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11.09.2024

SOFO 2024: a inovação florestal como via para a sustentabilidade

SOFO 2024: a inovação florestal como via para a sustentabilidade

“Com o mundo a enfrentar ameaças crescentes, as florestas proporcionam soluções para os desafios globais”, refere o SOFO 2024 – “The State of the World’s Forest 2024”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O relatório sublinha a inovação no sector florestal como elemento central para um futuro mais sustentável.

O SOFO 2024 atualiza os principais indicadores do estado das florestas no mundo e sublinha a importância da inovação que tem sido feita pelo sector florestal para a conservação, restauro e uso sustentável das próprias florestas, num contexto de desafios globais e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O nome deste novo relatório The State of the World’s Forest 2024” – Forest-sector innovations towards a more sustainable futuredestaca a importância da inovação neste sector e reforça a necessidade de a considerar num contexto abrangente que engloba novas tecnologias, mas também a adoção de modelos organizacionais e de financiamento capazes de promover soluções colaborativas e inclusivas.

O SOFO 2024 usa dados de estudos científicos recentes para atualizar números e tendências sobre o estado das florestas no mundo. Com eles destaca que, embora existam indicadores positivos – na desflorestação, por exemplo – a vulnerabilidade a pressões relacionadas com as alterações climáticas e as previsões sobre o aumento da procura por madeira reforçam a necessidade de inovar no sector florestal. E reforça que é preciso ampliar os bons exemplos de inovação para conseguir conciliar conservação, restauro e produções florestais, de forma sustentável.

– A desflorestação tem vindo a diminuir em alguns países com vastas áreas florestais, a exemplo da Indonésia (-8,4% de desflorestação entre 2021 e 2022) e Amazónia brasileira (-50% em 2023).

– Está a aumentar a vulnerabilidade das florestas a fatores de stress decorrentes das alterações climáticas, como as pragas e os incêndios.

Na Coreia, por exemplo, perderam-se 12 milhões de pinheiros devido ao nemátodo, em cerca de 25 anos. Apenas nos EUA, prevê-se que 25 milhões de hectares de florestas sofram perdas superiores a 20% da área basal das árvores devido ao ataque de insetos e doenças até 2027.

Em paralelo, o aumento da frequência e intensidade dos incêndios tem levado ao aumento das emissões de dióxido de carbono. Só no Canadá, em 2023, quase 7 mil incêndios queimaram 14,6 milhões de hectares, cinco vezes mais do que a média dos 20 anos anteriores. E as observações de satélite indicam que nesse ano foram emitidas globalmente 6,7 mil megatoneladas de CO2 pelos incêndios (mais do dobro das emissões da União Europeia relativas à queima de combustíveis fósseis no mesmo ano).

– A produção de madeira aumentou globalmente para níveis recorde, a rondar anualmente os 4 mil milhões de metros cúbicos: 2,04 mil milhões de metros cúbicos de toros e mais 1,97 mil milhões de metros cúbicos para combustível, em 2022, sendo a proporção para combustíveis maior nas regiões do globo onde grande parte da população depende de lenha e carvão para cozinhar, ferver água e aquecer-se (estima-se que 29% da população mundial esteja nesta situação).

– Embora a eficiência no uso da madeira tenha aumentado, as projeções indicam também que haverá aumentos significativos na procura de madeira e fibras florestais, de até 49% em 2050 (face a 2020), motivados em particular pela procura de toros de madeira (rolaria) e pelo contexto de transição para a bioeconomia.

– Quase 6 mil milhões de pessoas utilizam produtos florestais não lenhosos, em particular no chamado Sul Global (países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, principalmente no hemisfério sul), e o comércio internacional de três destes produtos – pinhões, cogumelos e trufas – equivaleu a cerca de 1,8 mil milhões de dólares em 2022. Além de importantes na alimentação das populações, estes produtos representam uma oportunidade de rendimento para milhões de pequenos produtores florestais.

Tendo em conta estas realidades, o relatório sublinha a necessidade de motivar e dar escala à inovação florestal.

