As cidades estão mais quentes devido ao efeito das “ilhas de calor urbanas”, intensificado pelas alterações climáticas. O aumento do número de árvores pode ajudar a refrescá-las e a evitar parte substancial das mortes prematuras provocadas pelo calor excessivo, avança um novo estudo que abrangeu 93 cidades europeias.
Uma cobertura arbórea de 30% numa cidade poderia baixar em 0,4ºC a temperatura local e evitar cerca de 39% das mortes atribuídas às chamadas ilhas de calor urbanas. Se esta cobertura chegasse aos 40%, além de as cidades refrescarem em média 0,5ºC, seriam evitadas 41% de mortes devidas ao calor.
Estas são algumas das conclusões do estudo “Refrescar as cidades através de infraestruturas verdes: análise do impacto de saúde em cidades europeias”, do Instituto de Barcelona para a Saúde Global, que cruzou vários dados – incluindo temperatura, densidade populacional, níveis de cobertura por vegetação e mortalidade, entre outros –, analisando as suas relações e variações em 93 cidade europeias (incluindo 2 cidades portuguesas) durante o verão de 2015 (de 1 de junho a 31 de agosto).
Publicado em janeiro de 2023, este trabalho mostra que as chamadas ilhas de calor urbanas foram responsáveis, em média, por mais de 4,3% dos óbitos ocorridos entre junho e agosto de 2015. No total, 6700 mortes prematuras foram atribuídas aos efeitos das ilhas de calor no período em análise, das quais mais de 2600 poderiam ser evitadas se a cobertura arbórea se elevasse aos 30%.
Da população total das 93 cidades analisadas (mais de 73 milhões de pessoas), 78% vive em zonas que estão pelo menos 1ºC mais quentes (no período em análise) devido ao efeito das ilhas de calor urbanas, enquanto 20% desta população está já a viver em áreas em que as temperaturas médias no verão apresentam um aumento de mais de 2ºC.
O estudo confirma que os efeitos das ilhas de calor urbano são mais intensos nas cidades com maior densidade populacional (onde tipicamente há também mais áreas construídas e impermeabilizadas) e alerta para o facto de que reduzir as ilhas de calor não exige o mesmo esforço de criar zonas verdes ou florestas urbanas em todas as cidades em análise, já que há outras variáveis a considerar, como as condições de secura e humidade de cada zona urbana, as quais influenciam os efeitos.