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20.02.2023

Árvores contrariam ilhas de calor urbanas e salvam vidas

Árvores contrariam ilhas de calor urbanas e salvam vidas

As cidades estão mais quentes devido ao efeito das “ilhas de calor urbanas”, intensificado pelas alterações climáticas. O aumento do número de árvores pode ajudar a refrescá-las e a evitar parte substancial das mortes prematuras provocadas pelo calor excessivo, avança um novo estudo que abrangeu 93 cidades europeias.

Uma cobertura arbórea de 30% numa cidade poderia baixar em 0,4ºC a temperatura local e evitar cerca de 39% das mortes atribuídas às chamadas ilhas de calor urbanas. Se esta cobertura chegasse aos 40%, além de as cidades refrescarem em média 0,5ºC, seriam evitadas 41% de mortes devidas ao calor.

Estas são algumas das conclusões do estudo “Refrescar as cidades através de infraestruturas verdes: análise do impacto de saúde em cidades europeias”, do Instituto de Barcelona para a Saúde Global, que cruzou vários dados – incluindo temperatura, densidade populacional, níveis de cobertura por vegetação e mortalidade, entre outros –, analisando as suas relações e variações em 93 cidade europeias (incluindo 2 cidades portuguesas) durante o verão de 2015 (de 1 de junho a 31 de agosto).

Publicado em janeiro de 2023, este trabalho mostra que as chamadas ilhas de calor urbanas foram responsáveis, em média, por mais de 4,3% dos óbitos ocorridos entre junho e agosto de 2015. No total, 6700 mortes prematuras foram atribuídas aos efeitos das ilhas de calor no período em análise, das quais mais de 2600 poderiam ser evitadas se a cobertura arbórea se elevasse aos 30%.

Da população total das 93 cidades analisadas (mais de 73 milhões de pessoas), 78% vive em zonas que estão pelo menos 1ºC mais quentes (no período em análise) devido ao efeito das ilhas de calor urbanas, enquanto 20% desta população está já a viver em áreas em que as temperaturas médias no verão apresentam um aumento de mais de 2ºC.

O estudo confirma que os efeitos das ilhas de calor urbano são mais intensos nas cidades com maior densidade populacional (onde tipicamente há também mais áreas construídas e impermeabilizadas) e alerta para o facto de que reduzir as ilhas de calor não exige o mesmo esforço de criar zonas verdes ou florestas urbanas em todas as cidades em análise, já que há outras variáveis a considerar, como as condições de secura e humidade de cada zona urbana, as quais influenciam os efeitos.

Cidades e ilhas de calor urbano mantêm tendência para aumentar

Em contínua expansão, os centros urbanos são casa de cada de cada vez mais pessoas e o seu desenvolvimento obriga à construção de novas infraestruturas – estima-se que, até 2050, a população urbana cresça dos 55% para os 80%.

Novos empreendimentos e edifícios, novas estradas e parques de estacionamento contribuem para aumentar o calor urbano. Com menor albedo, isto é, com a maior parte da radiação solar incidente a ser absorvida pelas áreas asfaltada e urbanizadas, as cidades absorvem mais radiação do que áreas naturais e tornam-se mais quentes.

Para isto contribui ainda o espaço exíguo entre prédios, que bloqueia o vento e aumenta a retenção do calor, e as atividades humanas, também elas fontes de poluição e calor (geração de eletricidade, automóveis ou ares condicionados). Em resposta a este aquecimento, refrescam-se os ambientes dos edifícios e viaturas, gastando-se ainda mais energia (maioritariamente de fonte fóssil), contribuindo para o perpetuar do círculo vicioso.

Efeitos das alterações climáticas na saúde agudizam-se

Nas cidades e fora delas, os efeitos das alterações climáticas na saúde e mortalidade prematura têm sido motivo de preocupação crescente, inclusive por parte da OMS –Organização Mundial de Saúde, que atribui ao efeito das ondas de calor na Europa, durante o verão de 2022, um total estimado em 15 mil óbitos: quase quatro mil em Espanha e mais de mil em Portugal, por exemplo.

Os extremos de calor, que impedem o arrefecimento do corpo, são mesmo considerados pela OMS como a principal causa de morte relacionada com o clima na Europa e razão para o agravamento de doenças crónicas, incluindo cardíacas, vasculares, respiratórias e diabetes.

Recorde-se que as temperaturas aumentaram, em média, 0,5ºC por década, entre 1961 e 2021, na Europa, o que faz deste continente a região de mais rápido aquecimento no mundo, refere a mesma fonte.