A FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura disponibilizou recentemente uma ferramenta online que ajuda a monitorizar e melhorar a gestão da água no contexto florestal. A FL-WES pode ser usada de forma gratuita por qualquer pessoa ou organização interessada em adotar práticas de gestão que conjuguem floresta e água, em áreas públicas ou privada, independentemente da sua dimensão.
Disponível online, a ferramenta “Forest and Landscape Water Ecosystem Services”, abreviada na sigla FL-WES, quer ajudar decisores, proprietários e gestores a compreender e analisar as complexas interações entre as florestas e a água, permitindo que conheçam e apliquem as melhores práticas de conservação da água na gestão florestal.
Como reforça Elaine Springgay, no comunicado que dá a conhecer a FL-WES, “atualmente gerimos apenas 12% das florestas do mundo com a conservação da água como prioridade”, mas porque as floresta são essenciais para garantir a água necessária para “vivermos e prosperarmos, é importante que a relação água-floresta não seja negligenciada na política e na gestão”.
A FL-WES foi construída pela equipa Floresta e Água da FAO, com o apoio de um vasto conjunto de especialistas externos de diferentes países e organizações, que lhe trouxeram múltiplas perspetivas decorrentes das suas experiências. Em resultado deste processo, a ferramenta incorpora seis grandes indicadores quantitativos e qualitativos, dentro dos quais estão integrados 20 subindicadores e 69 variáveis que medem fatores biofísicos, políticos e socioeconómicos que enquadram a importância de considerar a água na gestão florestal.
Depois de se registar e preencher o questionário que permite a recolha de informação, o utilizador recebe uma resposta personalizada do sistema, com indicações ou recomendações relativas ao seu caso específico, que podem aconselhar desde zonas tampão a considerar nas margens dos rios, aos níveis de água a monitorizar ou aos indicadores de qualidade da água a medir.
Consoante a informação disponibilizada no questionário inicial, o sistema adapta as indicações também em função dos recursos financeiros disponíveis caso a caso. Por exemplo, recomendará formas de avaliação visual a um pequeno proprietário florestal, mas aconselhará a uma organização com vastos hectares de floresta e amplos recursos financeiros o uso de tecnologias avançadas, que viabilizem a monitorização de múltiplas variáveis, desde a poluição da água aos impactes da erosão.
Os seis indicadores que servem de base à aplicação disponibilizada pela FAO permitem estabelecer um enquadramento muito completo sobre “água e floresta” num determinado território natural ou propriedade florestal. Em conjunto, ajudam a compreender e avaliar os impactes que diferentes práticas de gestão aplicadas ao binómio água-floresta têm sobre a envolvente, considerando comunidades humanas, ecossistemas, biodiversidade e paisagem.
Esta informação é uma ferramenta relevante tanto para o Estado, como para associações, empresas e proprietários florestais, que, na gestão de zonas florestais e florestadas, passam a ter uma visão integrada e mais clara sobre a forma como a disponibilidade e qualidade da água dependem, em larga medida, da saúde das suas florestas.
Os seis indicadores do FL-WES ajudam a perceber esta relação e a saber como integrar a água na gestão florestal:
1. Estado do abastecimento da água – avalia o abastecimento de água, considerando quantidade e tempo dos fluxos que entram e saem das áreas florestadas, em comparação com dados de referência. A quantidade e o tempo dos fluxos das águas superficiais e subterrâneas – e as suas alterações – são influenciados pelas práticas de gestão da floresta e paisagem (plantação, corte, estrutura de povoamentos florestais, etc.), e estes indicadores devem ser considerados para melhorar as práticas de gestão. Por exemplo, a quantidade de água que flui das florestas (pela análise de padrões anuais e de longo prazo) ajuda a determinar se a gestão florestal é adequada e constitui um bom indicador da saúde do ecossistema.
2. Estado da qualidade da água – avalia a qualidade de água que se encontra dentro da área florestal em causa e a que dela flui, em comparação com dados de referência. Ao fazê-lo ajuda a compreender como as práticas florestais ou de gestão da paisagem podem estar a afetar, no local e a montante, vários processos químicos, biológicos e hidromorfológicos que condicionam a qualidade da água e que podem afetar a água para consumo humano e os ecossistemas que dependem dela.
3. Serviços do ecossistema relacionados com a água – avalia a capacidade das florestas para fornecer serviços do ecossistema relacionados com as funções desempenhadas pela água. Nomeadamente o seu contributo para a redução da erosão do solo e o controlo de cheias ou para a melhoria da biodiversidade das espécies aquáticas no local.
4. Gestão integrada – avalia as práticas da gestão integrada da água e da floresta. A análise de como é gerida a relação floresta-água ajuda a reconhecer o que é preciso considerar ou alterar para implementar soluções de gestão conjunta, que tenham em consideração as necessidades de utilização de água a montante e a jusante, e o seu uso sustentável ao longo do tempo.
5. Favorabilidade do contexto – avalia se as condições de contexto, por exemplo políticas legislativas e financeiras, podem favorecer abordagens integradas de gestão da floresta e da água ou se, pelo contrário, o enquadramento existente as desfavorece. Em caso de desfavorecimento, ajuda também a identificar lacunas e barreiras a ultrapassar;
6. Benefícios socioeconómicos – avalia o impacte que a gestão florestal relacionada com a água tem para a criação de benefícios socioeconómicos. Conhecer estes impactes é relevante para compreender e identificar de que modo diferentes práticas de gestão criam benefícios e oportunidades para as comunidades – nomeadamente as comunidades rurais em torno de zonas florestais – nas mais variadas áreas, desde o seu acesso à água à melhoria das condições sociais, económicas ou culturais.