A Semana dos Polinizadores da União Europeia destacou a necessidade de aprofundar o conhecimento sobre os fatores que motivam o declínio destes organismos e de reforçar medidas benéficas, nomeadamente a proteção dos seus habitats.
A nossa qualidade de vida — e o nosso futuro — depende dos vários serviços que a natureza disponibiliza. A polinização é um dos serviços vitais e para a sua manutenção é essencial a conservação das áreas de florestas e matos. Atualmente, os insetos polinizadores enfrentam um declínio alarmante, uma preocupação que marcou a recente Semana dos Polinizadores da UE.
A alteração do uso do solo, a utilização de pesticidas de forma intensiva, a poluição ambiental, as espécies exóticas invasoras e os efeitos das alterações climáticas trazem pressões acrescidas a estas espécies e ao equilíbrio dos ecossistemas. Ao longo de quatro dias, vários especialistas e organizações debateram estes desafios neste evento europeu, assim como a necessidade de “um novo acordo para os polinizadores” que proteja estes organismos essenciais para a biodiversidade.
“Precisamos de fazer mais para preservar os habitats dos polinizadores, especialmente nas áreas agrícolas, mas também nas áreas urbanas”, definindo metas para o restauro da natureza e tornando as cidades mais verdes. O alerta foi deixado por Frans Timmermans, vice-presidente executivo da Comissão Europeia para o Pacto Ecológico Europeu, numa mensagem na sessão de abertura da Semana dos Polinizadores da UE, que decorreu de 27 a 30 de setembro.
A plantação de espécies de flores e de árvores que alimentam as abelhas ou a manutenção de áreas com vegetação espontânea em parques e jardins urbanos são algumas das medidas que se podem adotar.
No seu relatório “The pollination services of forests”, a Organização para a Alimentação e Agricultura, que também se fez representar neste evento, defende a importância das matas ribeirinhas e das florestas como recursos essenciais para o abrigo dos polinizadores.
Frans Timmermans deixou a garantia de que a Comissão Europeia está comprometida em proteger estes organismos fundamentais para a reprodução das plantas e para o fornecimento de alimentos – que anualmente representam cerca de 15 mil milhões de euros da produção agrícola da União Europeia (UE). Mas será “preciso um amplo esforço de toda a sociedade para inverter o declínio dos polinizadores até 2030”.
A Comissão Europeia está já a trabalhar para inverter o atual cenário de declínio dos polinizadores, através de várias estratégias como o Pacto Ecológico Europeu e outros instrumentos, como a iniciativa da UE relativa aos polinizadores, lançada em 2018, que inclui dez ações distribuídas por três temas prioritários:
• Melhorar o conhecimento sobre as causas e as consequências do declínio dos polinizadores;
• Combater as causas do declínio dos polinizadores;
• Sensibilizar, envolver a sociedade em geral e promover a colaboração.
Na sessão “Um novo acordo para os polinizadores”, Stefan Leiner, chefe da Unidade de Biodiversidade da Direção Geral de Ambiente da Comissão Europeia, salientou a importância deste documento estratégico. Mas, apesar dos progressos registados, “é preciso fazer mais”, pelo que a revisão da iniciativa da UE relativa aos polinizadores já está em curso.
Stefan Leiner destacou a necessidade de perceber o que está de facto a acontecer aos organismos polinizadores, já que permanecem lacunas significativas em termos de dados e de informações sobre o seu estado, as causas do seu declínio e as consequências desse processo para a natureza e o bem-estar humano.
Em junho de 2019, a Comissão Europeia mandatou um grupo de peritos para elaborar uma proposta de sistema de monitorização no terreno que fornecesse informações sólidas sobre o estado – e as tendências – das populações de polinizadores nos Estados-Membros. A proposta dos peritos, publicada em janeiro deste ano, proporciona uma metodologia abrangente para o sistema de monitorização, bem como um conjunto de indicadores de políticas. A Comissão vai agora trabalhar, em colaboração com os vários países, no aperfeiçoamento e operacionalização da proposta e no reforço das capacidades para aplicar o regime no terreno, de forma que o mesmo esteja “operacional em 2023”, acrescentou Stefan Leiner.
Recorde-se que, em 20 de maio de 2020, a Comissão Europeia adotou a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030 e a Estratégia do Prado ao Prato, duas iniciativas emblemáticas no âmbito do Pacto Ecológico Europeu que impulsionarão ações para inverter o declínio dos polinizadores mediante compromissos e metas para a proteção da natureza. Em conjunto com a nova Estratégia da UE para a Adaptação às Alterações Climáticas e uma ambição reforçada em termos de neutralidade climática e poluição zero, espera-se que estas ações ajudem a reverter as principais ameaças para os organismos polinizadores.
Existem milhares de espécies de organismos polinizadores, que transportam o pólen entre flores, possibilitando a reprodução de plantas e a formação de frutos e sementes. Mas há ainda muito para descobrir.
Nesse sentido, no nosso país, decorre o projeto “Polinizadores de Portugal”. Esta iniciativa de ciência cidadã desafia toda a gente a fotografar organismos polinizadores e a submeter as suas observações na plataforma Biodiversity4All. Com a ajuda de mais de 3300 observadores, já foram identificadas mais de 3700 espécies. Entre os polinizadores existentes na plataforma encontram-se borboletas, abelhas, escaravelhos, aranhas, abelhões, joaninhas, percevejos, moscas, vespas e formigas.