“Restauro florestal: um caminho para a recuperação e bem-estar” é o tema escolhido pela FAO – Organização da Alimentação e Agricultura das Nações Unidas para assinalar do Dia Internacional das Florestas 2021, que se celebra a 21 de março. A data alerta para a urgência de travar a degradação e perda da floresta, que pode comprometer o futuro sustentável da vida no planeta.
Há poucos recursos com tanto valor e que sejam transversais a tantas áreas. As florestas são os ecossistemas terrestres com maior diversidade biológica no planeta, lar de cerca de 80% das espécies de anfíbios, 75% das aves, 68% dos mamíferos e uma fonte inestimável para a subsistência de cerca de 2,4 mil milhões de pessoas em todo o mundo, que dela dependem para confecionar alimentos e obter água potável, lembra a FAO no State of the Word’s Forests 2020 (SOFO 2020).
Globalmente, as florestas ocupam quase 31% da superfície do solo do planeta. Por outras palavras, por cada pessoa existem cerca de 0,52 hectares de florestas, segundo as contas da FAO – Organização da Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, no seu Global Forest Resources Assessment 2020 (FRA 2020). Em Portugal, a floresta cobre mais de um terço do país, estendendo-se por 3,3 milhões de hectares, de acordo com o 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6 2015), uma proporção semelhante à da floresta europeia que, com 227 milhões de hectares cobre, segundo o State of Forest Europe 2020, 35% do solo no “Velho Continente”.
Com esta expressão, as florestas servem de base a uma importante fatia da economia mundial, europeia e nacional, e providenciam serviços vitais, como a conservação da biodiversidade, o sequestro e armazenamento de carbono, a prevenção da erosão do solo e a qualidade dos recursos hídricos.
Mas as florestas enfrentam desafios sem precedentes, muitos deles causados pela intervenção humana. Basta pensar que, todos os anos, o mundo perde cerca de 10 milhões de hectares de florestas, uma extensão superior à da Islândia, e que cerca de 12% da superfície terrestre se encontra degradada – o equivalente a 2 mil milhões de hectares (uma área superior à da América do Sul), destaca a FAO nas mensagens do Dia Internacional das Florestas 2021.
Em plena Década das Nações Unidas para a Recuperação dos Ecossistemas, a FAO elegeu, por isso, para assinalar o Dia Internacional das Florestas 2021, o tema “Restauro florestal – um caminho para a recuperação e bem-estar”, que considera um processo chave para a recuperação da funcionalidade ecológica e melhoria do bem-estar humano em paisagens desflorestadas ou degradadas. Este é um tema que ganha atualidade, já que a epidemia da Covid-19 colocou em evidência a necessidade de conservar e usar a natureza de forma sustentável, reconhecendo que a saúde das populações está intrinsecamente ligada à saúde dos ecossistemas.
Recorde-se que mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem em áreas degradadas, de acordo com o guia “A Road to Restoration”, desenvolvido pela FAO, juntamente com o World Resources Institute. Este guia, que inclui os objetivos e indicadores a monitorizar para compreender o progresso ao nível da recuperação das florestas e paisagens, salienta que o restauro é fundamental a um nível internacional e refere que, desde setembro de 2019, governos um pouco por todo o mundo se comprometeram a restaurar mais de 170,6 milhões de hectares.
A degradação da floresta e de outros ecossistemas marinhos e terrestres afeta de modo relevante o bem-estar de 3,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo, alerta também o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), e tem associado um custo anual de cerca de 10% do valor bruto de tudo o que produzimos no planeta, se tivermos em conta a perda de espécies e de serviços dos ecossistemas essenciais para a alimentação, agricultura ou aprovisionamento de água doce.
As consequências do recuo e degradação das florestas estendem-se a muitas outras ameaças, como as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. Pelo menos 8% das espécies florestais e 5% dos animais das florestas estão já identificados com risco elevado de extinção, alerta a FAO.
O restauro e a gestão sustentável das florestas são, assim, identificados neste Dia Internacional das Florestas 2021 como uma estratégia crítica para enfrentar os desafios do nosso tempo, em linha com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, para melhorar a segurança alimentar global e o acesso à água potável, travar a erosão do solo, as alterações climáticas, a perda de biodiversidade e a desertificação.
Veja aqui o vídeo (em inglês) e a imagem (abaixo) criados pela FAO para assinalar este Dia Internacional das Florestas 2021.
