Valor da Floresta
Não se sabe com exatidão qual é a disponibilidade de biomassa florestal residual em Portugal, nem em cada uma das suas regiões, por não existirem dados detalhados, mas parte significativa estará nas zonas cujas características bioclimáticas promovem maior produtividade florestal, a exemplo do litoral norte e centro do território continental.
Na estimativa efetuada pelo Plano Nacional para a Promoção das Biorrefinarias (2017), a região Centro, seguida pela região Norte, é aquela com maior potencial de biomassa florestal residual em Portugal, nomeadamente no que diz respeito a resíduos de espécies florestais, resíduos verdes herbáceos e matos:
• Centro e Norte são as regiões que apresentam maior concentração, com mais de um milhão e 850 mil toneladas por ano, respetivamente;
• Por espécie, o maior contributo para a biomassa florestal em Portugal vem dos resíduos de pinheiro-bravo (Pinus pinaster) e eucalipto (Eucalyptus sp.), com 543,9 e 447,9 mil toneladas por ano, respetivamente;
• No total, o potencial estimado destas componentes ascende a quase três milhões de toneladas por ano.
Somando à floresta outras fontes de biomassa residual apontadas neste Plano, como a agroindustrial e a agrícola, esta estimativa coloca a biomassa residual potencial da região do Alentejo e a da região Centro no topo da tabela, praticamente ao mesmo nível, cada uma com quantidades acima de 2,1 mil milhões de toneladas.
Estimativa da biomassa residual potencial nas regiões NUTS II (mil toneladas)
Região NUTS II | Pinheiro-bravo | Pinheiro-manso | Eucalipto | Sobreiro | Azinheira | Carvalhos | Outras espécies florestais | Matos | Resíduos verdes herbáceos | Agro-indústria | Agricultura | Total |
Norte | 168,5 | - | 82,4 | 2,8 | 1,4 | 65,4 | 57,2 | 100,0 | 374,0 | 851,7 | 9,4 | 1510 |
Centro | 331,5 | - | 216,7 | 9,5 | 4,8 | 34,8 | 20,9 | 100,0 | 342,6 | 1060,7 | 116,1 | 2165 |
AML | 9,1 | 5,4 | 9,1 | 5,0 | - | 0,4 | 2,2 | 52,0 | 24,0 | 107,3 | 36,3 | 326 |
Alentejo | 31,1 | 53,4 | 124,4 | 130,4 | 78,3 | - | 8,5 | 89,0 | 129,6 | 664,8 | 100,0 | 2181 |
Algarve | 3,6 | 17,8 | 15,2 | 7,3 | 3,0 | - | 8,7 | 100,0 | 155,1 | 310,8 | 57,3 | 589 |
Fonte: Plano Nacional para a Promoção das Biorrefinarias
O facto de a grande maioria das centrais que transformam a biomassa em energia estar localizada a Norte do Tejo é um indício de que há disponibilidade de biomassa nas regiões Centro e Norte.
Estas estimativas não são, no entanto, exaustivas. Não consideram, por exemplo, a biomassa florestal residual que resulta da indústria de base florestal, nem os produtos derivados da floresta que, já após o consumo, podem chegar ao seu final de vida como biomassa residual. Da mesma forma, baseiam-se num conjunto de resíduos representativo, mas não exaustivo do total gerado pela floresta, agricultura e agroindústria.
Um conhecimento mais aprofundado sobre a produção e disponibilidade de biomassa para energia é essencial para o correto planeamento, localização e dimensionamento das operações logística e de transformação.
Biomassa
A utilização de biomassa florestal residual para produção de energia é reconhecida como um recurso sustentável que apoia a transição energética e as metas climáticas, reduzindo o uso de combustíveis fósseis. Mas que quantidade está disponível em Portugal e quem a transforma em energia?
Energia
Em África, 90% da madeira retirada das florestas tem como destino a queima para energia. A nível global, a média é menor, mas mantém-se próxima dos 50%. Ao contrário do que se poderia supor, a maioria desta energia não é usada pela indústria, mas pelas famílias e comunidades. Da lenha depende a subsistência de milhões de pessoas. Em Portugal, cerca de 34% da biomassa é usada, maioritariamente pelas famílias, para aquecimento.
Bioeconomia
As preocupações globais com a sustentabilidade têm limitado o uso de produtos de origem fóssil e renovado o interesse pelos produtos de base florestal. Encontrar novas aplicações e processos para os recursos florestais, assim como novas possibilidades de aproveitamento de sobrantes – desperdícios e resíduos “verdes” – são caminhos para aumentar o valor acrescentado da floresta e prolongar o sequestro de carbono. Em Portugal, há sinais encorajadores, sobretudo na bioindústria.