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“Como acrescentar valor à floresta portuguesa?”, por Margarida Tomé

Acrescentar valor à floresta portuguesa implica incrementar o nível de gestão, que é baixo em Portugal. A gestão à escala da paisagem é um dos caminhos a privilegiar: ajuda a compatibilizar a produção florestal de bens privados que remuneram os proprietários, com a disponibilização de serviços do ecossistema, bens públicos que a todos beneficiam.

A gestão florestal tem custos, que variam consoante os sistemas florestais são mais intensivos e voltados para a produção (de madeira ou biomassa, por exemplo) ou privilegiam uma silvicultura mais próxima da natureza ou mesmo de conservação. Também do ponto de vista das receitas há diferenças. Quem gere com objetivos de produção consegue rendimento, nalguns casos, razoável, enquanto quem gere com objetivos de conservação não tem, no modelo que vigora em Portugal, praticamente qualquer receita.

Não gerir tornou-se uma opção para muitos proprietários. Embora não lhes traga receitas significativas, também não acarreta custos. Esta falta de gestão é um dos grandes riscos da nossa floresta e um desafio para acrescentar valor à floresta portuguesa. Mas não é único.

Os serviços do ecossistema proporcionados pela floresta – serviços de regulação, culturais e de suporte que a todos beneficiam – não geram receitas aos proprietários florestais. Isto tem consequências importantes para a gestão florestal porque as soluções mais próximas da natureza, sendo aquelas que mais serviços do ecossistema poderiam proporcionar, não são economicamente viáveis.

Que soluções podem então acrescentar valor à floresta?

 

As soluções existem, mas não podem ser consideradas ao nível da propriedade.

Por um lado, têm de se encontrar métodos para pagar aos proprietários pelos serviços do ecossistema. Estes serviços, que incluem desde o armazenamento de carbono ao lazer, são aqueles que a sociedade urbana mais valoriza (segundo revelou um estudo do Instituto Europeu da Floresta).

Por outro lado, é preciso compatibilizar a produção destes serviços com produtos florestais, cuja procura continuará a aumentar, inclusive para a produção de energia, porque há áreas em que a biomassa é a única alternativa aos combustíveis fósseis. Em paralelo, sendo estes os bens que geram algum valor para os proprietários, a sua importância não pode ser desvalorizada.

Algum equilíbrio pode ser encontrado se, em vez de pensarmos num povoamento florestal, considerarmos uma escala maior, a escala da paisagem. Nela podem conjugar-se áreas de conservação, de produção de serviços do ecossistema e de produção de madeira e outros produtos.

Como temos em Portugal muita pequena propriedade, a gestão à escala da paisagem torna-se um desafio, mas Margarida Tomé pensa que já estivemos mais longe de o resolver. “As associações de produtores florestais têm desempenhado um papel muito importante na criação de zonas de gestão agrupada” sublinha, assinalando que esta realidade pode ainda melhorar com uma gestão realmente conjunta, o que ainda não acontece em algumas Zonas de Intervenção Florestal ou Agrupada.

Sobre o Formador

Engenheira florestal e professora catedrática do ISA – Instituto Superior de Agronomia, Margarida Tomé é membro do CEF – Centro de Estudos de Florestais, onde coordena a linha de investigação ForChange. A sua investigação tem incidido nas áreas de inventário de recursos florestais, monitorização da sustentabilidade da gestão florestal, modelação do crescimento da floresta sob um cenário de alterações globais, produtos florestais não lenhosos e serviços do ecossistema.

Margarida Tomé tem mais de 300 publicações, 120 em revistas internacionais com referee. Desde 2001, é coeditora da série da Springer Managing Forest Ecosystems e, desde 2019, uma das editoras da revista Forest Ecology and Management.

Desempenha funções em vários organismos, entre as quais: membro do Board do European Forest Institute, do Advisory Board do Mediterranean Regional Office of European Forest Institute e vogal do Conselho Nacional do Colégio de Engenharia Florestal, na Ordem dos Engenheiros.