Sabia-se que, sob certas condições, as árvores podem emitir quantidades substanciais do metano que é produzido no solo. Isto foi verificado em árvores maduras localizadas em solos saturados – na Amazónia, por exemplo, as árvores em zonas inundadas são a maior fonte de emissões da região.
No entanto, em árvores de climas temperados e na casca de outras em zonas húmidas tropicais foram identificadas bactérias que utilizam metano (e o consomem), reduzindo por esta via a libertação deste gás.
Estas evidências levantaram a possibilidade de que as árvores tivessem a capacidade de atuar como sumidouros (internos) para o metano que, de outra forma, seria emitido, mas também como sumidouros líquidos de metano atmosférico em locais onde a produção de metano no solo é mais limitada pela menor quantidade de humidade (solos não inundados).
Saber como é que as florestas removem metano e qual o seu contributo foi o ponto de partida para este estudo, que levou os investigadores a diferentes florestas para medir as trocas de metano entre as superfícies lenhosas das árvores e a atmosfera. A escolha de diferentes biomas – florestas tropicais (Amazónia e Panamá), florestas temperadas (Wytham Woods, Reino Unido) e florestas boreais (Suécia) – permitiu observar a variação na absorção de metano em diferentes condições climáticas e ambientais.
Uma das metodologias usadas envolveu a instalação de dispositivos de medição para registar a quantidade de metano absorvido ou emitido em várias partes das árvores e a diferentes alturas, desde o solo até vários metros acima deste. Esta análise vertical permitiu determinar os locais onde ocorriam emissões e absorções, tendo-se verificado emissão nas superfícies próximas do solo e absorção de metano nas áreas superiores dos troncos e ramos.
Em diferentes biomas, as alturas em que as árvores passam de emissoras a sumidouros varia e observam-se igualmente variações consoante os níveis de humidade presentes no solo, mas existem padrões gerais. “Constatámos que a absorção de metano nas superfícies lenhosas, em particular a partir dos dois metros acima do solo da floresta, pode ser o fator mais relevante da contribuição total das árvores para o balanço de metano do ecossistema, convertendo-as em sumidouros de metano”, refere o artigo.
Quer isto dizer que a absorção de metano pelas superfícies lenhosas mais elevadas é tão significativa que se sobrepõe a outros processos, como a emissão de metano ao nível do solo, e transforma as árvores num sumidouro líquido, comprovando que as florestas removem metano da atmosfera.
Com base nos dados das medições das trocas de metano e noutra das metodologias aplicadas – a varredura laser para quantificação da superfície lenhosa das árvores –, os investigadores fizeram os cálculos preliminares que sugerem que as árvores, globalmente, podem absorver entre 24,6 e 49,9 milhões de toneladas de metano por ano.
Esta quantidade não está equitativamente distribuída por todos os biomas: é mais elevada nas florestas tropicais (provavelmente, por terem condições de humidade e temperatura que favorecem os microrganismos), e menor nas boreais. Em média, torna as árvores 10% mais benéficas para o clima do que se pensava anteriormente.
Refira-se que os investigadores também se focaram na análise dos microrganismos presentes nas superfícies lenhosas das árvores, que são responsáveis pela absorção do metano.
Estas bactérias, que já se sabia estarem presentes no solo e em cursos de água, são também encontradas nas superfícies lenhosas elevadas – troncos e ramos – onde vivem em simbiose com as árvores. Ali absorvem o metano e oxidam-no. É por esta via que reduzem a presença deste gás, sendo, por isso, auxiliares no combate às alterações climáticas.