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“Quanto vale a floresta portuguesa? O valor contabilizado e o desconhecido”, por Américo Mendes

Para sabermos quanto vale a floresta portuguesa é preciso considerar o valor dos produtos que nela são produzidos, mas também o dos serviços ambientais ou do ecossistema. Estes serviços beneficiam toda a sociedade, mas a sua receita não reverte para os produtores florestais, que tanto dela necessitam para a gestão florestal.

Da floresta obtemos bens privados, normalmente transacionados e com valor de mercado, e bens de natureza pública, tradicionalmente sem mercado, como é o caso dos serviços ambientais (ou serviços do ecossistema), que beneficiam toda a sociedade. São estas duas vertentes que importa considerar para calcular quanto vale a floresta portuguesa.

Relativamente aos bens privados, o valor produzido nas florestas é mais fácil de calcular, por dizer respeito a produtos tipicamente contabilizados nas estatísticas da silvicultura, como a madeira, a cortiça ou a resina. Segundo o INE – Instituto Nacional de Estatística, estes bens silvícolas representaram mais de 883 milhões de euros em 2018.

Já para os serviços que têm a natureza de bens públicos, como o sequestro de carbono, a proteção dos solos contra a erosão, a preservação dos recursos hídricos ou a conservação da biodiversidade, este cálculo – embora essencial para calcular quanto vale a floresta portuguesa – é mais complexo e exige modelos baseados naquilo que a sociedade estaria disposta a pagar (e, em alguns casos, paga efetivamente) para que sejam produzidos.

Metade do valor resulta dos serviços do ecossistema

Estimando o valor bruto da caça, do uso recreativo, do sequestro de carbono, da conservação da biodiversidade e da proteção do solo e da água é possível concluir que os serviços do ecossistema representam aproximadamente o mesmo valor que os bens silvícolas contabilizados pelo INE nas estatísticas da silvicultura, ou seja, que estão na origem de sensivelmente metade do valor produzido nas florestas portuguesas.

Apesar do valor associado aos serviços ambientais, estes montantes não revertem em receita para os produtores florestais. Esta seria, no entanto, um valor muito importante para que os produtores conseguissem suportar os custos da gestão florestal. A falta de gestão é um dos graves problemas na floresta portuguesa e esta receita seria também uma forma de contrariar o absentismo e o abandono rural, tão danosos para o país.

Sobre o Formador

Américo Mendes é Professor Associado de Economia na Católica Porto Business School e Coordenador da ATES – Área Transversal de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa (Porto).

Além da atividade académica, foi sócio fundador e é presidente da Direção da Associação Florestal do Vale do Sousa. Também foi sócio fundador da FORESTIS – Associação Florestal de Portugal, sendo Presidente do seu Conselho Fiscal e membro do seu Conselho Superior.

Entre múltiplas outras funções e atividades profissionais e de voluntariado, foi membro do Scientific Advisory Board do European Forest Institute (janeiro de 2006 a dezembro de 2010) e integrou a equipa que elaborou o livro Valuing Mediterranean Forests. Towards Total Economic Value, editado por Maurizio Merlo e Lelia Croitoru, e publicado em 2005 pela CABI Publishing.