5 eixos de inovação em destaque no SOFO 2024

“A inovação é um impulsionador central para o progresso na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, reforça o documento, referindo-se aos 17 ODS definidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015 e a alcançar até 2030, estruturando em cinco eixos as inovações que estão a aumentar o potencial das florestas para enfrentar os desafios globais:

Inovação 1) tecnológica, considerando produtos e processos, área digital e biotecnologia – exemplos como a deteção remota, os dados abertos, a computação cloud e outras inovações similares permitem gerar e aceder a dados florestais de melhor qualidade, apoiando o planeamento e gestão florestal.

Inovação 2) social, 3) política e 4) institucional – entre os exemplos estão modelos inovadores de organização que promovam o envolvimento de minorias e comunidades no desenvolvimento de soluções locais, a promoção de parcerias multissetoriais e intersectoriais no planeamento e nas políticas do uso da terra, ou o apoio à formação de associações ou cooperativas que aumentem o poder de negociação dos pequenos produtores.

Inovação 5) financeira – considera modelos inovadores de financiamento, tanto públicos como privados, para aumentar a proteção e o valor da floresta, motivar os esforços de restauro e promover o acesso ao financiamento por parte de pequenos produtores, incentivando-os a prosseguir produções sustentáveis.

Embora da conjugação destes cinco eixos de inovação identificados pelo SOFO 2024 possam resultar mudanças que apoiam um futuro mais sustentável, para que possam consubstanciar-se é indispensável “uma cultura organizacional que reconheça e abrace o potencial transformador da inovação”, a qual pode reduzir os riscos associados aos processos de inovação e capacitar os vários intervenientes – desde decisores, a financiadores e produtores – a promover uma resposta inclusiva e eficaz aos desafios que se colocam.

Aumentar a consciencialização sobre a importância da inovação, criar uma cultura que promova uma mudança positiva de base inovadora e promover um ambiente político que incentive a inovação no sector florestal, assegurando recursos financeiros mais amplos e acessíveis para o efeito, são alguns dos conselhos deixados pelo SOFO 2024.

O relatório encoraja ainda à melhoria de competências dos intervenientes no sector – capacitando-os para saberem adotar, gerir e aplicar as inovações -, assim como à criação de novas oportunidades para a transferência de conhecimento e tecnologias.

Casos de estudo ilustram inovação no sector florestal

O relatório SOFO 2024 dá a conhecer 18 casos de estudo – a maioria no Sul Global – que ilustram a inovação no sector florestal em vertentes como o combate à desflorestação e a manutenção das florestas, o restauro de terras degradadas e a expansão dos sistemas agroflorestais, o uso sustentável das florestas e a constituição de cadeias de valor verdes.

Os case studies estendem-se às novas tecnologias de processamento de madeiras, tema ilustrado pelo projeto NHERI Tallwood, uma parceria entre a Eslovénia e os EUA, que investigou as técnicas de construção em madeira (nomeadamente madeira lamelada colada cruzada – CLT) que possam oferecer uma alternativa sustentável, leve e resistente aos tradicionais materiais de construção, especialmente em áreas suscetíveis a terremotos.

Em foco está também um modelo de microfinanciamento a pequenos negócios florestais no Vietname. Sem exigência de garantias e sem juros associados, estes empréstimos (feitos sob a forma de fundos verdes) permitiram aumentar em 53% as organizações de produtores apoiadas, com a condição de aplicarem práticas de gestão sustentáveis na criação de sistemas agroflorestais e florestas com culturas de longa rotação. Estes financiamentos de curto-prazo, mas essenciais aos arranques das operações, permitiram ainda aumentar o rendimento dos produtores entre 10 e 30%.

Outro dos casos de estudo apresentados decorre em Moçambique – um projeto a 20 anos, em parceria com a FAO – e relaciona-se com a criação de sistemas agroflorestais para melhorar a saúde do solo, a conservação da biodiversidade e a resiliência climática, assim como para gerar créditos de carbono que são comercializados no mercado internacional, proporcionando uma fonte de rendimento adicional às comunidades rurais.

O uso de novas ferramentas tecnológicas para melhorar a gestão comunitária das florestas na Colômbia, o uso de dados sobre o papel da floresta no aumento da produtividade agrícola como forma de promover a conservação florestal no Brasil e a utilização de tecnologias digitais para conseguir rastrear a madeira na Guatemala estão também entre os exemplos deste relatório.