Comentário

Cidália Gonçalves

Aprende na Floresta: aprendizagem sociomotora, imersiva e enriquecedora

Baseado na metodologia “Forest School”, o projeto Aprende na Floresta surgiu da necessidade de criar uma resposta formativa e experiencial, dirigida a todos os interessados em explorar de uma forma estruturada o contacto com a natureza e os seus benefícios na construção de uma sociedade mais integral.

O ethos da Escola da Floresta do projeto Aprende na Floresta ressoa de diferentes formas temas históricos importantes da teoria educacional da Europa Ocidental: Rousseau, Froebel, Montessori e McMillan, todos defenderam os benefícios da aprendizagem no ambiente natural e insistiram que as crianças precisam de brincar, experimentar o espaço e o movimento e que a estimulação sensorial contribui para o seu desenvolvimento saudável.

Foi para dar a conhecer esta abordagem de aprendizagem imersiva aos educadores e proporcioná-la às crianças que nasceu o projeto Aprende na Floresta e a ideia da Escola da Floresta.

O projeto Aprende na Floresta assenta em ações formativas dirigidas aos adultos que têm a missão de educar – sejam eles profissionais da educação formal ou informal – enquanto a Escola da Floresta é o programa que proporciona às crianças esta vivência de aprendizagem. Mas o Aprende na Floresta ganhou várias outras dimensões e conta também com programas dirigidos às escolas e à ocupação das férias escolares, com experiências imersivas para crianças e adultos, com programas de desenvolvimento pessoal e ações de sensibilização e desenvolvimento para empresas.

Com esta oferta, o projeto Aprende na Floresta pretende responder ao contexto e necessidades emergentes da nossa sociedade, promovendo o envolvimento e aproximação dos conteúdos e metodologia da Forest School à realidade das respostas educativas das nossas crianças e às de todos os que querem voltar a ligar-se à natureza.

Esta metodologia visa o contacto com a natureza e com os pares, em contexto de exploração e brincadeira, por forma a desenvolver novos caminhos neuronais no processo de aprendizagem, de forma significativa e prazerosa. Ou seja, as pessoas utilizam os recursos existentes na natureza (isentos de conceções predefinidas) e a interação com os pares para encontrar respostas satisfatórias às necessidades que pretendem ver respondidas. Assim, desenvolvem competências socio-emocionais, físicas, intelectuais, comunicacionais e espirituais, num ambiente seguro e de forma confortável. Para promover estas competências é importante a presença de um facilitador experiente, que conheça a metodologia e que utilize as ferramentas adequadas para uma aprendizagem holística na natureza.

O Aprende na Floresta tem contribuído para a formação de professores, educadores do ensino público e privado, assim como de encarregados de educação. Estes educadores já identificaram que as crianças precisam de tempo e espaço, e do estímulo adequado (o da natureza) para que se tornem mais autónomas, reguladas, conscientes, motivadas e confiantes para se desenvolverem como seres íntegros, empáticos e respeitadores do ecossistema. Os momentos prazerosos e vivenciados em plena natureza fazem com que valorizem a natureza e a “olhem” com o coração!

 

Além da área de formação certificada, com o Aprende na Floresta já contribuímos para a abertura de espaços com a metodologia Forest School, colaborámos com Municípios para o desenvolvimento de profissionais e projetos públicos baseados neste método, desenvolvemos trabalho de consultoria para a criação de novos projetos, formámos educadores, apoiámos o desenvolvimento de programas dentro das escolas, fizemos programas para períodos de férias escolares e participámos em eventos organizacionais de sensibilização e educação para a sustentabilidade ambiental. É este o caminho que continuaremos a percorrer, contribuindo para uma sociedade mais integrada com todo o ecossistema.

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© Escola da floresta

Aprende na floresta e Escola da Floresta para aprender com a natureza

 

Para os mais velhos, nomeadamente os educadores, o Aprende na Floresta ajuda a saber como valorizar a natureza para proporcionar aos mais novos uma experiência orientada de jogo ao ar livre, incentivando e estimulando a sua curiosidade, a exploração, a compreensão e a autorreflexão – e estes benefícios de aprendizagem com a natureza são válidos para crianças desde a mais tenra idade.

Os bebés são aprendizes sensoriomotores. Para ajudar ao seu desenvolvimento, os adultos precisam de proporcionar um ambiente rico em termos sensoriais, com muitas texturas, temperaturas, cores, cheiros e sons. Consequentemente, o ar livre é um ambiente de aprendizagem ideal, pois aqui todos os sentidos dos bebés estão envolvidos.

