Num mundo atual em mudança (nomeadamente alterações climáticas, alterações nos requisitos da sociedade sobre a natureza, transição para uma bioeconomia circular livre de combustíveis fósseis) as decisões de intervenção na floresta (gestão florestal) e sobre o uso do solo não podem ser tomadas individualmente ao nível de cada povoamento florestal – área homogénea do ponto de vista ambiental, de composição e estrutura – mas têm antes que ser tomadas ao nível de uma área maior constituída por vários povoamentos – uma unidade de gestão ou uma “paisagem” – de forma a garantir que os vários povoamentos, no seu conjunto, cumprem os objetivos de conservação e de produção que a sociedade requer.
O planeamento do uso do solo é, hoje em dia, uma das principais áreas de intervenção dos Engenheiros Florestais, assim como o é a definição, num horizonte de longo prazo, das intervenções a realizar em cada um dos povoamentos constituintes de uma unidade de gestão de forma a atingir os objetivos que se pretendem e que incluem, como já disse atrás, a manutenção de ecossistemas saudáveis, capazes de fornecer todos os serviços de ecossistema de que a sociedade depende.
Existem muitos tipos de povoamentos, desde as florestas naturais às plantações de uma única espécie, e muitas formas de os gerir e de fazer “conversões” entre tipos de florestas. A ideia que existe na sociedade de que há florestas “boas” – as naturais – e florestas “más” – as plantações – é completamente errada, pois cada tipo de floresta tem a sua função no desenvolvimento sustentável do planeta. Todas as florestas fornecem os vários serviços do ecossistema, mas a proporção entre eles é diferente dependendo do tipo de floresta. O importante são as decisões sobre onde cada tipo de floresta deve estar e qual a melhor maneira de fazer a sua gestão.
Além disso, existe aquilo a que chamamos a sucessão ecológica que, só ao fim de muitos anos, origina ecossistemas que são geralmente reconhecidos como florestas naturais. Num ecossistema degradado com solos esqueléticos é impossível implantar uma floresta natural! Há que começar pelo repovoamento – natural ou por plantação – das espécies florestais “pioneiras”, capazes de se desenvolver em ambientes inóspitos.
O papel do Engenheiro Florestal pode ser ajudar a natureza a avançar mais rapidamente na sucessão ecológica, mas tudo isto exige um profundo conhecimento sobre o funcionamento dos ecossistemas florestais e uma grande capacidade dos técnicos para praticar uma gestão adequada.
Atualmente pratica-se o que se chama de gestão adaptativa, baseada em monitorização, ou seja, a aplicação de uma primeira proposta de gestão que se espera ser capaz de corresponder aos objetivos pretendidos, seguida de uma análise contínua da reação da natureza às intervenções dos gestores florestais, os quais deverão sugerir alterações à gestão inicialmente proposta sempre que haja desvios em relação à evolução que se pretendia ou sempre que se redefinam os objetivos anteriores, o que, neste mundo em constante mudança, acontece com frequência.
A profissão de Engenheiro Florestal é, assim, uma profissão extremamente rica, com grande responsabilidade no futuro do planeta!
Os Engenheiros Florestais devem obviamente trabalhar em conjunto com colegas de outras especialidades pois só assim se consegue compreender melhor a natureza e garantir um planeamento adequado para atingir os objetivos cuja definição, ela própria, faz parte do planeamento e que deve ser feita com a participação de todas as partes interessadas. É por isso que a licenciatura e mestrado em Engenharia Florestal e dos Recursos Naturais incluem disciplinas das áreas sociais e de economia que preparam os futuros gestores florestais para um melhor relacionamento com colegas destas áreas e para um melhor contacto com os proprietários privados (a maioria da floresta portuguesa é privada) e com a sociedade em geral.
Espero que estes pensamentos vos ajudem na escolha da licenciatura que melhor se adequa ao papel que pretendem vira ter na gestão do ambiente! Se vos ficaram algumas dúvidas, fiquem à vontade para me contactarem.