Um estudo pioneiro do Centro de Estudos Florestais (CEF) do Instituto Superior de Agronomia avaliou o potencial da casca de sobreiro (Quercus suber) como fonte natural de novos compostos que podem ser usados em medicamentos para doenças neurodegenerativas. Os resultados dão sinais positivos: os extratos estudados apresentam propriedades que poderão travar a deterioração neuronal, sendo um indício do potencial da cortiça para o tratamento de Alzheimer.
A equipa de investigadoras – Joana Ferreira, Sara Santos e Helena Pereira – analisou a composição química dos extratos de etanol-água provenientes da parte mais interna da casca (entrecasco) do sobreiro e de resíduos de cortiça. A análise demonstrou uma concentração relevante de antioxidantes nestes extratos, com uma “interessante atividade inibitória contra a enzima acetilcolinesterase (AChE) envolvida no processo de neurotransmissão”, como se pode ler no destaque divulgado pelo CEF.
De realçar que a AChE tem um papel central na deterioração da comunicação entre células nervosas do cérebro, característica da doença de Alzheimer. Esta enzima é responsável pelo declínio do neurotransmissor acetilcolina, uma “peça” muito importante para a capacidade de memória do ser humano. Ao inibir a AChE, é possível abrandar o ritmo de destruição da acetilcolina, estimulando a comunicação entre as células nervosas. Ou seja, esta é uma abordagem terapêutica que permite retardar e aliviar os sintomas da doença.
Os inibidores de AChE já existem no mercado, aprovados como medicamentos para a estabilização do funcionamento cognitivo em pessoas diagnosticadas com Alzheimer. No entanto, alguns destes medicamentos apresentam efeitos secundários, como problemas cardiovasculares e pulmonares.
É importante encontrar alternativas, a partir de fontes naturais para estes compostos de atividade inibitória, que permitam medicamentos com menor toxidade e mais eficientes. O estudo do CEF deixa uma porta aberta para que a cortiça do sobreiro possa ser equacionada, no futuro, para o desenvolvimento desta nova geração de medicamentos.
Consulte aqui o estudo do CEF sobre as propriedades da cortiça para tratamento de Alzheimer.
Historicamente aproveitada para a produção de rolhas e outros bens de consumo, a cortiça é uma matéria-prima essencial para a indústria de base florestal. No entanto, há muitos componentes da casca de sobreiro e da cortiça que não são valorizados no processo industrial ou que acabam por ser descartados como resíduos. É o caso, por exemplo, do entrecasco, de onde proveem os extratos de etanol-água analisados no estudo do CEF e que podem vir a ser usados como fonte de novos medicamentos.
Desenvolver novas aplicações e abordagens que aproveitem estes recursos florestais permite aumentar o valor acrescentado da floresta e reduzir o desperdício dos processos silvícolas e industriais, contribuindo para fortalecer a bioeconomia circular.