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Espécies Invasoras

Quais são as técnicas a aplicar para o controlo de acácias?

Presentes no nosso país desde o século XIX, algumas espécies de acácias naturalizaram-se. Contudo, começaram a proliferar de forma descontrolada (especialmente em zonas percorridas pelo fogo), sendo necessário proceder ao controlo de acácias de modo a conter a sua multiplicação.

Há muito que a proliferação de diferentes espécies de acácias foi reconhecida como uma ameaça e as primeiras restrições à sua utilização podem ser encontradas na legislação desde 1937 (Lei n.º 1.951, de 9/3/1937). Em 1999, o Decreto-Lei n.º 565/99 de 21 de dezembro (depois revogado pelo Decreto-Lei nº 92/2019) já listava as acácias como espécies invasoras a determinava que a sua utilização era proibida. Este último Decreto-Lei n.º 92/2019 lista igualmente as plantas invasoras de utilização proibida em Portugal.

Os principais métodos de controlo de acácias dividem-se em manuais, mecânicos, químicos e biológicos, sendo ainda possível usar o fogo controlado ou o pastoreio.

Manual: Envolve o arranque manual das acácias ou o descasque (remoção de parte da casca, seguida de secagem e corte do tronco). Estas técnicas não têm impactes ambientais negativos e são muito eficazes, mas não se aplicam a todas as espécies nem a todas as situações e, sendo manuais, podem ter um custo muito elevado.

Mecânico: Requer a utilização de máquinas, sejam elas ligeiras, como as motorroçadoras, ou pesadas, como os destroçadores. São técnicas de elevado rendimento, mas com alguns impactes, como a compactação do solo (por onde passam as máquinas), e exigem intervenções recorrentes.

Químico: É feito usando herbicidas e é um dos que apresenta maior eficácia, mas qualquer pesticida acarreta toxicidade e há que tomar cuidado com seres vivos na zona. Além disso, a aplicação dos agentes químicos tem restrições legais e tem de ser feita por um aplicador certificado (Lei n.º 26/2013, de 11 de abril).

Biológico: Os métodos baseados em processos biológicos usam inimigos naturais das espécies invasoras, como insetos e outros organismos causadores de doenças que as atacam. Normalmente, estes organismos são originários das mesmas regiões em que as acácias crescem naturalmente, ou seja, da Austrália. Estes processos são sustentáveis e específicos à espécie que se está a tentar controlar, contudo correm-se sempre outros riscos quando se introduz uma espécie nova no ecossistema (a espécie pode ser nociva para outros organismos do ecossistema e, dada a complexidade dos ecossistemas, as consequências da sua presença são praticamente impossíveis de antecipar).

À esquerda, rebentação de toiça na acácia-negra; à direita, germinação de sementes na acácia-de-espigas. ©RAIZ

 

De notar que não há uma resposta “certa” para cada espécie. Quando se define um método para o controlo de acácias, importa ter presente que serão necessárias ações de continuidade e manutenção. Por exemplo:

– Se o método escolhido for o corte, depois há que eliminar a germinação de sementes (com herbicida, por exemplo) no cepo que fica no solo juntamente com a raiz (chamado toiça ou touça) e em seu redor. Caso contrário, desta toiça voltarão a crescer novos rebentos e as sementes que ficam no chão vão germinar.

– Já se o método for o descasque, ele vai depois implicar o corte das árvores mortas e a eliminação da germinação de sementes que se acumularam por baixo das acácias.

– Se optarmos pelo fogo controlado também precisaremos de, em seguida, eliminar as sementes cuja germinação é estimulada pelo fogo.

Vejamos os diferentes métodos com mais detalhe.

 

Métodos manuais e mecânicos para controlo de acácias

 

Entre os métodos manuais e mecânicos, refiram-se:

Arranque manual e sacha

Pode ser aplicado a todas as plantas invasoras. O que se pretende é arrancar toda a planta, incluindo raízes, sendo particularmente eficaz nas plantas mais jovens. Apesar de eficaz, pode ser caro, pela quantidade de mão-de-obra necessária, em particular se as plantas já tiverem alguma dimensão e estiverem presentes em vastas áreas de terreno.

