Comentário

Céu Olaio

Trabalho na floresta: uma obrigação que depressa se transformou em paixão

Adubar, plantar, cuidar, cortar, replantar… eis algumas das actividades que fazem parte do meu trabalho na floresta e que rapidamente deixaram de ser uma obrigação para se transformarem numa paixão. Uma paixão que aqui partilho, desafiando os jovens a abrirem horizontes e a descobrirem esta profissão com futuro.

O meu nome é Céu Olaio, tenho 57 anos, e desde os meus 8 anos que trabalho na agricultura. Sinto o fascínio por máquinas desde que me lembro. Aos 21 anos já tinha carta de pesados, mas já conduzia todo o tipo de equipamentos desde muito jovem.

Em 1992 passei a dedicar-me à floresta, por motivos profissionais, com a constituição da empresa Leal & Olaio – Comércio de Madeiras e Lenhas Lda., e é o que faço desde então.

O trabalho na floresta, que começou por ser uma obrigação profissional, rapidamente se transformou numa paixão e é no seio da floresta que me sinto bem.

O meu trabalho diário consiste no corte de madeiras, limpeza de florestas e reflorestação. Pese embora ter sido fundadora da empresa, é no terreno que me sinto preenchida e realizada. Adoro transmitir os meus conhecimentos e ao longo dos anos tenho ensinado muitos jovens a trabalhar com todo o tipo de equipamentos. Diariamente coordeno várias equipas para executar um trabalho que considero tão nobre quanto necessário.

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Há várias características muito particulares neste trabalho e as estações do ano podem influenciar: o corte da madeira, por exemplo, é efectuado durante todo o ano pelo que não se pode dizer que esta seja uma actividade sazonal. Mas esta actividade, ao contrário do que se pensa, vai muito para além do corte da madeira. A adubação é outra das nossas tarefas e acontece, habitualmente, entre Janeiro e Abril. Já a plantação é levada a cabo entre Fevereiro e Junho no máximo.

É difícil falar desta atividade sem falar dos incêndios que têm estado tão presentes e fazem parte das nossas memórias mais recentes. Contrariamente ao que muita gente especula, não são as máquinas que provocam incêndios.

Os incêndios são altamente prejudiciais para a nossa actividade, por vários motivos, mas sobretudo porque em altura de alerta ou elevado perigo de incêndio, estamos proibidos de trabalhar no terreno. Contudo, os salários das nossas equipas têm de ser pagos pelo que temos os custos, mas não podemos trabalhar, muitas vezes durante períodos largos. Mas há mais vida nas nossas florestas para além do que acontece durante os incêndios.

Trabalho na floresta é duro, mas saudável, digno e bem remunerado

Sinto que é difícil encontrar pessoas para trabalhar na floresta, o que é difícil de entender porque é um trabalho de grande dignidade, bem remunerado e fundamental num país onde a floresta é uma presença constante na nossa geografia.

Para além da parte financeira, e num momento em que o tema da saúde mental está na ordem do dia, tenho de referir, sem dúvida, a liberdade e o bem-estar que sinto diariamente ao trabalhar em contacto direto com a natureza. É um trabalho duro, por vezes, mas é um trabalho que conforta a alma e que gera uma harmonia inexplicável com a nossa flora.

Além disso, com a crescente presença da Inteligência Artificial no nosso quotidiano, já li artigos que determinam que algumas profissões mais académicas e computorizadas têm tendência a ser substituídas. A nossa profissão dificilmente seria substituída, pois a mão humana tem de estar presente em todas as fases do trabalho.

Aproveito para desafiar os jovens a abrirem os horizontes e pensarem que o trabalho na floresta é uma alternativa profissional maravilhosa e com futuro. As nossas florestas vão sempre precisar de ser limpas e cuidadas e as reflorestações farão parte do futuro das nossas matas a nível nacional.

junho de 2023

O Autor

Maria do Céu Olaio nasceu e cresceu na Ervedeira, em Coimbrão (Leiria), e a sua vida esteve ligada à agricultura desde criança. Completou o nono ano de escolaridade, terminado já em adulta, e é sócia-gerente da empresa Leal e Olaio – Comércio de Madeiras e Lenhas Lda., fazendo o acompanhamento das equipas de corte no terreno.

Maria do Céu Olaio escreve segundo as regras anteriores ao atual acordo ortográfico.