A Comissária von der Leyen quer transformar a Europa no primeiro continente do mundo neutro em carbono, até 2050. A ambição está expressa na “carta de missão” que a Presidente da Comissão Europeia dirigiu ao novo Comissário para o European Green Deal que, nos seus primeiros 100 dias de mandato, vai desenvolver o chamado Acordo Verde.
A atribuição de pastas pelos comissários europeus foi revelada hoje, dia 10 de setembro, em Bruxelas, num discurso em que a Comissária von der Leyen reiterou a adoção de “medidas decisivas para fazer face às alterações climáticas” entre as prioridades para o mandato 2019-2024.
Entre as escolhas da Comissária von der Leyen está o holandês Frans Timmermans, que se mantém, mas com novas responsabilidades: era o primeiro vice-presidente da anterior Comissão e responsável pelo desenvolvimento sustentável e assume agora a pasta de vice-presidente executivo e do European Green Deal.
De referir também a escolha de Virginijus Sinkevičius, o ministro lituano da Economia e Inovação, para assegurar a função de comissário europeu para pelouro do Ambiente e Oceanos, que inclui, entre outros, o tema das florestas e biodiversidade.
Os objetivos traçados pela Comissária von der Leyen estão resumidos em “cartas de missão”, de conhecimento público.
Na “carta de missão” dirigida ao comissário Timmermans, von der Leyen reforçou a importância estratégica do European Green Deal: que “deve tornar-se a marca distintiva da Europa. No seu coração está o nosso compromisso de nos tornarmos no primeiro continente do mundo neutro em carbono. Tal vai exigir ambição coletiva, liderança política e uma transição justa para os mais afetados”, pode ler-se no documento. A missão de Timmermans neste mandato inclui:
– Liderar o desenvolvimento do “Acordo Verde Europeu”, nos primeiros 100 dias de mandato. Neste documento, deverá estar claro o compromisso de neutralidade carbónica de 2050, assim como uma maior ambição nas metas de redução de emissões para 2030 (para, no mínimo, 50%).
– Propor, também nos primeiros 100 dias em funções, a primeira Lei Europeia do Clima, que permita a passagem das metas de neutralidade carbónica em 2050 para a legislação europeia. Nesse sentido, deverá ser assegurada a implementação de diversos instrumentos legislativos, como o Comércio Europeu de Licenças de Emissão e a regulação no uso do solo, alterações ao uso do solo e silvicultura.
Entre os vários pontos da missão definida para o comissário Sinkevičius, destacam-se:
– Desenvolver uma nova Estratégia para a Biodiversidade 2030 (cuja coordenação estará a cargo do comissário para o Clima), que abranja temas como a rede Natura2000, a desflorestação, a degradação do solo, as espécies e habitats protegidos, assim como os oceanos e mares sustentáveis.
– Assegurar a liderança europeia na obtenção de um acordo global ambicioso na Conferência das Partes na Convenção sobre a Diversidade Biológica, em 2020;
– Orientar o desenvolvimento de um novo Plano de Ação para a Economia Circular, que deve estar ligado à nova estratégia industrial da União Europeia.
Ainda nas suas funções na anterior Comissão, Frans Timmermans afirmava que “não atingiremos as nossas metas climáticas se não protegermos as florestas do mundo”, a propósito do lançamento de uma Comunicação da Comissão Europeia sobre a intensificação da ação para proteger e restaurar as florestas do mundo, a 23 de julho.
Esta Comunicação, que surgiu como resposta à destruição contínua das florestas mundiais, tem como objetivo proteger e melhorar a saúde das florestas, assim como aumentar a cobertura florestal sustentável em todo o mundo.
Uma das novidades passa pela criação de um Observatório Europeu, responsável por monitorizar o estado da desflorestação, da degradação florestal e das alterações globais ao coberto florestal. A Comunicação relembra, a propósito, que, entre 1990 e 2016, foi perdida, a cada hora, uma área florestal equivalente a 800 campos de futebol (1,3 milhões de quilómetros quadrados).
O novo Observatório é apenas uma das medidas propostas pela Comissão Europeia, que se estruturam em cinco prioridades:
1. Reduzir a pegada de consumo de solo na União Europeia, incentivando o consumo de produtos com origem em cadeias de abastecimento não associadas à desflorestação (inclui o reforço de standards e esquemas de certificação que identifiquem e promovam produtos não associados à desflorestação);
2. Trabalhar em parceria com os países produtores para reduzir as pressões sobre as florestas e para garantir uma cooperação para o desenvolvimento “à prova de desflorestação”;
3. Reforçar a cooperação internacional para travar a desflorestação e degradação florestal, assim como para incentivar a restauração florestal (inclui o reforço de cooperação em polícias e ações definidas em fóruns globais – como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura – e a promoção de acordos comerciais que contemplem a conservação e a gestão sustentável das florestas);
4. Reorientar o financiamento para o apoio de práticas mais sustentáveis de uso dos solos (inclui a avaliação de possíveis mecanismos sustentáveis que possam catalisar o financiamento “verde” para as florestas):
5. Apoiar a disponibilidade, qualidade e acesso a informação sobre as florestas, cadeias de abastecimento de produtos de base florestal (inclui a criação do novo Observatório Europeu sobre desflorestação).
Imagem: © European Union, 2019