Deve ser feito em época de chuvas e é recomendado para níveis baixos a moderados de invasão por germinação de semente.

Corte com motorroçadora

É aplicável a todas as espécies de acácia, sendo especialmente recomendado para as espécies que, após cortadas, têm uma rebentação baixa a moderada (novos rebentos) a partir da toiça, como a acácia-de-espigas (Acacia longifolia), a acácia-virilda (Acacia provincialis, antes designada como Acacia retinodes), a Acacia pycnantha e a Acacia cyclops.

Nas espécies que rebentam vigorosamente de toiça, como a acácia-mimosa (Acacia dealbata), a acácia-negra (Acacia mearnsii) ou a acácia-austrália (Acacia melanoxylon), o corte com motorroçadora é adequado como controlo inicial, mas tem de ser seguido pela pulverização com herbicida dos rebentos jovens alguns meses após o corte.

As plantas devem ser cortadas tão rente ao solo quanto possível e seguro.

O corte deve ser feito em períodos secos (final do verão), pois é quando as acácias estão mais fragilizadas, por estarem em stress hídrico, desde que a utilização de máquinas seja permitida considerando as regras de prevenção de risco de incêndio.

Corte mecânico com destroçador

Pode ser usada uma máquina destroçadora como alternativa ao corte com motorroçadora, sendo útil em áreas em que é invasão é muito extensa e como forma de atuação inicial.

Pode ser usado em qualquer espécie de acácia, mas devem sempre prever-se ações de continuidade, pois há uma elevada probabilidade de surgirem novos rebentos a partir das toiças e germinação do banco de sementes.

O corte deve ser feito em períodos secos (final do verão), desde que a operação seja compatível com as regras em vigor para o risco de incêndio.

Gradagem

A gradagem é feita por um trator que manipula uma grade, a qual permite o corte da vegetação (e a incorporação total ou parcial da vegetação cortada no solo). Pode ser usada como alternativa ao corte com motorroçadora ou como método complementar. Pode ser útil em áreas muito invadidas, como passo inicial para o controlo de acácias.

É preciso atenção para não usar a gradagem em áreas com sementões isolados (árvores com idade, dimensão e estrutura favoráveis à produção de muitas sementes), pois há o risco de espalhar as sementes que se acumularam no solo em redor.

Descasque

Só pode ser feito em plantas adultas, com casca lisa, e aplica-se apenas às espécies acácia-mimosa, acácia-negra e acácia-austrália.

O descasque deve ser feito quando as árvores estão na fase de crescimento ativo, ou seja, na primavera ou no outono.

Como é feito o descasque? Faz-se uma incisão na casca, até chegar à madeira, a toda a volta da árvore (incisão em anel), a uma altura que seja confortável para o operador, e depois remove-se a casca desde a incisão até ao solo. A árvore deve permanecer a secar e só quando estiver completamente seca deve ser cortada, o que pode demorar um ano ou mais.

 

À esquerda, corte com destroçador; à direita, pormenor do descasque. ©RAIZ

 

Controlo de acácias por métodos químicos

 

Recorde-se que nos métodos químicos é necessário respeitar a legislação e as boas-práticas de aplicação de fitofármacos, que está limitada apenas a profissionais certificados e a herbicidas autorizados.

Corte e pincelagem com herbicida:

Aplicação de herbicida, pincelando a touça, após o corte da planta. É um método recomendado para plantas adultas de espécies que rebentem vigorosamente de toiça – como a acácia-mimosa, acácia-negra, acácia-austrália e Acacia saligna –, embora possa ser aplicado a qualquer acácia.

Pulverização com herbicida:

Esta pulverização é recomendada para plantas jovens, tanto para os rebentos que começam a nascer a partir das toiças como as que resultam da germinação das sementes. A eficácia deste método é algo limitada na acácia-de-espigas e na acácia-austrália, pois as suas folhas repelem os líquidos (são hidrofóbicas), pelo que o herbicida tende a formar gotículas e a escorrer.

