A mais recente edição da Cultivar – Cadernos de Análise e Prospetiva é dedicada ao tema dos sistemas agroflorestais, refletindo sobre as suas especificidades, importância nacional, enquadramento histórico e tendências. Os Cadernos Cultivar são uma publicação do GPP – Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral, organismo público que apoia as políticas do Ministério da Agricultura e do Ministério do Mar.
Representando ocupações mistas do solo, em que diferentes espécies florestais se associam a atividades agrícolas e/ou pastorícias, os sistemas agroflorestais “têm vindo nas últimas décadas a assumir uma importância crescente na ocupação do território de Portugal Continental”, como pode ser lido na última edição dos Cadernos Cultivar. Os montados de sobro e azinho nas planícies alentejanas são o exemplo mais emblemático destes sistemas, mas estão longe de ser caso único: de norte a sul, existem sistemas agroflorestais sob coberto de carvalhos, castanheiros, pinhais ou oliveiras, entre outros.
É a importância dos sistemas agroflorestais – em dimensão, mas sobretudo em termos de biodiversidade, serviços ambientais e geração de valor e emprego locais – e também as suas vulnerabilidades, que tornam particularmente relevante este n.º 21 dos Cadernos Cultivar (publicado em dezembro 2020 e divulgado em janeiro 2021). As 114 páginas desta edição são dedicadas na íntegra aos sistemas agroflorestais, com uma abordagem dividida em três grandes secções: “Grandes Tendências”, “Observatório” e “Leituras”.
A secção “Grandes Tendências” reúne conhecimento sobre as características, contexto histórico e potencial de inovação e evolução nos sistemas agroflorestais, incluindo até um olhar sobre a dehesa (o “montado espanhol”), que permite comparar os sistemas agroflorestais dois países vizinhos. Os contributos são de Joana Amaral Paulo (ISA/UL); Henrique Pereira dos Santos (arquiteto paisagista); Francisco Avillez, Miguel Vieira Lopes e Gonçalo Vale (Agro.Ges); e Rufino Acosta Naranjo e José Ramón Guzmán Álvarez (Universidade de Sevilha).
Se a primeira secção faz a ponte entre a história e as tendências de futuro dos sistemas agroflorestais, o “Observatório” olha para o presente destas áreas – tanto do ponto de vista geográfico, como do valor económico, passando pela relação entre estes sistemas e as políticas europeias, nomeadamente a Política Agrícola Comum (PAC). De realçar, a propósito, que esta edição da Cultivar surge num contexto europeu de revisão da PAC para 2023, o que pode ser “uma oportunidade para valorizar a gestão sustentável dos sistemas de uso integrado do solo”, segundo o próprio GPP.
A secção do Observatório apresenta ainda dois exemplos concretos de sistemas agroflorestais, que podem ser vistos como casos de estudo: a Herdade da Machoqueira do Grou (Coruche) e o sistema agrossilvopastoril do Barroso (Alto Tâmega). O Observatório conta com contributos de Joaquim Cabral Rolo (INIAV); António Alberto Gonçalves Ferreira (ISA / UL) e António Gonçalves Ferreira (UTAD); Rui Trindade (GPP); Teresa Pinto-Correia e Élia Pires-Marques (MED / UÉ); Artur Cristóvão (UTAD), António Montalvão Machado (ADRAT) e António Cerca Miguel (GPP); e João Marques (GPP).
Por fim, a secção “Leituras” abre caminho a um maior conhecimento sobre os sistemas agroflorestais propondo duas obras incontornáveis (Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, de Orlando Ribeiro com 1ª edição em 1945, e Subericultura, obra de 1950 de Joaquim Vieira Natividade), a par de uma análise ao documento do Parlamento Europeu Agroforestry in the European Union.
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De acordo com as atividades praticadas, os sistemas agroflorestais podem ser divididos em sistemas agrossilvícolas, sistemas silvopastoris e sistemas agrossilvopastoris. O que define estes sistemas é a co-existência de uma ocupação lenhosa (árvores ou arbustos) com uma outra utilização do solo: agricultura ou pastagens, podendo ou não haver animais.
Dada a complexidade e os diferentes usos em cada área agroflorestal, a sua contabilização rigorosa nos levantamentos oficiais de uso de solo pode ser um desafio. Olhando para a Carta de Ocupação e Uso do Solo 2018, disponibilizada pela Direção-Geral do Território em 2020, a sua distribuição incide nos 716 mil hectares (8% do território de Portugal Continental) atribuídos à megaclasse “Sistemas agroflorestais” a somar, de forma geral, aos 821 mil hectares de floresta de sobreiro e azinheira da megaclasse “Floresta” (9% do território). Um valor total em linha com o levantamento do projeto europeu CORINE Land Cover (CLC), que também aponta para 17% de território continental alocado à classe “Sistemas Agroflorestais”. É no Alentejo que se concentra a maior área de sistemas agroflorestais nacionais, pela predominância de montados de sobro e azinho, embora outros sistemas agroflorestais estejam também presentes no centro e norte do país, como os lameiros, os pomares cultivados ou os soutos e carvalhais pastoreados.
Com uma primeira edição lançada em 2015, os Cadernos Cultivar marcam assim o seu sexto ano de atividade enquanto publicação estratégica para aprofundar e debater os grandes temas de políticas públicas para o desenvolvimento rural, a agricultura e a alimentação.
De periodicidade trimestral, cada edição é dedicada a um tema específico. A edição nº 1 foi dedicada à “Volatilidade dos Mercados Agrícolas” e, desde então, os temas têm sido tão variados como “Solo”, “Biodiversidade”, “Alterações Climáticas”, “Eucalipto”, “Bioeconomia” ou este último “Sistemas Agroflorestais”.
Todas as edições dos Cadernos Cultivar estão disponíveis online, de forma gratuita.