Desde 2014 que o Dia Mundial do Solo se celebra anualmente a 5 de dezembro. Este ano há mais uma razão para o assinalar: a recente apresentação da Estratégia de Proteção do Solo da UE, que vem estabelecer um quadro de objetivos e medidas para a proteção, recuperação e utilização sustentável dos solos até 2050.
Estima-se que cerca de 95% da nossa alimentação é direta ou indiretamente produzida nos solos, que acolhem mais de 25% da biodiversidade do planeta e são o maior reservatório terrestre de carbono do planeta. Todavia, cerca de 60 a 70% dos solos da União Europeia (UE) não estão em bom estado e encontram-se sujeitos a processos de degradação. É este cenário que a Comissão Europeia quer agora travar através da Estratégia de Proteção do Solo da UE, apresentada dias antes da data em que se assinala o Dia Mundial do Solo – 5 de dezembro.
A nova estratégia enumera uma mão cheia de medidas para combater a desertificação, aumentar o carbono no solo, reduzir a poluição, recuperar solos degradados e contribuir para que, até 2050, os ecossistemas do solo estejam em bom estado ecológico. Entre os objetivos que define, salienta-se que o sector do solo, suas alterações de uso e floresta (LULUFC – Land Use, Land Use Change and Forestry) tem traçada a ambição de remover 310 milhões de toneladas de gases com efeitos de estufa com equivalência a CO2 em 2030.
De recordar que, nos últimos 30 anos, o valor das remoções do sector LULUCF tem andado perto dos 300 milhões de toneladas, tendo o valor mais elevado sido atingido em 1999, – 340,9 milhões de toneladas de CO2 equivalente.
Emissões e remoções do sector LULUCF na UE, por categorias principais de uso do solo
Fonte: European Environment Agency
Mas, mais do que traçar objetivos, a presente estratégia vem abrir caminho para que o solo beneficie do mesmo nível de proteção legal já concedido à água, ao meio marinho e ao ar na UE. Até agora, a falta de legislação específica era um dos argumentos apontados para o estado dos nossos solos. Esta é uma lacuna que a Comissão irá colmatar com a apresentação, até 2023, de um novo pacote legislativo sobre a saúde dos solos que permitirá concretizar os objetivos da atual Estratégia de Proteção do Solo da UE.
Através da Estratégia de Proteção do Solo da UE, a Comissão apresenta instrumentos em torno de quatro grandes desafios do nosso tempo – mitigação e adaptação aos efeitos das alterações climáticas, economia circular, biodiversidade e recursos hídricos – para repor a saúde dos solos europeus e ir ao encontro de alguns dos principais objetivos do Pacto Ecológico Europeu e da Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030. Conheça algumas das ações propostas:
• Promoção de práticas específicas de gestão sustentável do solo para prevenir a desertificação, nomeadamente através da plantação de árvores que geram sombra e de espécies adaptadas a condições de seca. Refira-se, neste âmbito, que Portugal é um dos sete países europeus onde a desertificação, catalisada pelas alterações climáticas, é mais preocupante;
• Lançamento de uma iniciativa de fixação de carbono nos solos agrícolas e adesão à iniciativa global “4 por 1 000”, que visa aumentar o teor de carbono orgânico do solo nas terras agrícolas;
• Promoção de uma gestão sustentável do solo por meio da Política Agrícola Comum e da partilha de boas práticas. Com o mote “teste o seu solo gratuitamente”, a Comissão ajudará os Estados-Membros no lançamento de uma iniciativa que permitirá aos agricultores ou silvicultores conhecerem melhor a saúde dos seus solos;
• Criação de um “passaporte para solos escavados” que deve refletir a quantidade e qualidade do solo removido, para garantir que é transportado, tratado ou reutilizado com segurança em outro lugar;
• Aplicação de uma hierarquia que fomente a utilização circular das terras, contribuindo para garantir que, no futuro, permanecerá disponível uma quantidade suficiente de terras para a produção alimentar;
• Definição de objetivos vinculativos para travar a drenagem de zonas húmidas e solos orgânicos e para recuperar as turfeiras, o que, por si só, reduziria significativamente as emissões de CO2, com benefícios para a natureza, a biodiversidade e a proteção dos recursos hídricos.
Com estas e outras propostas, a Comissão apresenta instrumentos para avançar rumo à circularidade da economia e proteção da natureza, reforçando as normas ambientais na União Europeia.
Recorde-se que a estratégia foi apresentada a 17 de novembro, a poucos dias da comemoração do Dia Mundial do Solo, data que resultou da Resolução n.º 68/232 da Assembleia Geral das Nações Unidas e que funciona como uma chamada de atenção sobre a importância do solo para a vida terrestre.
A salinização do solo é o tema em foco este ano. De salientar que a salinização associada à atividade humana afeta já 3,8 milhões de hectares de território comunitário e que é mais elevada ao longo das faixas costeiras, particularmente no Mediterrâneo.
Conheça mais sobre a importância do solo e a interdependência entre as florestas e o solo.
Consulte aqui as perguntas frequentes sobre a Estratégia de Proteção do Solo da EU.