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“Dados e sistemas de informação como ferramentas críticas para uma gestão agroflorestal inteligente”, por Joaquim Mamede Alonso

Falar de floresta é falar de algo muito importante no nosso futuro coletivo, mas é também falar de uma realidade complexa, que nos coloca o desafio da gestão agroflorestal inteligente e participativa. O conhecimento digital, apoiado por novas tecnologias e sistemas de apoio à decisão permite a gestão e o equilíbrio de interesses ao nível do território, potenciando benefícios ambientais, sociais e económicos.

A gestão agroflorestal inteligente é um desafio complexo, que implica inúmeras variáveis, intervenientes e objetivos. Basta considerar as muitas funções que desempenham os sistemas agroflorestais, os diferentes produtos e serviços que nos providenciam – desde a proteção à provisão – ou as implicações diretas e indiretas de ameaças, como as que resultam das alterações climáticas e que influenciam a resiliência dos ecossistemas. A complexidade aumenta quando sabemos que gerir a floresta portuguesa significa planear e atuar em muitas realidades distintas: a floresta pública e a privada, a de produção, a de conservação, a de lazer…

Esta realidade desafiadora implica inovar no conceito, mas acima de tudo nos modelos e instrumentos que podem apoiar a gestão agroflorestal inteligente, participada pelos utilizadores. É para chegarmos a este conceito de “smart forest” que importam os dados contínuos e os sistemas de informação de natureza espacial. Através deles, ampliamos os dados e o conhecimento “em tempo real”, os quais são essenciais para apoiar os decisores e gestores num planeamento e ação mais informados e efetivos, ou seja, na desejada gestão agroflorestal inteligente.

“Onde temos dados digitais disponíveis, eles podem traduzir a realidade da floresta e ajudar a suportar ações que garantam a potenciação e a perenidade dos serviços e produtos da floresta”, refere Joaquim Mamede Alonso, que dá a conhecer, neste seminário, dezenas de soluções disponíveis.

Os dados existem, mas é preciso saber usá-los

 

Os dados de acompanhamento de processos biogeoquímicos e humanos estão a ser produzidos de acordo com o paradigma da “Terra Digital”, introduzido há duas décadas, com Al Gore. Este paradigma assenta na ideia de que só podemos acompanhar o que sucede na Terra e ter conhecimento sobre o planeta através de sensores espaciais e aéreos – satélites, sensores guiados por drones ou naves tripuladas – e de sensores terrestres. Todos estas estruturas existem e os dados que captam – nomeadamente imagens – podem ser integrados e usados em aplicações na área da gestão agroflorestal inteligente.

É fácil aceder a estas imagens e, por exemplo, com dados climáticos torna-se possível definir projeções e cenários climatológicos antecipando potenciais tendências. É também muito fácil retirar destas imagens informação sobre a vegetação, inventariar espécies e monitorizar faixas de gestão de combustível, entre outras aplicações. E podemos fazê-lo tanto para um dado momento, como ao longo do tempo ou para a criação de cenários, antecipando evoluções e trajetórias.

Cartas de monitorização que permitem conhecer áreas de espécies de invasoras, serviços de ecossistemas ou biodiversidade, ou dados de cadeias de risco relativas a temas como incêndios, erosão do solo ou alterações de escoamento de águas e promoção de cheias são apenas alguns exemplos do que está disponível e que, sendo usado por diferentes entidades (por exemplo, pela proteção civil no que diz respeito às cadeias de risco) pode e deve ser usado para sustentar uma gestão agroflorestal inteligente.

Muitos destes dados são já aplicados nos processos de certificação da gestão florestal e existem várias arquiteturas definidas para a sua utilização por parte dos diferentes intervenientes na floresta e agrofloresta, desde o proprietário ao empreiteiro florestal, passando pelas associações florestais. Para que todos estes dados e sistemas de informação possam ter resultados úteis é essencial ampliar e reforçar os processos de capacitação e demonstração, que não se devem reduzir a questões técnicas, mas sim às necessidades reais dos utilizadores.

Sobre o Formador

Joaquim Mamede Alonso é professor da Escola Superior Agrária do IPVC – Instituto Politécnico de Viana de Castelo (desde 1998) e coordenador do mestrado em Engenharia do Território e Ambiente na mesma instituição. É ainda membro do Grupo ECOCHANGE – Ecology of changing landscapes, no CIBIO.InBIO da Universidade do Porto, e do proMetheus – FCT Research Unit in Materials, Energy and Environment for Sustainability.

Licenciado em Engenharia Agrícola e doutorado em Gestão de Informação – SIG (NOVAIMS/UNova), integrou mais de 80 projetos, duas centenas de comunicações e dezenas de artigos na área dos sistemas socio-ecológicos e infraestruturas de dados espaciais para desenvolvimento de sistemas agroflorestais inteligentes.