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“Uma visão integrada e multifuncional do espaço florestal”, por Domingos Lopes

A complexidade dos problemas rurais contribui para a mensagem negativa sobre a floresta que chega, muitas vezes, aos cidadãos. Esta é uma perceção que é preciso alterar, promovendo uma visão integrada e multifuncional do espaço florestal.

A desertificação humana, os incêndios e a fraca valorização da micropropriedade florestal acarretam um estigma que tem sido difícil de rebater. Uma visão integrada e multifuncional do espaço florestal é um dos caminhos a privilegiar para alterar a mensagem que passa muitas vezes para o cidadão comum sobre a floresta e que, por norma, é mais negativa do que positiva.

Apesar dos desafios que subsistem, a floresta portuguesa apresenta enormes potencialidades. Com uma extensão superior a três milhões de hectares, a floresta é o principal uso do solo em Portugal – ocupa mais de um terço do país – e apresenta um impacte muito significativo nas contas nacionais.

A dimensão e o potencial multifuncional fazem da floresta um recurso fundamental para gerar rentabilidade e reter população nos espaços rurais. Entre os desafios a que é preciso dar resposta está a necessidade de compatibilizar a produção florestal com outras oportunidades de valorização, de que são exemplo a cinegética, a apicultura, a produção de plantas aromáticas, a silvopastorícia ou as atividades de lazer e desporto.

Passar da teoria à prática implica encontrar formas práticas e eficientes de remunerar todos os recursos e serviços que vêm dos espaços florestais, como os serviços do ecossistema, nomeadamente no contexto do ciclo hídrico e do sequestro de carbono.

É, por isso, fundamental uma visão integrada e multifuncional do espaço florestal e rural, de forma a alavancar a valorização económica destes territórios e dos seus recursos, criando oportunidades para reverter situações de desertificação humana e de dependência económica dos centros urbanos, defende Domingos Lopes, docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A interdependência entre as áreas urbanas e o território rural obriga à tomada de decisões e à definição de políticas efetivas de resolução dos problemas que ainda afetam o sector, promovendo a reversão de uma imagem negativa da floresta para uma visão mais positiva.

 

Planos de paisagem: espaço florestal mais resiliente e biodiverso

 

Os Planos de Paisagem, que começam a ganhar expressão um pouco por todo o território, podem ser um dos eixos a seguir na valorização dos recursos, afirmando-se como uma oportunidade efetiva na procura de soluções e de compatibilização de usos, mas também na criação de paisagens biodiversas e mais resilientes.

“O que nos é solicitado é que sejamos quase como pintores da paisagem, uma pintura que está muito associada a atividades de ordenamento do território”, salienta. Para Domingos Lopes, compartimentar a paisagem e criar oportunidades para potenciar o seu uso é possível e determinante na economia, defendendo que “a qualidade do quintal é a qualidade da casa”.

Sobre o Formador

Natural da Lousã, Domingos Lopes leciona na UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, desde 1994.

É licenciado em Engenharia Florestal e em Arquitetura Paisagista pela UTAD. É mestre em Instrumentos e Técnicas de Apoio ao Desenvolvimento Rural pela UTAD, e em Arquitetura Paisagista, pela Universidade de Évora. É doutorado pela Universidade de Kingston (Londres), tendo desenvolvido a tese na área da fixação de carbono, em contexto de alterações climáticas, com recurso a deteção remota e a modelos ecofisiológicos.

É atualmente o Codiretor da licenciatura em Engenharia e Biotecnologia Florestal, um curso ministrado em conjunto pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.