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Turismo e Lazer

À descoberta da Serra da Lousã

Percursos pedestres, praias fluviais, aldeias do xisto, gastronomia. Os motivos para visitar a Serra da Lousã são múltiplos e cruzam-se, inevitavelmente, com o seu património natural e com a riqueza da sua fauna e flora. Descubra-os a partir da Lousã, um dos seis concelhos abrangidos por estas montanhas.

Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Lousã, Penela e Miranda do Corvo. São estes os seis municípios abrangidos pela Serra da Lousã que, juntamente com a Serra do Açor e a Serra da Estrela, formam o mais imponente dos alinhamentos montanhosos de Portugal: a Cordilheira Central.

Na extremidade sudoeste desta cordilheira, a Serra da Lousã distingue-se pelas características únicas em termos de riqueza natural e biodiversidade, o que justifica a sua inclusão na Rede Natura 2000, a rede europeia que tem por missão assegurar a conservação a longo prazo das espécies e dos habitats mais ameaçados da Europa. No total, falamos de mais de 15,1 mil hectares nas zonas mais elevadas daqueles seis concelhos, incluindo os cumes aplanados da Serra da Lousã, a formação quartzítica dos Penedos de Góis (o ponto mais alto, com 1048 metros) e a Mata do Sobral, a norte, na Serra de Sacões.

A Serra da Lousã inclui-se, ainda, na Reserva Ecológica Nacional, um estatuto de proteção especial atribuído a áreas de especial valor ecológico ou particular vulnerabilidade a riscos naturais.

Não é, portanto, por acaso, que esta é uma região com características que convidam ao turismo de Natureza. Foi com isso mesmo em mente que preparámos este roteiro, para o ajudar a descobrir alguns dos locais mais emblemáticos da serra, explorando-a a partir da Lousã.

5 sugestões para melhor conhecer a paisagem da Serra da Lousã

1. Dormir numa aldeia do xisto

A Rede das Aldeias do Xisto é composta por 27 aldeias em 16 concelhos no centro de Portugal, entre Castelo Branco e Coimbra. A Serra da Lousã é a unidade territorial que mais “lugares” compreende, com um total de 12 aldeias do xisto. Talasnal e Cerdeira (nas fotos) são duas delas.

Hoje, chegar a qualquer uma destas aldeias é descobrir um verdadeiro postal ilustrado, com as cores, cheiros, sabores e encantos do entorno natural, marcado pelo acolhimento das gentes locais. Descubra aqui as 12 Aldeias do Xisto da Lousã e agende a sua visita. A nossa proposta é que pernoite numa destas aldeias e aproveite para descobrir as restantes através dos percursos pedestres.

2. Percorrer a pé a Serra da Lousã

O concelho da Lousã e as suas aldeias são atravessados por dezenas de quilómetros de trilhos pedestres. Percursos para todos os gostos possibilitam desfrutar da envolvente paisagística e arquitetónica das Aldeias do Xisto e Aldeias Serranas. Destacam-se, neste âmbito, os Caminhos do Xisto, “percursos pedestres de pequena rota, em regra circulares”, cujos trilhos muitas vezes foram “caminhos usados por moleiros, pastores, agricultores, mineiros e tantos outros antigos ofícios”.

Os percursos apresentam diferentes níveis de dificuldade e são apoiados por sinalética que possibilita, com toda a segurança, percorrê-los com autonomia. Muita da riqueza natural e patrimonial ao longo dos percursos é explicada por painéis interpretativos que enquadram os principais pontos de interesses.

Nestes percursos talvez se depare com algum exemplar das espécies que habitam a Serra da Lousã, como veados vermelhos (Cervus elaphus) – que estavam em extinção no século XIX e que agora abundam na serra –, corços (Capreolus capreolus), javalis (Sus scrofa) e raposas (Vulpes vulpes) que espreitam por entre a floresta. Dentro da fauna salientam-se ainda outros pequenos mamíferos, como a doninha (Mustela nivallis), a gineta (Genetta genetta), o coelho (Oryctolagus cuniculus), a lebre (Lepus) e a lontra (Lutra lutra). O melhor período para os observar é o nascer ou o pôr do sol, aconselha a Câmara Municipal da Lousã.

A voar alto sobre as copas, não é incomum avistar rapinas como açores (Accipiter gentilis) e águias-de-asa-redonda (Buteo búteo), mas também outras aves que habitam junto aos ribeiros de montanha, nos bosques mistos e até em hortas e prados junto às aldeias, desde o melro-d’água (Cinclus cinclos), ao dom-fafe (Pyrrhula pyrrhula) e à petinha dos campos (Anthus campestris), passando por corujas e mochos (ambos da família Strigidae).