O seu desenvolvimento físico avança para novos níveis em resposta às muitas fontes diferentes de estímulos: a diversidade ambiental existente motiva-os a mover os seus corpos de muitas maneiras diferentes, incentivando-os a aprender a levantar, alcançar, agarrar, sentar, gatinhar e também andar.

Estar ao ar livre também ajuda os bebés a começarem a usar as mãos, pois o suporte físico natural (por exemplo, sentar entre os troncos) ajuda-os a concentrarem-se noutras atividades, em vez do sentar em si. E o ambiente ao ar livre também tem um grande impacte no desenvolvimento da visão, audição e tato dos bebés.

 

Os estímulos, a aprendizagem sociomotora e o “desenvolvimento” do cérebro

 

Os bebés são altamente responsivos a estímulos externos e quase tudo na floresta pode ser utilizado para criar estímulos que despertam todos os seus sentidos.

Os diferentes movimentos do som ao ar livre – que mudam naturalmente com o vento ou as variações na pressão do ar – são um exemplo e sabe-se que até aos seis meses de idade, os bebés conseguem diferenciar os sons com muito mais eficácia do que os adultos. Da mesma forma, são muito mais recetivos aos sons dos pássaros, por exemplo, e, como resultado, adoram estar ao ar livre.

A luz também se comporta de maneira diferente. É alterada pelo clima, filtrada pelas árvores e altera-se ao longo do dia. Visitar espaços perto de árvores ou pendurar nos ramos tecidos leves, como a organza, por exemplo, filtrará o sol e fará mover a luz com o toque ou o vento.

O olfato e o paladar também podem ser estimulados ao ar livre. Bebés em movimento aproveitam ao máximo qualquer oportunidade para se levantarem e uma maneira eficaz de incentivar esse comportamento é instalar vasos robustos de baixo nível cheios de ervas fortemente perfumadas, como lavanda ou alecrim, e plantas coloridas de verão ou comestíveis, como morangos ou groselhas.

O toque é outra forma de despertar um sentido importante para ajudar os bebés a aprender sobre o mundo. Ao ar livre, eles podem-se deitar na relva e sentir cócegas na pele ou experimentar as diferenças de textura entre superfícies duras e macias.

A água é outro elemento fascinante para as crianças devido aos sons que podem ser criados com ela e à reflexão da luz. É outra oportunidade para explorarem as qualidades dos materiais presentes na natureza, misturando-os – e ficando sujos! Há também inúmeros recursos – bandeiras, fitinhas, espanta-espíritos naturais de bambu… – que apoiam a exploração do clima e estimulam todos os sentidos.

Ao ar livre, o cérebro, motivado pela abundância de estímulos, constrói novos caminhos neuronais – “o desenvolvimento” do cérebro – para lidar com a grande quantidade de novas informações que está a processar. Essa atividade cerebral aumentada suporta todas as áreas do desenvolvimento, pois ao receber e aprender a descodificar as novas informações, o cérebro em desenvolvimento também precisa armazená-las, usá-las e vinculá-las, concentrando a sua atividade não apenas na sobrevivência, mas na aprendizagem.

Para aproveitar a capacidade do corpo de melhorar por meio da aprendizagem sensoriomotora, o cérebro deve ter ampla oportunidade de reconhecer e entender informações produtivas e contraproducentes, com base em movimentos básicos.

Os neurofisiologistas observaram que os exercícios convencionais, com foco no esforço muscular, força e velocidade, inibem a capacidade do cérebro de funcionar adequadamente em nome do corpo, e torna-se impossível para o cérebro fazer as distinções sensoriais claras necessárias para melhorar a organização do corpo. No entanto, quando os movimentos são lentos e fáceis, eles ativam os centros de movimento do cérebro e geram um fluxo de informações valiosas entre as células cerebrais.

Na Escola da Floresta, onde o tempo e o espaço são orientados para permitir movimentos lentos e concentrados, o cérebro tem liberdade para fazer estas importantes distinções sensoriais.

Maio de 2024

O Autor

Cidália Gonçalves é a fundadora e mentora do projeto Aprende na Floresta. Formadora na área da educação não formal, Cidália Gonçalves é licenciada em Anatomia Patológica, pela Escola Superior de Tecnologia de Saúde do Porto (1998), e em Gestão e Engenharia Industrial, pelo ISCTE (2012). Começou por trabalhar nos hospitais civis de Lisboa e, mais tarde, no sector das telecomunicações. Em 2016 deixou a atividade profissional para se dedicar às suas filhas e começou a aprofundar variados conhecimentos na área da alimentação saudável e do desenvolvimento pessoal. Em 2020, já depois de ter voltado a exercer atividades de gestão numa start-up na área da reabilitação física, desporto e saúde, criou o projeto de educação não formal Aprende na Floresta.

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