Floresta Portuguesa
Muitas vezes imaginadas como estáticas, as paisagens que temos resultam da ação de múltiplos fatores – socioeconómicos, estruturais, ambientais – ao longo do tempo. A cartografia florestal e agrícola, iniciada ainda no século XIX, tem sido uma ferramenta valiosa para conhecer estes processos de evolução e da realidade da paisagem em Portugal.
Com objetivos diferentes, foram produzidas em Portugal diferentes peças de cartografia florestal e agrícola, salientando-se três séries: Cartas Agrícolas e Florestais (CAFP), Inventários Florestais Nacionais (IFN) e Cartas de Uso e Ocupação do Solo (COS e COSc):
Fonte: Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural – DGADR; Biblioteca Nacional Digital; Direção Geral do Território – COS e COSc
As primeiras Cartas Agrícolas, também denominadas Cartas de Pery, foram publicadas entre 1891 e 1910. Este trabalho teve início em 1882, com uma proposta de levantamento do distrito de Beja. Dirigido pelo Capitão de Infantaria Gerardo Augusto Pery, o trabalho teve tão bons resultados que a Carta Agrícola foi oficializada para todo o território nacional, por Decreto, em novembro de 1886.
Estas cartas apresentam as diferentes ocupações do solo, divididas em oito classes: “Culturas arvenses; Áreas incultas (incluindo pousios, charnecas, areiaes, escalvados, cumiadas improductivas, aguas e terrenos applicados a fins industriaes e sociaes); Mattas diversas; Olivaes; Vinhas; Figueiral, Alfarrobal e Amendoaes; Sôbro; Azinho”. Estas peças pioneiras da cartografia florestal e agrícola foram publicadas em diferentes escalas, cobrem quase todo o país e podem ser consultadas na página web da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural – DGADR, entidade que guarda todo o espólio em formato de papel e em imagem (digitalização).
A Carta Agrícola e Florestal de Portugal, que abrange todo o território continental na escala 1:500 000, foi publicada em 1910 pela então “Direcção Geral dos Serviços da Carta Agrícola”. Teve por base os levantamentos feitos para as cartas de Pery entre 1882 e 1905, com retificações de novos levantamentos em 1906 e 1907. Coordenada por Pedro Romano Folque, aproxima-se daquilo que Pery defendia ser o objetivo da Carta Agrícola: “o retrato fiel da superfície de um território, no qual fica representado exactamente o estado de aproveitamento dessa superfície pela indústria agrícola, indicando além disso a parte ocupada para fins sociais, como povoações, caminhos de ferro, estradas construídas, caminhos vicinais e enfim todas as diversas edificações; e bem assim as linhas de água e a configuração do terreno, representada pelas linhas que dão a altura dos pontos por onde elas passam, acima do nível do mar.”
Até aos anos 50 do século XX, as estatísticas agrícolas e florestais têm por base a Carta Agrícola e Florestal. A segunda Carta Agrícola e Florestal de Portugal – CAFP2 só foi elaborada entre 1951 e 1978, no âmbito do I Plano de Fomento Agrário (1953-1958). Esta nova Carta Agrícola e Florestal foi publicada à escala 1:25 000, em cerca de 630 folhas que cobrem quase todo o país. As peças cartográficas em formato de papel integram o acervo do ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
O Plano de Fomento Agrário pretendia coordenar as atividades de todos os organismos implicados na resolução dos problemas agrários da época. Em 1949 é, assim, criada uma estrutura inter-Direções-Gerais do Subsecretariado da Agricultura (Ministério da Economia) que deveria “obter aqueles elementos (necessários a um plano coordenado de ação) e estabelecer as bases fundamentais de um ordenamento agrário no território continental”. O objetivo era produzir “além da Carta Agrícola e Florestal e de Inquérito Agrícola, Florestal e Pecuário, a Carta de Solos e a Carta de Capacidade de Uso do Solo em Portugal”. Esta estrutura inicial deu origem, em 1960, ao Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário (SROA).
A Carta Agrícola e Florestal da década de 1950 é uma cartografia detalhada e com “grande clareza de representação: permite distinguir, à primeira vista, as características dominantes da agricultura e reproduzir a complexidade das formas de ocupação do solo”.
O primeiro Inventário Florestal Nacional (IFN1) é realizado em 1965/1966 pela Direção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, com a colaboração das empresas de celulose. Trata-se especificamente de uma cartografia florestal e o inventário a norte do Tejo teve por base fotografia aérea obtida entre 1963 e 1965 enquanto o do sul do Tejo foi baseado na atualização da CAPF2. O principal objetivo deste Inventário foi a avaliação das áreas, volumes e acréscimos dos povoamentos de pinheiro-bravo e eucalipto, assim como a sua distribuição por distritos, tendo sido publicados os resultados para todos os distritos do país.
