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05.05.2022

Mapa de risco de erosão do solo indica prioridades de atuação após incêndio

Mapa de risco de erosão do solo indica prioridades de atuação após incêndio

A erosão do solo que se verifica após um incêndio comporta riscos acrescidos – desde inundações a derrocadas – e mitigá-los implica saber onde é prioritário atuar. Para apoiar esta resposta, uma equipa da Universidade de Aveiro desenvolveu um mapa de risco de erosão do solo após incêndio para Portugal continental.

Investigadores da Universidade de Aveiro desenvolveram o primeiro mapa português de risco de erosão do solo após incêndio. Esta ferramenta vem apoiar proprietários e entidades competentes em matéria de gestão florestal a identificar as áreas do país nas quais a erosão do solo pode ser mais pronunciada e trazer piores consequências depois da ocorrência de incêndios – uma informação essencial para saber onde atuar para minimizar perdas ambientais e económicas.

O conhecimento que daqui resulta facilita definir onde é prioritário conjugar esforços para prevenir o fogo, combatê-lo e atuar em tempo útil na minimização de impactes negativos caso ele ocorra, nomeadamente no que diz respeito à implementação de medidas de emergência para estabilização do solo.

O mapa de risco de erosão do solo, uma ferramenta inédita no nosso país, poderá ajudar a contrariar a reduzida intervenção após incêndio em Portugal, uma realidade atribuída, em parte, à falta de ferramentas de diagnóstico que indiquem as áreas de elevado risco.

 

Risco de erosão do solo mais elevado na região Norte-Centro

 

Segundo a equipa envolvida neste projeto, em condições de elevada severidade do incêndio, a região Centro-Norte de Portugal continental é a que concentra a maior densidade de áreas com risco muito elevado de erosão de solo após incêndio, embora estas áreas existam também em pontos dispersos noutras zonas do país.

 

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Fonte: Parente, J., Girona-García, A., Lopes, A.R. et al. “Prediction, validation, and uncertainties of a nation-wide post-fire soil erosion risk assessment in Portugal”. Sci Rep 12, 2945 (2022). https://doi.org/10.1038/s41598-022-07066-x, acedido em abril de 2022, na Nature.com

 

Este resultado deve-se a uma conjugação de fatores, como a topografia da região, os níveis de precipitação e a tipologia de vegetação na área – é na zona Centro-Norte de Portugal que se localiza a maior densidade de povoamentos florestais e zonas de matos.

Segundo explica, em comunicado, a Universidade de Aveiro, esta é uma das zonas do país com maior recorrência de incêndios e que, ao mesmo tempo, providencia importantes serviços de ecossistemas para o país, designadamente serviços relacionados com a quantidade e qualidade da água para consumo humano, sublinhando a importância de uma gestão de fogos rurais que integre a prevenção, o combate e o restauro pós-fogo.

Desenvolvido no âmbito do Projeto FEMME, o mapa de risco de erosão do solo – e o trabalho que permitiu a sua elaboração – foi divulgado no artigo Prediction, validation, and uncertainties of a nation-wide post-fire erosion risk assessment in Portugal, publicado na Scientific Reports, revista científica do grupo Nature.

A modelação subjacente ao mapeamento foi feita com base na Carta de Uso e Ocupação do Solo – COS2018 e em dados de precipitação, recorrência de incêndios e severidade recolhidos durante 38 anos, entre 1980 e 2018.

 

A importância de minimizar a erosão do solo após o fogo

 

Sempre que ocorre um incêndio rural os danos podem ser avaliados sob diversas dimensões. Além dos prejuízos económicos diretos (perda de culturas e edificações, por exemplo), há que contabilizar múltiplos impactes, nomeadamente ecológicos, como a redução da biodiversidade nas zonas afetadas, as condições favoráveis à expansão das espécies invasoras e as alterações do equilíbrio do solo.

Alguns destes impactes adversos não se refletem no imediato, mas sim após as primeiras chuvas que vão intensificar a erosão do solo. Por exemplo, as cinzas diminuem a capacidade de infiltração da água no solo, favorecendo o arrastamento de sedimentos que contaminam os cursos de água, as inundações, enxurradas e deslizamentos de terra.

Estas são algumas das razões que justificam a rápida implementação de medidas de mitigação do risco de erosão do solo depois de um incêndio, as primeiras das quais – estabilização de emergência – devem ocorrer antes das primeiras chuvas. Isto implica um tempo muito curto de decisão e atuação, considerando o pequeno intervalo entre a época mais propícia a incêndios e a ocorrência das primeiras chuvas.

A questão reveste-se da maior importância se tivermos em conta as pressões acrescidas das alterações climáticas, quer porque os fenómenos climáticos extremos e o aquecimento da temperatura tendem a intensificar – em número, dimensão e gravidade – os incêndios, quer pelo que significam também para os desequilíbrios do solo, pela intensificação de situações de seca ou chuvas torrenciais.

Em paralelo, é preciso considerar também o tempo alargado necessário para recuperar os solos danificados. Basta pensar nas estimativas que indicam serem necessários mil anos para a formação de um centímetro de solo de superfície. Face a estas pressões, a que acrescem custos elevados das medidas de intervenção nos solos após incêndio, é essencial ter instrumentos e metodologias que permitam fazer um diagnóstico atempado dos impactes dos incêndios e que apoiem a tomada de decisão para minimizá-los.