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“Melhorar as funções do solo”, por Mário de Carvalho

Estimou-se que o teor médio de matéria orgânica dos solos portugueses ronde 1,8%, o que significa que existem extensas áreas com teores que não ultrapassam 1%. Este valor é muito baixo e é preciso aumentá-lo para melhorar as funções do solo, essenciais à sustentabilidade ambiental e económica dos ecossistemas agrícolas e florestais, de que dependemos.

São muitas, e interdependentes, as propriedades que ajudam o solo a desempenhar as suas funções – químicas, físicas e biológicas – sendo as biológicas as mais críticas na determinação da capacidade de o solo desempenhar as suas funções, assim como no seu potencial produtivo.

Para melhorar as funções do solo é, por isso, necessário dar particular atenção à gestão das suas propriedades biológicas e isto significa que, quando trabalhamos o solo, precisamos de manter um balanço positivo em termos de matéria orgânica. No nosso clima esse aspeto é também essencial para promover a capacidade de armazenamento de água no solo.

Há várias formas de o fazer: por um lado, podemos aumentar ativamente o teor de matéria orgânica do solo, adicionando resíduos de culturas (biomassa) ou estrumes. Por outro, podemos reduzir as perdas devidas à erosão e mineralização dos nutrientes do solo.

Do lado das perdas, na agricultura e floresta é fundamental compreender que elas são influenciadas, sobretudo, pela forma de mobilização do solo e são tanto mais pronunciadas quanto maior a intensidade da mobilização: máquinas que revolvem o solo (numa lavoura, por exemplo) são causa de perdas mais acentuadas do que a mobilização associada a uma sementeira direta. Adicionalmente é preciso ter em consideração que as mobilizações mais intensas afetam em particular a camada superficial do solo, onde se concentram os principais elementos que conferem qualidade ao solo.

O aumento do teor de matéria orgânica, além de fornecer nutrientes essenciais, tem impacte positivo em várias funções do solo, como a vida microbiana e o armazenamento e drenagem da água, por exemplo. Assim, ao melhorar as funções do solo estamos a melhorar também o seu potencial produtivo e o efeito benéfico faz-se sentir em todos os tipos solos, independentemente da sua condição natural.

No território mediterrânico, só se conseguem aumentos significativos do teor do solo em matéria orgânica atuando simultaneamente no aumento das adições e na redução das perdas. Esta realidade é particularmente relevante em Portugal, onde grande parte dos solos são pobres em matéria orgânica.

Sobre o Formador

Mário de Carvalho é doutorado em Ciências Agrárias pela Universidade de Évora (1988) e a sua carreira foi dividida entre o ensino, a investigação e a transferência de tecnologia para as comunidades agrícolas desta região.

Foi professor catedrático do departamento de fitotecnia, na Universidade de Évora, entre 1995 e 2021, e investigador integrado do Instituto Mediterrânico para a agricultura, ambiente e desenvolvimento (MED) da mesma instituição, desde 1985.

Desempenha, desde a sua aposentação da vida académica, a atividade de consultor privado no âmbito da agricultura de conservação.