O IFN tem sido atualizado com uma periodicidade de cerca de 10 anos. Teve três revisões iniciais: em 1974 (IFN2), 1985 (IFN3) e 1995 (IFN4). Após a viragem do século, o IFN5 tem como referência o ano de 2005 e o IFN6 refere-se a 2015 (a publicação deste último é de 2019).
A informação produzida pelos Inventários refere-se a todas as superfícies com uso florestal em Portugal continental e tem por base imagens aéreas e medições no terreno. Embora constitua uma série de informação sobre a ocupação florestal do continente, não deu origem a cartografia florestal exceto no IFN2 (1968-1980), em que esteve na origem de uma Carta de Inventário Florestal. Esta Carta, à escala 1:25 000, representava o coberto florestal de Portugal continental.
O IFN – Inventário Florestal Nacional é um processo de natureza estatística e cartográfica, que tem por objetivo avaliar a abundância, estado e condição dos diferentes recursos florestais nacionais. Apesar da importância dos seus dados apenas uma das suas edições resultou na produção de cartografia florestal.
A COS – Carta de Uso e Ocupação do Solo em Portugal continental é uma cartografia que mapeia as classes de uso e ocupação do solo, incluindo territórios artificializados e corpos de água, áreas agrícolas, florestais e agroflorestais, abarcando os tipos de culturas e de florestação.
A produção da COS teve início em 1990 (COS 1990) e atualizações em 1995, 2007, 2010, 2015 e 2018. Faz parte do Sistema de Monitorização da Ocupação do Solo (SMOS) da DGT – Direção-Geral do Território, cujo objetivo é produzir informação cartográfica sobre o uso e ocupação do solo de forma contínua.
A COS é a cartografia de referência sobre a ocupação do solo a nível nacional. Produzida por interpretação visual de fotografias aéreas – ortofotomapas -, representa o uso do solo através de 83 classes temáticas. É atualizada regularmente, havendo uma série temporal histórica harmonizada e que pode ser comparada desde 1995.
Desde 2018, a DGT começou a produzir um novo tipo de cartografia: a Carta de Ocupação do Solo Conjuntural – COSc – uma cartografia da ocupação do solo numa determinada data, com base imagens de satélite e produzida por técnicas de Inteligência Artificial, disponibilizando informação que pode ser usada em conjunto com a COS. Além de ser uma cartografia mais pormenorizada (a COS tem uma unidade mínima de 1 hectare e a COSc tem pixels de 10 metros), pode ser atualizada de forma rápida e automática.
Apesar de ter menos classes temáticas do que a COS (15 face a 84), capta o que está no terreno num dado momento com mais detalhe, beneficiando de imagens multiespectrais (que representam um mesmo objeto de análise em diferentes comprimentos de onda), dando a conhecer informações que escapam ao olhar humano e que podem ser de grande utilidade na gestão florestal (e do território), como por exemplo a vitalidade de uma zona florestal, a acumulação de biomassa combustível ou a fertilidade do solo numa determinada área.
Não sendo especificamente uma cartografia florestal, as suas classes permitem conhecer as áreas de sobreiro e azinheira, eucalipto e outras folhosas, as de pinheiro-bravo, pinheiro-manso e outras resinosas, assim com as áreas de matos e as de vegetação herbácea espontânea.
A COSc é a mais recente abordagem de cartografia que representa a ocupação do solo num ano específico. Apresenta 15 classes temáticas, com base em numa classificação automática apoiada por algoritmos de Inteligência Artificial e baseada em imagens de satélite. Pode ser atualizada anualmente, estando disponíveis as edições de 2018, 2020 e 2021.
Solo
O estudo do solo como ciência – a pedologia – iniciou-se em Portugal há menos de um século e deu a conhecer a complexidade deste sistema estrutural, antes encarado como mera superfície para a produção vegetal. Conheça como evoluiu e o que nos revela a cartografia do solo.
Indicadores Florestais
Como é a floresta nas regiões portuguesas? Qual a sua dimensão e que espécies predominam em cada uma? Que pistas poderão dar os dados regionais sobre os diferentes contributos e valores que provêm das florestas ao longo do país?
História
A cartografia agrícola e florestal em Portugal continental teve início em 1882, mas a sua produção esteve dispersa por várias instituições e tinha diferentes escalas e especificações. O Projeto Fireland compilou parte desta cartografia histórica e harmonizou-a no Mapa Agrícola e Florestal de Portugal Continental 1951-1980, comparável à atual Carta do Uso e Ocupação do Solo, ajudando a conhecer como evoluiu a nossa paisagem.