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José Neiva Vieira

10 Mandamentos da Floresta

Por tudo aquilo que nos proporciona ou pode proporcionar, pela diversidade de olhares que sobre ela construímos, pelo seu valor socioeconómico, ambiental, histórico e cultural, é essencial que saibamos proteger, conservar e desenvolver a floresta de forma sustentável. Foi esta a premissa que inspirou estes 10 Mandamentos da Floresta.

Nunca outro recurso natural proporcionou ao Homem uma tão grande diversidade de bens, serviços, olhares, simbologias e emoções como a floresta.

De fonte renovável e geradora de relevante riqueza económica, desenvolvimento rural e regional, a espaço privilegiado de vida, diversidade biológica e reserva genética; de elemento determinante na paisagem a fonte inspiradora de mitos, crenças, lendas, contos e fecunda criação literária e artística; de símbolo e fator de qualidade ambiental a espaço, por excelência, de recreio e lazer – a floresta foi sempre um espaço plural, complexo e multifacetado.

É essa floresta de múltiplos usos que abriga grande parte das espécies animais e vegetais, que é fonte de matérias-primas para importantes fileiras silvoindustriais, que está na origem de benefícios ambientais essenciais à vida, que é espaço de lazer e turismo para uma população cada vez mais urbanizada.

Esta floresta vive no meio de nós. Nos nossos símbolos, nos provérbios, nas paisagens que vemos e livros que lemos, nos objetos construídos de materiais florestais que nos rodeiam em permanência, nalguns alimentos e ainda na nossa imaginação, como espaço de sensibilidade, de saúde, de diversão, de evasão, de equilíbrio, de beleza e bem-estar.

É esta floresta que queremos proteger, conservar e desenvolver de forma sustentável. E esta floresta é simultaneamente de cada um e de todos: do proprietário rural, da fileira florestal e de todos os que dela usufruem e beneficiam… Uma floresta símbolo de solidariedade entre gerações e entre regiões, diversificada e de qualidade, vivendo no coração dos Homens.

Imagem que ilustrou Poster do Dia Mundial da Floresta, em finais do século XX, da coleção de José Neiva Vieira.

É esta a inspiração destes 10 Mandamentos da Floresta:

1.º Respeitar a floresta

A floresta é um património do futuro e que tem a ver com todos nós. O Homem deve respeitá-la, tudo fazendo para a conservar, bem gerir e desenvolver. Trata-se de um recurso natural renovável, gerador de bens económicos e serviços ambientais fundamentais, e constitui ainda um espaço privilegiado de saúde, lazer e bem-estar.

2.º A gestão sustentada das florestas

A floresta deve ser gerida de forma sustentada, isto é, de uma forma e intensidade que mantenham a sua diversidade biológica, a sua produtividade, a sua capacidade regenerativa, a sua vitalidade e a sua capacidade de satisfazer, no presente e no futuro, as funções ecológicas, económicas e sociais relevantes, aos níveis local, nacional e mundial.

3.º Uma floresta símbolo de solidariedade entre gerações

A floresta que hoje temos é, em grande parte, herança de gerações anteriores. Temos, por isso, o dever acrescido de a gerir e explorar sem comprometer o seu potencial para satisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras.

4.º Uma floresta multifuncional

Há que valorizar o carácter multifuncional das florestas e dos espaços florestais de modo a potenciar a diversidade de bens e serviços que proporcionam e a garantir a capacidade de adaptação e resistência dos ecossistemas florestais face ao evoluir dos contextos económicos, ecológicos e sociais.

5.º Contributo da floresta para o desenvolvimento económico do país

Pela sua área de ocupação atual e potencial, pela alternativa que constitui à agricultura tradicional, pelo contributo para os rendimentos dos agricultores e a viabilidade das explorações agrícolas, pelas matérias-primas que produz e alimentam importantes indústrias, a floresta contribui de forma crescente para o desenvolvimento económico do país nas duas vertentes agrária, industrial e de desenvolvimento regional. Num país com mais de 80% de floresta privada, a defesa e conservação das matas passa também pela sua rentabilização e pela valorização económica dos seus produtos e serviços.

6.º Manutenção e desenvolvimento dos recursos florestais

O desenvolvimento dos recursos florestais passa pela beneficiação da floresta existente, pela expansão da área florestal atual numa perspetiva de diversificação e multifuncionalidade, e ainda pela valorização dos produtos e serviços florestais.

7.º Manutenção do bom-estado sanitário e vitalidade dos ecossistemas vegetais

As práticas de gestão florestal deverão procurar manter – e se possível melhorar – a estabilidade, a vitalidade, a capacidade regenerativa, a resistência e a capacidade de adaptação dos ecossistemas florestais às perturbações, incluindo a sua proteção eficaz contra fogos, insetos nocivos, doenças e pastoreio excessivo ou desregrado, apoiando a prevenção e o controle de danos em larga escala, sejam de origem biótica ou abiótica.

8.º Manutenção da diversidade biológica dos ecossistemas

A conservação e o incremento apropriado da diversidade biológica e a conservação dos recursos genéticos deverão constituir elementos operacionais essenciais da gestão sustentada das florestas e ser tomados em conta na política, legislação e nos projetos florestais.

9.º Preservação dos ecossistemas florestais sensíveis ou em risco

Há que proteger, com carácter prioritário, todos os vestígios de florestas naturais, seminaturais ou raras e, ainda, os ecossistemas ecológicos mais sensíveis – dunas, sistemas de montanha e zonas em risco de desertificação – e os que constituem habitat de espécies animais ou vegetais em risco de extinção.

10.º Mais diálogo sobre as questões florestais e um melhor conhecimento da floresta

Há que reforçar o diálogo e negociação institucional entre todos os interlocutores com ligação ao sector profissional florestal. Há que desenvolver programas adequados e experimentação e investigação florestais que contribuam para um melhor conhecimento técnico e científico dos ecossistemas florestais e das suas múltiplas funções.

Dezembro de 2025

O Autor

Engenheiro silvicultor, historiador florestal, apaixonado e divulgador da floresta, José Neiva Vieira dedicou toda a sua vida profissional aos Serviço Florestais, onde assumiu funções e responsabilidades em diversos departamentos técnicos.

Colecionador de conhecimentos e memórias, reuniu um dos maiores acervos particulares sobre a floresta (mas também agrícolas, de artesanato, objetos do quotidiano, artigos, curiosidades e memorabília vária). Da floresta, destaque-se o arquivo técnico e histórico, a biblioteca florestal, a coleção de fotos, cartazes, selos, postais, madeiras, madeiras fósseis, cortiças, resinas, ferramentas e aparelhos florestais, frutos e sementes, pintura, literatura e memorabília dos Serviços Florestais. No seu conjunto, são um valioso testemunho do trabalho e transformações da floresta portuguesa e dos seus valores económicos, sociais, ambientais, paisagísticos e culturais.

José Neiva Vieira escreveu e contribuiu para inúmeras obras que preservam estas memórias, a exemplo de vários textos e livros, como “Florestas em cartaz” (2008) e “Floresta Portuguesa – Imagens dos Tempos Idos” (2007).

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