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Miguel Pestana

Melhoramento genético: a diversidade como elemento central

Li, num destes dias, a seguinte frase: “Com a idade as lideranças vão perdendo dinâmica, capacidade de adaptação e inovação, cristalizando processos e aumentado a aversão ao risco”. Embora a frase seja apropriada para os assuntos afetos à gestão, tem, contudo, uma verdade que se ajusta a outras áreas. No caso do melhoramento genético também é aplicável, uma vez que o mesmo resulta da evolução/desenvolvimento da Tecnologia & Inovação, a reboque da Economia.

De facto, o mercado orienta o melhoramento genético a fazer, sem esquecer a envolvente (condições ambientais).

Michael Porter dá a dica das “dificuldades” ou não do sector, quando faz o diagnóstico, utilizando o “diamante” (Vantagem Competitiva e os Fatores Críticos de Sucesso do Cluster). No seu trabalho da década de 90 do século passado, referiu a escassez de matéria-prima como entrave transversal, em quase todas as fileiras, incluindo as indústrias de produtos florestais. Hoje, não devemos estar muito longe deste registo.

O melhoramento genético seleciona os organismos mais bem-adaptados ao ambiente, mas tem necessariamente de assentar na diversidade. Só com este equilíbrio podemos caminhar para um progresso sustentável.

É sabido que o desenvolvimento assente em driven by technology origina disrupção no caminho traçado. Há ainda a realçar o facto de as Alterações Climáticas estarem sempre “casadas” com o melhoramento (Seleção), pois há um ajuste deste às novas condições/cenário climático. Na teoria de Darwin da Evolução das Espécies, os organismos mais bem-adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência, deixando um número maior de descendentes. Ou seja, os organismos melhor adaptados são, portanto, selecionados para aquele ambiente e esta é a chave de todo o aperfeiçoamento/melhoramento genético.

Atualmente, a conjugação de diferentes metodologias (tradicional baseada na genética quantitativa e ligada à genética molecular) do melhoramento genético são uma aliança que favorece positivamente o seu desenvolvimento e assim dão resposta mais célere ao(s) nosso(s) objetivo(s). Alicerçada na essência das noções básicas de Darwin da Teoria da Evolução, com o posterior trabalho de Mendel, onde se fala pela primeira vez de genes, é possível transportar um conhecimento, que não é hermético desta ciência, para o sector produtivo da economia, melhorando os seus produtos.

Contudo, há a necessidade de equilibrar o melhoramento genético com a conservação da variabilidade genética, pois só assim será possível assegurar o futuro. Dito de outra forma, o melhoramento genético assenta na diversidade e, caso esta falhe, tudo estará condenado.

Nos dias de hoje, ele possibilita, ainda mais, incrementar a produtividade e adaptabilidade das espécies florestais e com ela saciar (ou tentar saciar) as necessidades da economia a jusante (indústrias e empresas), possibilitando, assim, o aumento dos fatores de produção (destacando-se o emprego) e criando riqueza nas respetivas cadeias de valor. Reforço: Não devemos ter somente uma visão idílica deste tema, já que a variabilidade é uma riqueza que jamais deverá ser esquecida. Só com uma base de diversidade razoável poderemos caminhar para um futuro, com um progresso sustentável.

A caracterização da diversidade dentro das várias espécies poderá ajudar a resolver alguns dos problemas existentes nas florestas, já que, aliando as metodologias do melhoramento genético com o acervo existente, será mais provável encontrar soluções para os desafios atuais, como é o caso das pragas e doenças, que despoletam com uma rapidez crescente.

Dito isto, não devemos esquecer que a seleção de indivíduos melhorados para uma determinada característica, poderá não ser eficiente para uma outra característica desejada – por exemplo, indivíduos resistentes a uma praga, poderão não ser resistentes a outro problema. Por essa razão, friso a necessidade do equilíbrio entre a diversidade e a especialização, para ser possível manter os fatores de competitividade do sector.

Para rematar, deixo-vos uma constatação: Um cão de raça é um ser sensível e, muitas vezes, de curta longevidade; por outro lado, um cão rafeiro é mais robusto e tem grande longevidade.

Setembro 2021

O Autor

Miguel Pestana é Investigador Auxiliar do INIAV – Instituto de Investigação Agrária e Veterinária, desenvolvendo trabalho nos Produtos Florestais – Resina, Cortiça e Madeira – desde 1983.

Formado em Engenharia Química, iniciou a sua atividade profissional no Laboratório Instituto dos Produtos Florestais, tendo ingressado na Estação Florestal Nacional do então INIA – Instituto Nacional de Investigação Agrária, nos finais dos anos 80, liderando o Laboratório da Cortiça e dos Produtos Resinosos até 2002. Apresentou, em 2004, a dissertação para o Doutoramento em Ciências Agrárias – Ciências Florestais (UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro).

É atualmente Coordenador da Unidade de Tecnologia e Inovação do INIAV e Diretor da revista Científica SILVA LUSITANA.

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