Num país sem petróleo, o valor gerado pelo sector levou a floresta a tornar-se num recurso de valor similar – numa espécie de “petróleo verde”.
Esta história virtuosa fez da floresta uma “princesa rica num país pobre” e mais tarde, de meados do século XX em diante, a boa adaptação do eucalipto a Portugal reforçou a dinâmica do sector silvoindustrial.
Nas últimas décadas do século XX, as várias fileiras foram decisivas para Portugal conseguir recuperar do choque petrolífero de 1974/75, assim como da crise das divisas em 1985, e de outros acontecimentos críticos, como a guerra colonial e o retorno ao país de milhares de portugueses.
Além do seu contributo para a dinamização das economias rurais, os produtos florestais chegaram a representar quase 20% do total das exportações portuguesas, o dobro da percentagem atual. Nessa época e pelo superavit que geravam, os produtos florestais traziam ao país as divisas com que pagávamos o petróleo comprado ao exterior. E com este “petróleo verde” tínhamos ainda uma alavanca interna de desenvolvimento.
A partir de então e embora a relevância do sector e das suas exportações se mantenha, o seu contributo reduziu-se, por um lado devido à crescente necessidade de importação de matérias-primas florestais. Muitas das decisões que estiveram base do sucesso e crescimento do sector silvoindustrial foram soçobrando a políticas públicas pouco corajosas, descontinuadas e mal informadas. Somou-se o receio da opinião publicada e dos diversos mitos que estão a “infestar esta magnífica floresta portuguesa”.
Entre os vários mitos referidos por João Soares estão, por exemplo, o mito da “floresta virgem”, o mito de que “cortar árvores é mutilar a natureza”, o mito de que “as espécies que não são de cá são indesejáveis”, de que “as plantações florestais servem as indústrias” ou de que “os serviços de ecossistema são uma novidade do século XXI”.
Na realidade estes serviços dos ecossistemas florestais sempre existiram e deles fazem parte a madeira, a resina ou a caça, mas também um conjunto outras coisas que o mercado não paga – como a filtração do ar, a qualidade da água ou a biodiversidade – e que precisam de ser remuneradas.
“Não há floresta ecologicamente sã se não for economicamente viável” afirma João Soares. E com uma população mundial que não para de crescer em número e consumo de recursos, é indispensável aumentar a oferta de matérias-primas florestais sem destruir a biodiversidade. Há que fazê-lo onde existe viabilidade económica, com respeito ambiental e aceitação social e “em Portugal temos estas condições” – as condições para que a floresta volte a reforçar-se como o nosso “petróleo verde”:
– Muitos terrenos incultos, que não se adequam a uma agricultura rentável;
– Conhecimentos académicos e experiência histórica no uso florestal destes solos;
– Indústrias de base florestal com tradição, capacitação, responsabilidade e mercado;
– Fileiras silvoindustriais capazes de contribuírem para a criação de valor acrescentado.