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“A floresta e as pragas”, por Manuela Branco

As florestas, tal como outros ecossistemas terrestres, albergam muitos organismos que se alimentam das suas folhas, troncos e raízes. Quando passeamos nas florestas raramente nos apercebemos deles, porque na maioria são muito pequenos, alguns microscópicos, mas eles existem em diversidade e abundância – na ordem das centenas ou milhares de espécies em poucos metros quadrados.

Estes organismos vivem normalmente em equilíbrio com as plantas e esta harmonia é mantida por dois mecanismos principais:

1. outros animais ou patogénicos, que neles infligem mortalidade e perda de fecundidade.
2. mecanismos de defesa da própria planta, como a produção de compostos químicos, que afastam ou dizimam os organismos que as consomem.

Quando falamos em pragas significa que houve uma falha num dos mecanismos – ou em ambos. Há várias razões que a podem causar e entre as principais estão as alterações climáticas. As variações de temperatura e humidade, assim como outros fatores, como as tempestades ou os incêndios, são propícios a alterar este equilíbrio.

Um outro mecanismo pode ainda contribuir para estes desequilíbrios, mas que depende da ação humana, está relacionado com más práticas, sejam florestais ou, por exemplo, de manuseamento e acondicionamento da madeira.

Pragas invasoras impulsionadas pelo comércio global

 

As pragas invasoras são outra questão para a qual contribui a globalização. Um número crescente de organismos oriundos de outras regiões chega ao nosso território, muitas vezes pela via do comércio, e aqui alguns destes organismos podem transformar-se em pragas. É o caso, por exemplo, da doença da galha do castanheiro, causada por uma vespa oriunda da Ásia.

Estas pragas vêm livres dos seus predadores naturais e não têm no novo território predadores especializados que permitam controlar eficazmente as suas populações. Acresce que as nossas plantas, como não evoluíram em convivência com estes organismos, não adquiriram mecanismos de defesa eficientes para deles se defenderem.

4 vertentes de atuação para apoiar o controlo de pragas

 

Embora lidemos com crescentes pragas de elevados impactes, há soluções possíveis:

1. No caso das pragas invasoras, uma solução clássica passa pelo controlo biológico, ou seja, pela introdução dos inimigos naturais, após se testar e comprovar que não comportam riscos para outras espécies.
2. Para as pragas não invasoras, uma solução passa pela conservação dos inimigos naturais que estão presentes no nosso território. Isto tem sido dificultado pela perda de biodiversidade, que é importante reverter.
3. É possível aumentar a resistência das plantas, reproduzindo as mais resistentes.
4. Aplicar práticas de silvicultura adequadas, que promovem o equilíbrio dos ecossistemas, para que resistam melhor às ameaças.

Sobre o Formador

Manuela Branco é doutorada em Biologia Aplicada pelo Colégio de Cardiff, na Universidade de Gales (Reino Unido) e Professora Associada do ISA – Instituto Superior de Agronomia.

Tem investigado sobre ecologia dos insetos e gestão de pragas florestais, principalmente sobre estratégias ecológicas e sustentáveis, com ênfase no controlo biológico e comportamental.

Ao longo da sua carreira, publicou mais de uma centena de artigos em livros e revistas científicas internacionais, e integrou ou chefiou diversos órgãos e equipas de investigação nacionais e internacionais.