A área florestal continua a diminuir no mundo. Atualmente, as florestas ocupam 4,06 mil milhões de hectares, o que equivale a 31% da área terrestre do planeta. Foram perdidos 178 milhões de hectares nos últimos 30 anos, embora o ritmo tenha abrandado. Estas são algumas das conclusões preliminares sobre as florestas mundiais do relatório Global Forest Resources Asssessment 2020 (FRA 2020) das Nações Unidas, divulgadas em maio.
Em média, esta área global de florestas representa o equivalente a 0,52 hectares (cerca de meio campo de futebol) por pessoa. Existem, no entanto, grandes diferenças na área ocupada de acordo com os vários tipos de ecossistemas. As florestas tropicais (maioritariamente na América central e do sul e África) representam 45% do total mundial, seguindo-se as florestas boreais no hemisfério norte do globo com 27% da área, as florestas temperadas (abundantes na Europa e América do norte) com 16% e as florestas subtropicais (como as de Portugal e Espanha) com 11%. Embora espalhadas pelo globo, cinco países concentram mais de metade (54%) da floresta global: a Rússia (20%), Brasil (12%), Canadá (9%), Estados Unidos da América (8%) e China (5%).
A área de florestas perdida no mundo entre 1990 e 2020 equivale a mais de 20 vezes a área de Portugal Continental. Apesar do impacte negativo da destruição destes ecossistemas, a publicação sublinha que o ritmo de perda tem diminuído: passou de uma média de 7,8 milhões de hectares perdidos por ano na década 1990-2000 para 4,7 milhões de hectares/ano perdidos na última década (2010-2020).
O abrandamento da destruição das florestas deve-se à combinação de dois fatores. Por um lado, o ritmo de desflorestação tem vindo a diminuir, chegando a uma média anual de 10 milhões de hectares no período 2015-2020. Por outro lado, o contributo de novas áreas plantadas e a expansão natural das florestas mundiais tem permitido atenuar o impacte da desflorestação. A área de florestas plantadas aumentou em 123 milhões de hectares desde 1990, embora o crescimento da área de plantações tenha também desacelerado na última década.
As florestas primárias – florestas compostas por espécies nativas em que não há uma clara intervenção humana – ocupam, pelo menos, 1,11 mil milhões de hectares (27,3% das florestas mundiais), embora a área tenha diminuído 81 milhões de hectares desde 1990. Brasil, Canadá e Rússia concentram a maior parte (61%) da área de florestas primárias do mundo.
As conclusões preliminares do FRA 2020 deixam perspetivas positivas em relação à gestão florestal. Este é um indicador importante para avaliar a intenção de gerir os recursos florestais de forma responsável. As áreas de floresta com planos de gestão estão a aumentar em todas as regiões do globo, atingindo um total de 2,05 mil milhões de hectares em 2020, mais 233 milhões de hectares desde 2000. Isto significa que, atualmente, cerca de metade das florestas do mundo (54%) está sob gestão florestal responsável. Na Europa, 96% das áreas florestais têm planos de gestão.
Cerca de 30% de todas as florestas mundiais (1,15 mil milhões de hectares) são geridas principalmente para a produção de madeira e outros produtos florestais, um valor que se tem mantido relativamente estável ao longo das décadas, como indica o relatório das Nações Unidas. Existem ainda outros 749 milhões de hectares destinados a múltiplos usos, que frequentemente incluem produção.
As florestas plantadas correspondem a 7% da área global (290 milhões de hectares). Destes, apenas cerca de 131 milhões de hectares, ou seja, 45% das florestas plantadas (3% do total das florestas mundiais) são geridos de forma intensiva, com objetivos de produção.
De referir que, apesar da sua reduzida área global, as florestas plantadas contribuem para aliviar a pressão sobre as restantes florestas na procura por matérias-primas, como referido pela iniciativa “Plantações de Nova Geração”, da organização ambiental WWF – World Wide Fund for Nature.
Estima-se que 726 milhões de hectares de florestas no mundo estejam em áreas protegidas, o que traduz o valor destes ecossistemas em termos ecológicos. A inclusão de florestas em áreas protegidas tem vindo a aumentar desde 1990 (+191 milhões de hectares), mas o ritmo abrandou na última década. A América do Sul tem a maior percentagem de florestas em áreas protegidas, 31%. Na Europa, essa percentagem é de apenas 6%.
No que diz respeito à importância destes habitats, cerca de 10% das florestas mundiais – 424 milhões de hectares – estão, atualmente, destinados maioritariamente à conservação da biodiversidade.
As florestas enfrentam, em todo o mundo, ameaças à sua saúde e vitalidade. Estes desafios – naturais e provocados pela atividade humana – podem contribuir para a degradação dos ecossistemas e afetar a sua capacidade de providenciar produtos e serviços ecológicos (como a proteção do solo e água, reserva de biodiversidade, sequestro de carbono e paisagem, entre outros).
O FRA 2020 indica que cerca de 98 milhões de hectares de floresta foram afetados pelo fogo em 2015, sobretudo nos trópicos. Pragas, doenças e eventos climáticos extremos danificaram, nesse mesmo ano, cerca de 40 milhões de hectares de florestas.
Por outro lado, a capacidade de sequestro de carbono dos ecossistemas florestais, no seu todo, tem vindo a diminuir, acompanhando a redução da área total de floresta. Estas são más notícias, dado que as florestas representam um aliado importante na mitigação das alterações climáticas (são os ecossistemas terrestres com maior capacidade de sequestro de carbono). Este acaba por ser um círculo vicioso, já que as alterações climáticas aceleram e agravam perturbações como incêndios, tempestades, pragas e doenças – fenómenos que contribuem para diminuir a capacidade de armazenamento de carbono das florestas.
As Nações Unidas quantificam, a este nível, que o stock de carbono armazenado nas florestas diminuiu de 668 gigatoneladas em 1990 para 662 gigatoneladas em 2020.
Os indicadores das Nações Unidas mostram que 73% das florestas mundiais se mantêm sob propriedade pública, enquanto 22% são de propriedade privada. Os restantes 5% não têm propriedade conhecida ou apresentam diferentes modelos de gestão.
As florestas públicas predominam um pouco por todo o mundo, embora a área de florestas privadas tenha vindo a aumentar desde 1990. A Oceânia e a América (Norte, Central e Sul) apresentam as maiores percentagens de florestas privadas, enquanto que, na Europa, apenas 9% da floresta é privada, com destaque para a floresta portuguesa.
O Global Forest Resources Assessment é um dos principais recursos para conhecer o estado atual das florestas de todo o mundo. Os relatórios são elaborados pelo departamento florestal da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura e divulgados de cinco em cinco anos.
Para já, ainda só foram apresentadas as principais conclusões do FRA 2020 (que podem ser consultadas, de forma interativa, no website da FAO). O relatório completo, com análises detalhadas e panoramas individuais dos 236 países e territórios avaliados, será publicado em junho deste ano.
Imagem de topo: © FAO / Global Forest Resources Assessment 2020