O desconhecimento sobre as espécies de plantas que existem em áreas de grande diversidade vegetal no mundo e o declínio acentuado das populações animais nos últimos 50 anos estão em foco nos estudos internacionais sobre o estado da biodiversidade, divulgados pelo Royal Botanical Gardens, Kew e pela WWF – World Wide Fund for Nature.
O estudo financiado pelo Royal Botanical Gardens, Kew, identifica zonas do mundo onde existe grande diversidade de plantas das quais se sabe muito pouco. São espécies de áreas que estão sub-representadas em coleções botânicas, muitas não estão descritas pela ciência e têm poucos ou nenhuns registos sobre a sua distribuição. Carecem, por isso, de estratégias de proteção ou conservação.
Publicado na revista científica New Phytologist, este trabalho identifica 33 darkspots a nível global – zonas em que “estamos no escuro” sobre a biodiversidade da flora –, consideradas essenciais para a preservação da diversidade genética. No entanto, este desconhecimento (ou pouco conhecimento) acaba por dificultar a avaliação do estado da biodiversidade. Assim, as espécies lá existentes perdem-se mesmo antes de ser descritas, aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas.
Com a definição dos darkspots prioritários, este estudo, intitulado “Plant diversity darkspots for global collection priorities” determina onde se localizam estas regiões prioritárias para a recolha de exemplares (que serão alvo de estudo, identificação e descrição taxonómica) e quais aquelas onde a conservação deve ser privilegiada para reverter ou travar a perda de biodiversidade.
Por sua vez, a WWF divulgou o Relatório Living Planet 2024 (Planeta Vivo), um documento bienal que atualiza o estado da biodiversidade e da saúde do planeta. O documento reporta que nos últimos 50 anos – entre 1970 e 2020 – houve um declínio de 73% no tamanho médio das populações de anfíbios, aves, peixes, mamíferos e répteis, de um total de 5495 espécies monitorizadas pelo Living Planet Index.
Este relatório sublinha que nos próximos cinco anos é necessário reforçar seriamente os compromissos e investimentos para travar as perdas de biodiversidade e o aumento da temperatura global, uma vez que os atuais são insuficientes:
- Mais de metade dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 2030) não serão alcançados. De facto, 30% estão estagnados ou a piorar face ao ponto de partida em 2015;
- Os compromissos climáticos assumidos nacionalmente levariam a um aumento médio da temperatura global de quase 3°C até ao final do século, desencadeando, inevitavelmente, múltiplos pontos críticos catastróficos;
- As estratégias e planos de ação para a biodiversidade, estabelecidos pelos vários países, são inadequados e carecem de apoio financeiro e institucional.
Ao atualizarem indicadores sobre o estado da biodiversidade e as prioridades de atuação, ambos os trabalhos trazem informações relevantes para as decisões a tomar na COP 16 – Convenção sobre Diversidade Biológica, que está a decorrer de 21 de outubro a 1 de novembro de 2024, na Colômbia, sob o tema “Em paz com a natureza”.