Recursos Naturais
O solo e a vegetação que o cobre constituem o principal reservatório de carbono terrestre e todas as atividades que alteram a sua ocupação e composição, incluindo a florestação e outras operações associadas à gestão florestal, influenciam a quantidade de carbono no solo.
Cerca de metade do carbono orgânico dos sistemas terrestres está armazenado nos solos florestais. Este stock de carbono pode ter variações associadas a muitos fatores, como a temperatura, a humidade, as alterações do uso do solo e as atividades de gestão florestal. Diferentes tipos de conversões do uso do solo e de operações em zonas florestais podem levar à redução do carbono guardado no solo ou promover o seu aumento:
Vejamos mais detalhadamente estes e outros exemplos dos efeitos de diferentes conversões do uso do solo e de atividades de gestão florestal no stock de carbono:
A florestação de terras agrícolas tem sido apontada como uma medida de mitigação das alterações climáticas, pois a quantidade de biomassa produzida e de carbono fixado no solo e nas raízes, assim como na parte aérea, é mais significativa do que nas culturas agrícolas que ocupavam a mesma área. Além disso, a biomassa florestal, mesmo depois de transformada, permite prolongar no tempo pelo menos parte do carbono retido – isto acontece, por exemplo, nos produtos feitos de madeira e de fibras florestais.
Contudo, a instalação de florestas onde antes se encontravam prados e pastagens (especialmente prados e pastagens permanentes) ou turfeiras (zonas húmidas) podem levar a perdas do carbono que estava no solo. No caso das turfeiras, a florestação vai fazer baixar o nível de humidade no solo e aumentar o seu arejamento. A entrada de oxigénio potencia a oxidação da matéria orgânica e a libertação de vários gases com efeito de estufa (incluindo o carbono e o metano).
De notar que a taxa e a variação do carbono no solo depois da florestação dependem não só do uso anterior do solo e das práticas de gestão aplicadas, mas de muitos outros fatores, como o tipo de solo, o clima, as espécies de árvores usadas e a idade da floresta. Por exemplo, o sequestro de carbono é maior e mais rápido em climas quentes (onde a vegetação tende a crescer mais depressa) do que em climas frios; e é mais elevado, inicialmente, no subcoberto de coníferas do que de folhosas, pois as folhas das coníferas têm uma decomposição mais lenta, que as leve a permanecer (e ao carbono que guardam) mais tempo na superfície do solo.
Refira-se que a perturbação do solo na preparação do terreno para a florestação também pode levar a perdas de carbono, que serão tão mais significativas quanto mais intensiva for a mobilização do solo.
A conversão de florestas primárias (com pouca ou nenhuma intervenção humana) em quaisquer outras ocupações do solo tem um efeito negativo na quantidade de carbono existente no solo e este efeito é mais pronunciado quando as zonas de florestas primárias são convertidas em áreas agrícolas – algo que continua a acontecer nas regiões tropicais, com os chamando métodos slash-and-burn, em que a floresta é queimada para instalar campos agrícolas, tirando partido dos nutrientes disponibilizados pelas cinzas.
Quando se faz uma transição direta de florestas primárias para florestas secundárias (ou plantações florestais) a perda de carbono do solo é menor e menos pronunciada se forem aplicadas boas práticas de gestão. Em florestas secundárias bem geridas, a produtividade vegetal e o consequente sequestro de carbono podem ser superiores e, dependendo do uso dado aos produtos florestais, eles podem servir como veículos de armazenamento de carbono a longo prazo.
Todas as operações que removam materiais orgânicos das áreas florestais (abate de árvores, desbastes, desramas, seleção de varas ou limpeza de vegetação) levam à diminuição do carbono no solo não só por diminuírem a quantidade das diversas fontes de matéria orgânica no solo, mas também pelo favorecimento da decomposição.
O corte da vegetação, inclusive na limpeza de áreas florestais para prevenção do fogo, aumenta a exposição solar direta e a temperatura do solo, o que vai aumentar a taxa de decomposição de matéria orgânica e a perda de carbono, além de que o solo sem vegetação fica mais vulnerável à erosão.
A remoção dos resíduos vegetais associados à recolha de madeira e gestão florestal – biomassa normalmente constituída por ramos, bicadas (ramos mais altos) e folhada (conjunto de folhas nos seus raminhos) que ficam no solo -, reduz uma parte significativa das fontes de matéria orgânica e de carbono do solo, sendo a perda mais relevante em solos pobres, culturas com rotações curtas (que não possibilitam uma longa acumulação de carbono) e povoamentos geridos intensivamente.
As espécies coníferas (cujas sementes são pinhas ou cones e as folhas, em forma de agulha, são persistentes, mantendo-se todo o ano) tendem a acumular mais carbono na folhada (embora a decomposição desta folhada liberte depois o carbono acumulado). As espécies folhosas (cujas sementes estão protegidas no interior de frutos e as folhas achatadas podem ter variadas formas) podem armazenar mais carbono no solo mineral e fazê-lo de forma mais estável e prolongada, porque o solo retém este carbono por mais tempo.
Estas diferenças estão relacionadas com as diferenças de relação entre o carbono e o azoto presentes nas folhas de coníferas e folhosas, por um lado, e com a macro e microfauna existente na rizosfera (zona do dolo onde as raízes obtém nutrientes e estabelecem relações com outros organismos) por outro. A rizosfera tende a ser mais rica em povoamentos de folhosas, o que potencia a incorporação de carbono no interior do solo.
Florestas mistas, que incluem espécies coníferas e folhosas, podem também trazer benefícios ao nível do armazenamento de carbono, principalmente se forem espécies que se complementem: umas acumulando mais carbono na folhada, outras acumulando mais carbono no solo.
Adicionalmente, árvores que estabelecem relações mutuamente benéficas com organismos fixadores de azoto (micorrizas no caso de relações com fungos e rizóbios quando se trata de bactérias) alteram mais rapidamente as propriedades do solo e beneficiam este stock de carbono.
Os incêndios são a principal fonte de libertação carbono para a atmosfera nas áreas florestais. Num incêndio, a quantidade de carbono queimado e o impacte no solo aumenta em função da intensidade do fogo e da sua duração. O recurso ao fogo controlado, nomeadamente do fogo técnico usado para reduzir a biomassa combustível e das queimadas tradicionais, implica perdas do carbono armazenado no solo, embora menores do que as associadas a grandes incêndios.
Curiosidades
No subsolo da floresta, esconde-se uma intrincada rede de comunicações que alguns já compararam à internet das árvores. É uma complexa teia de raízes de plantas e fungos que, embora invisível aos nossos olhos, é essencial à vida e ao armazenamento de carbono.
Caso de Estudo
Ao contrário da maioria dos bens com origem nos espaços florestais, os serviços que são proporcionados por estes ecossistemas não são tradicionalmente transacionados, razão pela qual não lhes é atribuído um valor de mercado. Ultrapassar esta lacuna, estimando o valor económico total dos espaços florestais de Portugal foi o objetivo do ECOFOR.pt. Conheça mais sobre este projeto e sobre os seus resultados quanto a este valor.
Alterações Climáticas
As florestas removem dióxido de carbono da atmosfera, ajudando a mitigar os efeitos das alterações climáticas. Em Portugal, o seu contributo tem sido positivo, exceto em anos de grandes incêndios. Em 2021, o CO2 removido pela floresta portuguesa totalizou cerca de 4,8 megatoneladas (remoção bruta) de um total de 56,5 megatoneladas de emissões nacionais de gases com efeito de estufa.