Quando o outono se anuncia, os cachos de medronho, já encarniçados, indicam que a apanha está para breve. É assim em praticamente todos os países do mediterrâneo onde o medronheiro cresce naturalmente e onde a apanha – e transformação – são costumes antigos. Em Portugal, a aguardente de medronho é a aplicação tradicional por excelência.
Quem viaja pelas serras algarvias do Caldeirão e Monchique, e também pelas do centro do país, não terá dificuldade em avistar os medronheiros (Arbutus unedo) coloridos pelos frutos maduros e encontrará também as destilarias, muitas delas renovadas, mas onde a arte da produção da aguardente se perde no tempo.
Embora menos comuns, os rituais da apanha e da produção artesanal, muitas vezes feitos em conjunto pelas comunidades, ainda se mantêm vivos. Em Marmelete, Monchique, o projeto Casa do Medronho nasceu para os preservar, com a criação de uma destilaria típica e comunitária, onde se desvendam os segredos da produção e se degusta a aguardente.
O mesmo projeto criou o Roteiro do Medronho, que percorre várias destilarias na freguesia e convida os visitantes a participar na apanha e fabrico de aguardente em workshops promovidos com os produtores locais. Esta é também uma oportunidade para saborear o fruto fresco, que nas cidades poucos terão provado, mas que tem despertado interesse crescente.
Tanto no sul como no centro, existem Confrarias do Medronho, também com o objetivo de defender e valorizar a cultura do medronheiro, a produção do medronho e dos seus produtos. Em ambas as regiões, há várias outras aplicações culinárias tradicionais, como é o caso da melosa, bebida que junta aguardente de medronho e mel, dos bolinhos secos com aguardente de medronho (borrachões) ou da compota feita com o fruto maduro.