemente com uma Pós-Graduação em Ciência de Dados Geoespaciais.

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