Valor da Floresta
Desde o século XVIII que filósofos e cientistas de variadas disciplinas (da física à biologia) teorizam sobre a relação que o crescimento económico tem com os processos e recursos naturais (terras produtivas ou energia fóssil, por exemplo). No entanto, foi na década de 70 do século XX que se fundou a moderna economia ecológica.
Com a economia ecológica começaram a integrar-se as questões económica e ecológica, surgindo novas correntes de pensamento que contribuíram também para conceitos como a economia ambiental e o desenvolvimento sustentável.
A crise do petróleo de 1973 e a recessão económica global que se seguiu reforçaram a consciência de que o crescimento económico global estava dependente da disponibilidade de recursos energéticos finitos – neste caso recursos fósseis, como o petróleo e derivados –, o que intensificou a reflexão sobre os fundamentos biofísicos dos sistemas económicos e o desenvolvimento de novas perspetivas sobre a economia ecológica.
Entre os vários investigadores que contribuíram para estas novas perspetivas de integração das questões económica e ecológica, destacamos os seguintes economistas:
Um dos fundadores da economia ecológica, que difundiu a ideia da economia como um subsistema aberto e integrado num sistema maior – o sistema natural ou biosfera – em que a economia recebe recursos (inputs) do sistema natural (minerais, água, energia, etc.) para gerar (outputs) bens e serviços que podem ser positivos, mas também negativos – resíduos, poluição e degradação natural e ambiental -, os quais não são considerados pelas métricas económicas. Desta perspetiva ressalta, por exemplo, a ideia de que quando se calcula o Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, o valor total dos serviços e produtos gerado num dado ano e local, somam-se os outputs positivos (o valor dos bens e serviços gerados), mas ignoram-se os negativos, cujo valor não é descontado.
Daly defendeu também que devemos caminhar para uma situação económica de estabilidade – ou de equilíbrio dinâmico -, em que a produção, o consumo e o crescimento económico estejam alinhados com a capacidade de regeneração da Terra. Foi um artigo seu que propôs as três regras base do desenvolvimento sustentável, que podem resumir-se em:
A sua obra mais reconhecida é “Ecological Economics” e foi escrita em coautoria com Joshua Farley, outro dos pensadores de referência na história da integração das questões ecológicas, humanas e sociais na economia. Publicado em 2003, é um marco na economia ecológica, abordando questões relacionadas com sustentabilidade, equidade e interação entre economia e ambiente.
Advogou que o foco na maximização do crescimento económico não leva necessariamente ao bem-estar humano, defendendo a criação de sistemas económicos de menor dimensão, mais enraizados nas capacidades dos ecossistemas e nas necessidades locais (e que façam uso de tecnologias adaptadas a estas condições locais).
Na sua obra mais conhecida “Small is beautifull: a study of economics as if people mattered”, de 1973, assume a importância de se valorizar a qualidade de vida, a equidade social e a sustentabilidade ambiental a par da eficiência económica. Num dos ensaios presente neste livro, “Buddihst Economics”, explicita a necessidade de considerar os recursos naturais como um género de capital que deve ser gerido de forma justa e sustentável, criticando as visões da época, como revelam os seguintes segmentos:
– “A economia moderna não distingue entre os recursos renováveis e os não-renováveis, já que o seu método é apenas quantificar tudo através de um preço (…) a única diferença entre eles que a economia moderna reconhece é o custo relativo por unidade equivalente. O mais barato é automaticamente o preferido, e pensar de outra forma, é não só irracional, como também antieconómico”.
– “À medida que os recursos não renováveis – carvão, petróleo, e gás natural – estejam distribuídos de maneira desigual pelo mundo fora e indubitavelmente limitados em quantidade, está claro que a sua exploração a taxas crescentes é um ato explícito de violência contra a natureza, o que, inexoravelmente, levará à violência entre a humanidade”.
Atribui-se com frequência a Shumacher o uso inicial da expressão “capital natural” como metáfora, embora o conceito só tenha sido alvo de definições após a sua morte e alguns autores façam remontar ao início do século XX a génese do capital natural como conceito económico.
Defende que a economia não pode ser estudada sem compreender os fluxos de energia que a impulsionam e sem ter em conta as bases biofísicas dos processos socioeconómicos, questionando a ideia de um crescimento económico infinito num planeta finito.
Adicionalmente, na sua visão, a exploração de recursos naturais está frequentemente relacionada com a exploração social, que resulta em desigualdades sociais além de ambientais. Defende, por isso, uma abordagem de desenvolvimento ecologicamente sustentável e socialmente justa.
Além das suas obras escritas e apresentações como orador, uma das iniciativas que inspirou foi o Atlas da Justiça Ambiental (Environmental Justice Atlas), que documenta conflitos sociais em torno de questões ambientais em todo o mundo.
Pioneiro da valorização dos serviços do ecossistema e professor de economia ecológica, Constanza tem contribuído para integrar a valorização dos recursos naturais e ecossistemas no planeamento e tomada de decisões político-económicas.
No seu trabalho, destaca-se o primeiro estudo (que liderou) sobre o valor dos serviços do ecossistema e do capital natural, em termos globais, em 1996-97, que avaliou em 33 biliões de dólares anuais o valor médio que tinham então 17 serviços do ecossistema em 16 biomas.
A sua pesquisa integra o ser humano e a natureza, procurando abordar a gestão das respetivas inter-relações em diferentes escalas de tempo e espaço – desde uma pequena bacia hidrográfica até ao sistema global – com contributos em áreas que vão desde o planeamento do território, à análise de fluxos de materiais e de energia.
Refira-se que as perspetivas de alguns destes pensadores da economia ecológica têm influenciado governos, instituições supranacionais (incluindo a Organização das Nações Unidas) e empresas para integrar a ecologia nas suas estratégias económicas e de gestão. Outras ideias têm sido desvalorizadas – por exemplo, as dos defensores de que a economia precisa de desacelerar para poder ser ambientalmente sustentável e socialmente justa -, não sendo acolhidas pelas estruturas de governação de países e organizações, mas a sua validade continua a ser debatida e analisada.
Saiba mais em colaboração com Diogo Alagador
Cátedra de Biodiversidade, Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED/CHANGE), Universidade de Évora.
Ecossistema
25 anos passados após os primeiros estudos fundamentais sobre Economia Ecológica, Robert Constanza e Pavan Sukhdev são dois dos nomes a reter quando falamos de valorização do capital natural e dos serviços do ecossistema. Conheça neste artigo, em colaboração com Diogo Alagador, como estes dois economistas contribuíram, ainda no século XX, para uma visão da natureza como um capital estrutural que precisa de ser contabilizado para ser preservado.
Caso de Estudo
Ao contrário da maioria dos bens com origem nos espaços florestais, os serviços que são proporcionados por estes ecossistemas não são tradicionalmente transacionados, razão pela qual não lhes é atribuído um valor de mercado. Ultrapassar esta lacuna, estimando o valor económico total dos espaços florestais de Portugal foi o objetivo do ECOFOR.pt. Conheça mais sobre este projeto e sobre os seus resultados quanto a este valor.
Gestão Florestal
Tradicionalmente, a gestão florestal estava focada no fornecimento duradouro de madeira, simplificando os ecossistemas florestais e assumindo que era possível o seu controlo. A constatação de que as florestas são sistemas complexos, com componentes ecológicos, sociais e económicos que se entrecruzam, tem levado a uma alteração no foco da gestão: da árvore para o ecossistema.