A pulverização deve ser feita quando os rebentos estão em crescimento ativo, na primavera e no outono.

 

Métodos biológicos

 

Um método biológico foi autorizado em Portugal, pela primeira em 2015, para a acácia-de-espigas, usando a vespa-australiana-formadora-de-galhas (Trichilogaster acaciaelongifoliae), específica desta espécie. Esta vespa é usada há mais de 30 anos na África do Sul, diminuindo em mais de 85% a produção de sementes da acácia.

Esta vespa põe os seus ovos nas gemas que originam as flores, dando origem a uma galha (ou bugalho ou excrescência arredondada) no lugar onde nasceriam as flores. Assim, reduz dramaticamente a produção de flores, sem as quais não há frutos nem sementes, e enfraquece as plantas, chegando mesmo a fazer secar os ramos.

Estão a ser feitos testes em Portugal para a acácia-mimosa e acácia-austrália, usando respetivamente como agentes biológicos os gorgulhos Melanterius maculatus e Melanterius acaciae, que têm sido aplicados com sucesso na África do Sul. Esta espécie alimenta-se das sementes das acácias, reduzindo o seu número.

 

Outros métodos

 

O fogo controlado e o pastoreio são outras técnicas que podem apoiar o controlo de acácia invasoras:

– Fogo controlado

A utilização do fogo controlado é uma técnica de gestão de vegetação com grande rendimento e de baixo custo para reduzir o banco de sementes, uma vez que estimula a germinação, podendo estas ser facilmente arrancadas ou cortadas logo depois. Contudo, é um método que comporta riscos e que só pode ser feito por equipas técnicas especializadas e em determinadas alturas do ano (evitando, principalmente, os períodos de maior risco de incêndio).

– Pastoreio

Os animais de pasto, especialmente as cabras, alimentam-se da acácia-mimosa e podem ser aliados para travar o crescimento dos rebentos e de pequenas plantas, que têm folhas tenras. Pode ser uma alternativa em áreas geridas, mas é necessário ter em atenção que as cabras preferem outras plantas e que não devem alimentar-se só de acácias, pois elas contêm taninos, um composto tóxico que não deve ser consumido em excesso.

 

Quadro resumo das técnicas de controlo de acácias

 

Método
Características da invasão
Restrições técnicas
Acácia-mimosa
Acácia-austrália
Acácia-de-espigas
Acácia-negra
Acacia saligna
Acacia cyclops
Acacia karroo
Acacia pycnantha
Acácia-virilda
ManualArranque manualBaixa densidade de plantas, até 50 cm de alturaRecomendado para germinação de semente
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SachaQualquer densidade de plantas, até 50 cm de alturaRecomendado para germinação de semente
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DescasqueBaixa densidade de plantas com mais de 4 cm de diâmetroRealizar na primavera ou no outono
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MecânicoCorte com motorroçadoraQualquer densidade de plantas, qualquer alturaCortar o mais rente possível ao solo
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Corte mecânico com destroçadorAlta densidade de plantas, qualquer altura
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GradagemAlta densidade de plantas, qualquer alturaNão gradar áreas com acácias de grande porte para não disseminar sementes
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Químico **Aplicação foliar/pulverização de herbicidaQualquer densidade, plantas até 50 cm de alturaEficácia limitada nas espécies com folhas cerosas
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Físico e químicoCorte e aplicação de herbicida **Baixa densidade de plantas com mais de 4 cm de diâmetro na basePincelar imediatamente após o corte, retirando o serrim e tendo atenção às bordas da toiça.
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*  Elevada probabilidade de rebentação a partir da toiça. Prever aplicação de herbicida sobre a rebentação.

** Cumprir os requisitos legais em vigor e as regras gerais de aplicação de fitofármacos.

+ moderadamente eficaz, ++ eficaz

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