O coberto vegetal tipicamente mediterrâneo – carvalho português ou cerquinho (Quercus faginea), sobreiro (Quercus suber), castanheiros (Castanea sativa), medronheiro (Arbutus unedo) e várias plantas odoríferas como a urze ou queiró (Erica cinerea), a carqueja (Pterospartum tridentatum), os tojos (Ulex spp.) e as giestas (Cytisus spp.) – convivem lado a lado com espécies introduzidas, que incluem o pinheiro bravo (Pinus pinaster), o pinheiro silvestre (Pinus sylvestris), o eucalipto (Eucalyptus globulus), o cedro-do-Buçaco (Cupressus lusitanica) e o cedro-do-Atlas (Cedrus atlantica). Nos cumes e vertentes ribeirinhas é o mato que sobressai.

Se ficou com vontade de meter pés ao caminho, explore aqui os percursos pedestres da Lousã, num mapa disponibilizado pelo Município:

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3. Mergulhar nas praias fluviais

Com águas cristalinas, paisagens naturais deslumbrantes, ar puro, muita frescura e tranquilidade, as praias fluviais da Lousã são locais de lazer e bem-estar únicos. A qualidade da água e da envolvente é um dos principais critérios de seleção destas praias, que se encontram em zonas de património ambiental e áreas naturais classificadas. E, para os mais atentos, pode ser possível observar por aqui uma das mascotes locais: a lontra. Mais próximo da Lousã, há pelo menos três locais de referência para ir a banhos, embora ao longo da serra se encontrem muitos mais.

Praia Fluvial da Senhora da Piedade
Conhecido entre a população por “Burgo”, este lugar é um centro de peregrinações à capela da Nossa Senhora da Piedade e às Ermidas. Ao fundo do castelo de Arouce, as águas frescas da Ribeira de São João são aproveitadas para a prática balnear.

Praia Fluvial da Senhora da Graça
À entrada de Serpins, esta praia faz uso do rio Ceira para oferecer dias de ócio na extensa zona de relvado e banhos refrescantes, tanto no leito do rio como na piscina para crianças.

Praia Fluvial da Bogueira
As águas do rio Ceira, em Casal de Ermio, a seis quilómetros da Lousã, acolhem os visitantes nos seus passeios pelas Aldeias do Xisto. Esta praia está pensada para famílias com crianças, por ser vigiada e ter uma piscina para os mais pequenos.

4. Descobrir o património edificado, natural e gastronómico

Do Centro Histórico da Lousã às casas brasonadas espalhadas pelo concelho, do Castelo de Arouce ao Palácio dos Salazares, hoje ocupado pelo Hotel Palácio da Lousã, a região da Lousã é rica em património edificado merecedor de uma visita. Mas destacamos, também aqui, o património natural, de que é testemunho o Cabril do Ceira: um lugar onde as águas cristalinas se fundem com o estreitamento formado pelo canhão de quartzo, num local de inegável beleza.

Igualmente merecedoras de exploração são a fauna e a flora locais. Presença incontornável ao longo de todas as atividades que já sugerimos, podem ser conhecidas mais a fundo através de atividades específicas, como o birdwatching ou o geocaching.

Neste último caso, saiba que existe um percurso pedestre informal com 7,6 km que permite conhecer a fauna e flora da Mata do Sobral, acompanhando a regeneração natural pós-incêndio e os trabalhos de combate às espécies invasoras (acácias e háqueas, por exemplo). A atividade recorre a 20 geocaches disponíveis desde maio de 2018 e chama-se “Descobrir a Mata do Sobral – Rede de Geocaching”.

Finalmente, mas não menos importante, aproveite para se deliciar com os sabores únicos da gastronomia local, como a chanfana, o cabrito, o mel Serra da Lousã DOP, o vinho Foz de Arouce ou o afamado Licor Beirão.

5. Visitar a maior amostra de fauna selvagem de Portugal

Durante a passagem por este território, é praticamente obrigatória a visita ao Parque Biológico da Serra da Lousã. Situado numa das encostas, o Parque ocupa uma área de 33 mil m2 de Reserva Ecológica Nacional. A sua finalidade é promover a conservação ambiental e sensibilizar para a biodiversidade existente no nosso país, assim como para os fatores que a ameaçam.

Aqui é mais fácil avistar variadas espécies de mamíferos – linces ibéricos (Lynx pardinus), lobos (Canis lupus), raposas (Vulpes vulpes), javalis (Sus scrofa), gamos (Dama dama), veados vermelhos (Cervus elaphus), corços (Capreolus capreolus), cabras (Capra aegagrus hircus), entre muitos outros – pois embora vivam soltos em espaços amplos, existem cercas a delimitá-los.

Podem observar-se também várias espécies de aves de rapina e na flora não faltam exemplares comuns do território português, incluindo espécies atlânticas e mediterrânicas, como os castanheiros (Castanea sativa), carvalhos (Quercus spp.) ou medronheiros (Arbutus unedo).

Prepare a sua visita, consulte horários e veja como chegar ao Parque Biológico da Lousã, que fica em Miranda do Corvo. Aproveite a viagem e explore também, no local, o Museu Vivo de Artes e Ofícios Tradicionais, com oficinas abertas onde ofícios como cestaria, olaria e tecelagem, entre outros, são trabalhados com ferramentas, técnicas e matérias-primas tradicionais.