Foi em 2012 que as Nações Unidas declararam o 21 de março como o Dia Internacional das Florestas e encorajaram os Estados Membros a organizar atividades a nível local, nacional ou internacional relacionadas, por exemplo, com a plantação de árvores e a promoção de atividades artísticas, como a fotografia e vídeo, para que os cidadãos tomem consciência da importância das florestas e do seu papel vital na erradicação da pobreza, na sustentabilidade ambiental e na segurança alimentar.
Em Portugal, as primeiras comemorações dedicadas à Árvore e à Floresta tiveram origem muito antes, com a Festa da Árvore, promovida no Seixal pela então Liga Nacional de Instrução, no dia 26 de maio de 1907, desvenda a publicação “Da Festa da Árvore ao Dia Mundial da Floresta”.
Por todo o mundo, dezenas de países tinham, em meados do século XX, os seus dias ou semanas dedicados às árvores e florestas. Contudo, apenas em 1971 os Estados Membros da FAO apoiaram a criação de uma efeméride global comum – o Dia Mundial das Florestas. A proposta apresentada sugeriu que a efeméride se assinalasse a 21 de março, data que coincide com o início da primavera (no hemisfério norte) e em que se celebra também o Dia Mundial da Árvore.
Recorde aqui as origens da Festa da Árvore e do Dia Internacional das Florestas, em Portugal.
florestas no mundo, de acordo com o Global Forest Resources Assessment (FRA) 2020:
• As florestas mundiais ocupam o equivalente a 4,06 mil milhões de hectares.
• Mais de metade das florestas em todo o mundo (54%) estão localizadas em apenas cinco países: Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos da América e China. A Rússia ocupa o primeiro lugar dos países com maior extensão de florestas, com 815 milhões de hectares.
• O mundo perdeu 178 milhões de hectares de floresta desde 1990, mas a taxa de perda de floresta tem vindo a diminuir. A taxa média de perda líquida anual de floresta diminuiu de 7,8 milhões de hectares na década 1990–2000 para 5,2 milhões de hectares em 2000–2010 e, mais recentemente, para 4,7 milhões de hectares, entre 2010-2020.
• Entre 2010 e 2020, África apresentou a maior taxa anual de perda líquida de floresta, com 3,9 milhões de hectares, seguida pela América do Sul, com 2,6 milhões de hectares.
• Cerca de dez por cento das florestas do mundo tem a finalidade de conservação da biodiversidade.
florestas na Europa, segundo o State of Forest Europe 2020:
• A floresta europeia (exceto na Rússia) continuou a aumentar, mas a uma taxa inferior ao que vinha a acontecer em anos anteriores.
• A deterioração continua a ocorrer, com aumento da desfoliação média das principais espécies de árvores florestais.
• Cerca de 3% das florestas acusam danos provocados pelo vento, insetos, pastagem e incêndios florestais. Estas pressões estão a aumentar devido a fenómenos climatéricos extremos, incêndios e pragas.
• Apesar da redução da poluição, as florestas continuam expostas a níveis excessivos de deposição de azoto e ozono troposférico.
• Nos últimos 20 anos, a área de floresta designada para conservação da biodiversidade aumentou em 65%. Representa atualmente 15% de todas as florestas na Europa (3 milhões de hectares). Isto terá ajudado a manter estáveis as populações de várias espécies, como é o caso das aves.
florestas em Portugal, como revela o 6.º Inventário Florestal Nacional (2019 com dados de 2015):
• A floresta ampliou a sua área em todas as regiões continentais entre 2005 e 2015, exceto no Alentejo, reforçando-se como a principal ocupação do solo a nível nacional.
• 9% dos povoamentos florestais estão em mau estado de vitalidade e 5% em estado razoável. Os danos nas copas por desfoliação e descoloração atingem 96% das árvores da nossa floresta, embora apenas 4% sejam considerados graves.
• Na Rede Nacional de Áreas Protegidas, os grupos de árvores mais representadas são o pinheiro-bravo (51,2 mil hectares), a azinheira (25,1 mil hectares), as “outras folhosas” (22,5 mil hectares), os eucaliptos (18 mil hectares) e o pinheiro-manso (16,4 mil hectares).
• A região Centro é a que mais contribui para o carbono armazenado nas florestas de Portugal continental, seguindo-se o Alentejo e o Norte.
• Até na região metropolitana de Lisboa, temos mais floresta (22%) do que áreas urbanizadas (20,8%).