Embora a diferenciação entre as expressões florestas plantadas e plantações florestais exista, é hoje mais comum nos textos e discursos portugueses ler e ouvir a expressão “florestas plantadas”. Mas, pelo menos, todos estaremos de acordo que João Maria e Maria João nos suscitam perceções diferentes, apesar de se comporem de palavras iguais.
O professor Monteiro Alves e o professor Santos Pereira deram tanta atenção a esta coisa das palavras que têm, no seu livro de Silvicultura, um capítulo designado “O nome das coisas”. Nele podemos ler que O que caracteriza as florestas é a presença e dominância ecológica das árvores. Porém, o que é uma floresta? Embora não exista uma definição comum acordada internacionalmente, é comum usar-se a definição da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pela Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas (CEE-ONU) nas suas avaliações periódicas dos recursos florestais, e também pela Conferência Ministerial para a Proteção das Florestas na Europa (CMPFE).
Como neste assunto não estamos a falar de batismos nem de certidões de registo civil, é possível atualizarmos e corrigirmos nomes que consideramos mais adaptados aos conceitos.
Na língua inglesa é, de facto, comum encontrarmos termos como “Working Forest”, “Forest Plantations”, “Tree plantations” ou mesmo “Plantation Forest”, distinguindo-se das florestas provenientes de regeneração natural ou de florestas primevas/naturais, e incorporando a noção de serem florestas em que o ato de plantar e de cuidar é realizado pelo trabalho humano.
E reforço que para a FAO uma “Forest Plantation” pode ser de floresta autóctone ou exótica, pois o que efetivamente as distingue das “Natural Forest” (florestas estabelecidas de forma natural e com espécies indígenas/autóctones) é ter sido semeada ou plantada e cuidada pela atividade humana. Para ajudar a confundir, uma “Forest Plantation” pode incorporar conceitos “Close-to-Nature”, mas, enfim, isso é outra história.
Alinhando com os autores da proposta “plantações florestais” em português, recorde-se que quando se refere por exemplo o olival, não se diz que é um “olival plantado”, diz-se olival ou plantação de olival. O mesmo para um eucaliptal ou um pinhal, diz-se e bem que é uma plantação de eucaliptos ou de pinho e não um “eucaliptal plantado” ou “pinhal plantado”. Para o sobreiro é igual, o montado não é um “sobreiral plantado”. O mesmo será razoável para uma qualquer floresta que foi plantada, é uma “Plantação Florestal”. Podem chamar-lhe outra coisa, mas não se esqueçam do nome das coisas.
E a propósito, não querem os leitores pensar também em rever o termo “exploração florestal”, na atividade de corte e rechega de madeira (operação que consiste em mover e concentrar num mesmo local a madeira cortada), pelo termo “colheita florestal”? Deixo para quem quiser comentar.
E deixo também como nota final este excerto do livro de poesia “O Nome das Coisas” (Sophia, 1977), em que Heraclito de Epheso diz:
“O pior de todos os males seria
A morte da palavra”