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06.07.2023

Conferência “Valorizar as florestas: pelas pessoas e pelo planeta”

Conferência “Valorizar as florestas: pelas pessoas e pelo planeta”

Membros da comunidade académica e científica, do mundo empresarial, da sociedade e da esfera política reuniram-se para debater os desafios e caminhos para valorizar a floresta nas suas múltiplas dimensões, conciliando funções e benefícios que são essenciais às pessoas e ao planeta.

Combater a lentidão dos programas de ordenamento da paisagem, atuar nos territórios do interior mais carentes de dinâmicas socioeconómicas e desburocratizar as candidaturas aos apoios florestais existentes, para que os proprietários tenham acesso às verbas que lhes permitem fazer uma gestão mais eficaz e sustentável da floresta. Estas foram três das ideias que se destacaram durante a conferência “Valorizar as florestas: pelas pessoas e pelo planeta”, uma iniciativa conjunta da The Navigator Company, do jornal Expresso e da plataforma Florestas.pt, cujo terceiro aniversário foi também destacado neste evento.

O objetivo desta conferência, que decorreu dia 28 de junho, foi fomentar o debate sobre a floresta, um recurso natural valioso, mas cuja importância para a sociedade, economia e ambiente parece ser ainda mal compreendida e desvalorizada. Encontrar caminhos para conciliar as suas diferentes funções e benefícios, dos quais dependem as pessoas e o planeta, foi, por isso, o desafio colocado a uma dezena investigadores e decisores.

Os discursos de abertura estiveram a cargo de António Redondo, CEO da The Navigator Company e de Duarte Cordeiro, Ministro do Ambiente e da Ação Climática.

De acordo com António Redondo, a floresta portuguesa assume relevância acrescida enquanto base da necessária e urgente transição para uma bioeconomia circular, sustentável, favorável para a natureza e neutra para o clima, realçando ainda no final da sua intervenção que “a floresta é um território nacional de pessoas e de esperança, por isso, de futuro (…). Estamos perante um desafio global, do qual depende não só a sustentabilidade deste sector, mas também o futuro das gerações vindouras”.

Por sua vez, o Ministro do Ambiente e da Ação Climática recordou que “Portugal é um dos países da União Europeia mais vulneráveis às alterações climáticas (…). Neste momento, mais de 90% do território continental encontra-se em situação de seca, grande parte – cerca de 36% – em seca severa e extrema. Se o contexto climático é incerto e exigente, a gestão estratégica da floresta tem sido clara e baseia-se em dois pilares fundamentais: a prevenção face aos riscos e a gestão florestal ativa dos territórios.”

A conferência “Valorizar as florestas: pelas pessoas e pelo planeta” prosseguiu, conduzida por Pedro Norton de Matos, mentor e organizador do Green Fest Portugal. O economista sublinhou a importância das florestas como capital natural e dos serviços que os ecossistemas florestais nos proporcionam, desde a água, ao ar, polinização e sequestro de carbono, passando pelo turismo e o lazer, além de todo o contributo económico e para a sociedade, resultado de uma gestão sustentável dos recursos e com um propósito regenerativo.

Pedro Norton de Matos deixou ainda um repto: “Sou fascinado pela floresta e pelas árvores como pulmões que transformam o oxigénio para nós respirarmos. Ser ‘jardineiro’ é acreditar no futuro e precisamos de mais gente a acreditar no futuro, precisamos de mais jardineiros.”

Valorizar as florestas como um todo implica-nos a todos

A importância de olhar para as florestas como um todo, inclusivamente da perspetiva cultural, foi expressa por Carlos Fiolhais, professor de física e comunicador de ciência, ao afirmar que “(…) plantar mais árvores não chega. Uma árvore não é só uma árvore, uma árvore são milhões de espécies, não é só ar puro (…)”.

Cristina Máguas, Coordenadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, focou também o desafio da proteção da biodiversidade que, além de ser fundamental nos mais variados aspetos ambientais, “aumenta a produtividade, eficiência e resiliência (da floresta), e existem estudos que o demonstram claramente”. A necessidade de conciliar a valorização da perspetiva natural –incluindo biodiversidade – e das atividades económicas da floresta foi depois reforçada por Helena Pereira, Professora Catedrática do ISA – Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, ao sublinhar que “só há uma floresta sustentável se for rentável”.

Foram também abordados, entre outros, temas como a desflorestação, as florestas nativas e as exóticas plantadas, incluindo os eucaliptais e a sua importância económica, mas também a sua “demonização” por parte da sociedade em geral e outras ideias pouco sustentadas que persistem em torno das florestas. Para esclarecê-las será necessário, de acordo com os intervenientes, apostar numa maior literacia educativa sobre o tema, que envolva as crianças, os adolescentes e os universitários.

Gestão florestal é essencial para valorizar as florestas

A necessidade de repensar a política de ordenamento do território português, para que contemple mais zonas do interior do país, devolvendo-lhes vida e pessoas, foi um dos pontos de debate, que sublinhou também a urgência de uma gestão florestal responsável e de longo prazo, que diminua o risco de incêndios e os seus impactes negativos.

Outros dos aspetos realçados foi a necessidade de combater a lentidão com que são implementados programas e atribuídos fundos, assim como a necessidade de criar apoios para que os proprietários privados consigam fazer uma gestão florestal eficaz.

Para que os muitos proprietários possam aceder a estas verbas tem, no entanto, de ocorrer uma desburocratização dos processos e têm se ser providenciadas medidas rápidas e com resultados no imediato.

O encerramento da conferência esteve a cargo de João Lé, administrador executivo da The Navigator Company. O responsável frisou que valorizar as florestas também é implementar práticas de gestão eficazes, que criem alternativas sustentáveis e biodegradáveis. “É fundamental plantar mais floresta, melhorar as que já temos e estamos empenhados em apoiar o mundo rural – os produtores florestais –, na partilha do conhecimento.”

Debater o presente para desenhar o futuro das florestas

Refira-se que a conferência foi dividida em dois painéis de discussão, o primeiro subordinado ao tema “O Futuro e Sustentabilidade das Florestas” e o segundo dedicado ao tópico “Valorizar as florestas e as Pessoas”, que contaram com oradores como Henrique Pereira dos Santos, Arquiteto Paisagista; Nélia Aires, Coordenadora da Área Florestal da Agro.Ges; António Carlos Cortez, Professor, Poeta e Ensaísta; Dina Duarte, Presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande; Eduardo Oliveira e Sousa, engenheiro agrónomo; Fernando Oliveira Batista, Professor Aposentado do Instituto Superior de Agronomia e Susana Garrido, Professora na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Se não teve oportunidade de assistir à conferência “Valorizar as florestas: pelas pessoas e pelo planeta”, a gravação está disponível online.