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Valor da Floresta

Quando começou a falar-se de economia ecológica e quem deu os principais contributos?

Desde o século XVIII que filósofos e cientistas de variadas disciplinas (da física à biologia) teorizam sobre a relação que o crescimento económico tem com os processos e recursos naturais (terras produtivas ou energia fóssil, por exemplo). No entanto, foi na década de 70 do século XX que se fundou a moderna economia ecológica.

Com a economia ecológica começaram a integrar-se as questões económica e ecológica, surgindo novas correntes de pensamento que contribuíram também para conceitos como a economia ambiental e o desenvolvimento sustentável.

A crise do petróleo de 1973 e a recessão económica global que se seguiu reforçaram a consciência de que o crescimento económico global estava dependente da disponibilidade de recursos energéticos finitos – neste caso recursos fósseis, como o petróleo e derivados –, o que intensificou a reflexão sobre os fundamentos biofísicos dos sistemas económicos e o desenvolvimento de novas perspetivas sobre a economia ecológica.

Entre os vários investigadores que contribuíram para estas novas perspetivas de integração das questões económica e ecológica, destacamos os seguintes economistas:

 

– o norte-americano Herman Daly (1938-2022)

 

Um dos fundadores da economia ecológica, que difundiu a ideia da economia como um subsistema aberto e integrado num sistema maior – o sistema natural ou biosfera – em que a economia recebe recursos (inputs) do sistema natural (minerais, água, energia, etc.) para gerar (outputs) bens e serviços que podem ser positivos, mas também negativos – resíduos, poluição e degradação natural e ambiental -, os quais não são considerados pelas métricas económicas. Desta perspetiva ressalta, por exemplo, a ideia de que quando se calcula o Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, o valor total dos serviços e produtos gerado num dado ano e local, somam-se os outputs positivos (o valor dos bens e serviços gerados), mas ignoram-se os negativos, cujo valor não é descontado.

Daly defendeu também que devemos caminhar para uma situação económica de estabilidade – ou de equilíbrio dinâmico -, em que a produção, o consumo e o crescimento económico estejam alinhados com a capacidade de regeneração da Terra. Foi um artigo seu que propôs as três regras base do desenvolvimento sustentável, que podem resumir-se em:

  1. Não explorar os recursos renováveis a um ritmo mais rápido do que podem ser regenerados;
  2. Não emitir resíduos a um ritmo mais rápido do que podem ser assimilados;
  3. Não explorar os recursos finitos (não renováveis) a um ritmo mais rápido do que se consigam desenvolver recursos renováveis capazes de substituí-los.

A sua obra mais reconhecida é “Ecological Economics” e foi escrita em coautoria com Joshua Farley, outro dos pensadores de referência na história da integração das questões ecológicas, humanas e sociais na economia. Publicado em 2003, é um marco na economia ecológica, abordando questões relacionadas com sustentabilidade, equidade e interação entre economia e ambiente.

 

– O britânico (de origem alemã) Ernst Friedrich Schumacher (1911 – 1977)

 

Advogou que o foco na maximização do crescimento económico não leva necessariamente ao bem-estar humano, defendendo a criação de sistemas económicos de menor dimensão, mais enraizados nas capacidades dos ecossistemas e nas necessidades locais (e que façam uso de tecnologias adaptadas a estas condições locais).

Na sua obra mais conhecida “Small is beautifull: a study of economics as if people mattered”, de 1973, assume a importância de se valorizar a qualidade de vida, a equidade social e a sustentabilidade ambiental a par da eficiência económica. Num dos ensaios presente neste livro, “Buddihst Economics”, explicita a necessidade de considerar os recursos naturais como um género de capital que deve ser gerido de forma justa e sustentável, criticando as visões da época, como revelam os seguintes segmentos:

– “A economia moderna não distingue entre os recursos renováveis e os não-renováveis, já que o seu método é apenas quantificar tudo através de um preço (…) a única diferença entre eles que a economia moderna reconhece é o custo relativo por unidade equivalente. O mais barato é automaticamente o preferido, e pensar de outra forma, é não só irracional, como também antieconómico”.

– “À medida que os recursos não renováveis – carvão, petróleo, e gás natural – estejam distribuídos de maneira desigual pelo mundo fora e indubitavelmente limitados em quantidade, está claro que a sua exploração a taxas crescentes é um ato explícito de violência contra a natureza, o que, inexoravelmente, levará à violência entre a humanidade”.

Atribui-se com frequência a Shumacher o uso inicial da expressão “capital natural” como metáfora, embora o conceito só tenha sido alvo de definições após a sua morte e alguns autores façam remontar ao início do século XX a génese do capital natural como conceito económico.

 

– O catalão Joan Martinez-Alier (1939)

 

Defende que a economia não pode ser estudada sem compreender os fluxos de energia que a impulsionam e sem ter em conta as bases biofísicas dos processos socioeconómicos, questionando a ideia de um crescimento económico infinito num planeta finito.

Adicionalmente, na sua visão, a exploração de recursos naturais está frequentemente relacionada com a exploração social, que resulta em desigualdades sociais além de ambientais. Defende, por isso, uma abordagem de desenvolvimento ecologicamente sustentável e socialmente justa.

Além das suas obras escritas e apresentações como orador, uma das iniciativas que inspirou foi o Atlas da Justiça Ambiental (Environmental Justice Atlas), que documenta conflitos sociais em torno de questões ambientais em todo o mundo.

 

– O americano Robert Constanza (1950)

 

Pioneiro da valorização dos serviços do ecossistema e professor de economia ecológica, Constanza tem contribuído para integrar a valorização dos recursos naturais e ecossistemas no planeamento e tomada de decisões político-económicas.

No seu trabalho, destaca-se o primeiro estudo (que liderou) sobre o valor dos serviços do ecossistema e do capital natural, em termos globais, em 1996-97, que avaliou em 33 biliões de dólares anuais o valor médio que tinham então 17 serviços do ecossistema em 16 biomas.

A sua pesquisa integra o ser humano e a natureza, procurando abordar a gestão das respetivas inter-relações em diferentes escalas de tempo e espaço – desde uma pequena bacia hidrográfica até ao sistema global – com contributos em áreas que vão desde o planeamento do território, à análise de fluxos de materiais e de energia.

 

Refira-se que as perspetivas de alguns destes pensadores da economia ecológica têm influenciado governos, instituições supranacionais (incluindo a Organização das Nações Unidas) e empresas para integrar a ecologia nas suas estratégias económicas e de gestão. Outras ideias têm sido desvalorizadas – por exemplo, as dos defensores de que a economia precisa de desacelerar para poder ser ambientalmente sustentável e socialmente justa -, não sendo acolhidas pelas estruturas de governação de países e organizações, mas a sua validade continua a ser debatida e analisada.

 


 

Saiba mais em colaboração com Diogo Alagador

Cátedra de Biodiversidade, Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED/CHANGE), Universidade de Évora.

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