José Moreira da Silva deixou-nos obras suas nestes dois domínios:
– No âmbito da protecção e valorização da floresta, no contexto do clima mediterrânico e num Portugal em pleno período de crescente desertificação do mundo rural, a obra maior incidiu sobre a prevenção e supressão dos incêndios florestais;
– No domínio da conservação da natureza, deixou uma pegada indelével na criação e gestão do primeiro – e ainda único – Parque Nacional, o da Peneda Gerês.
Em ambas as vertentes a sua capacidade de estudar e compreender a complexidade dos problemas que enfrentava, a sua autoridade inata, humana e moral, para formar e liderar equipas e o caracter tantas vezes inovador e precursor (em Portugal e na região mediterrânica) das suas propostas e intervenções concretas ainda constituem hoje uma notabilíssima fonte de inspiração e exemplo para quem dedica a sua vida à floresta portuguesa.
A sua especial atenção recaiu sobre o pinheiro-bravo, nomeadamente no que respeita à selecção, recolha e germinação de sementes de qualidade (o que determinou a criação do Centro Nacional de Sementes Florestais, em Amarante).
Nos apelos para a melhoria da gestão do pinhal privado instalado (contrariando, por vezes, os “ventos dominantes” que insistiam em plantar mais e mais áreas de pinhal que não seriam depois objecto de apoios para a sua gestão e proteção…), sempre insistiu na indispensabilidade da existência de espaços florestais com escala que permitissem os ganhos de volume e valor que (ainda hoje) podem ser efectivamente alcançados nos povoamentos de pinheiro-bravo já instalados.
A constituição, pioneira, de Florestais-Sapadores em matas públicas (que depois evoluíram para Sapadores Florestais nos espaços privados), a aplicação cuidada do fogo controlado como forma de reduzir a massa combustível do sub-coberto presente nos estios – quando ainda prevalecia um pouco por todo o mundo a tese americana do Smokey Bear e a prioridade da proibição da chama no interior das massas florestais –, são exemplos relevantes do trabalho de José Moreira da Silva.
Foi um homem de princípios, de coragem e de saber, pouco disposto a compromissos de ocasião. Isso ter-lhe-á valido injustiças e dissabores pessoais e profissionais, mas o seu continuado labor nos Serviços Florestais permitiu-lhe fazer escola e ensinar a quem quis aprender.
Terminou, coerentemente, a sua obra com a criação, estruturação e dignificação do movimento associativo florestal do Norte e Centro do País, com a fundação da Forestis (em 1992) – em busca da escala que sempre defendeu – e mostrando, pelo exemplo, que os produtores florestais não têm de ser um complemento da agricultura, um escravo das Indústrias Florestais ou um servo dos pseudo-ambientalistas urbanos, mas o esteio de um importantíssimo “cluster” florestal que se quer ver fortalecido, e podem – e querem, cada vez mais – ter um papel activo na formulação e fiscalização das políticas públicas que se articulam com a floresta.