Notícias e Agenda

25.09.2020

Novo estudo aponta potencial da cortiça para tratamento de Alzheimer

Novo estudo aponta potencial da cortiça para tratamento de Alzheimer

Um estudo pioneiro do Centro de Estudos Florestais (CEF) do Instituto Superior de Agronomia avaliou o potencial da casca de sobreiro (Quercus suber) como fonte natural de novos compostos que podem ser usados em medicamentos para doenças neurodegenerativas. Os resultados dão sinais positivos: os extratos estudados apresentam propriedades que poderão travar a deterioração neuronal, sendo um indício do potencial da cortiça para o tratamento de Alzheimer.

A equipa de investigadoras – Joana Ferreira, Sara Santos e Helena Pereira – analisou a composição química dos extratos de etanol-água provenientes da parte mais interna da casca (entrecasco) do sobreiro e de resíduos de cortiça. A análise demonstrou uma concentração relevante de antioxidantes nestes extratos, com uma “interessante atividade inibitória contra a enzima acetilcolinesterase (AChE) envolvida no processo de neurotransmissão”, como se pode ler no destaque divulgado pelo CEF.

De realçar que a AChE tem um papel central na deterioração da comunicação entre células nervosas do cérebro, característica da doença de Alzheimer. Esta enzima é responsável pelo declínio do neurotransmissor acetilcolina, uma “peça” muito importante para a capacidade de memória do ser humano. Ao inibir a AChE, é possível abrandar o ritmo de destruição da acetilcolina, estimulando a comunicação entre as células nervosas. Ou seja, esta é uma abordagem terapêutica que permite retardar e aliviar os sintomas da doença.

Os inibidores de AChE já existem no mercado, aprovados como medicamentos para a estabilização do funcionamento cognitivo em pessoas diagnosticadas com Alzheimer. No entanto, alguns destes medicamentos apresentam efeitos secundários, como problemas cardiovasculares e pulmonares.

É importante encontrar alternativas, a partir de fontes naturais para estes compostos de atividade inibitória, que permitam medicamentos com menor toxidade e mais eficientes. O estudo do CEF deixa uma porta aberta para que a cortiça do sobreiro possa ser equacionada, no futuro, para o desenvolvimento desta nova geração de medicamentos.

Consulte aqui o estudo do CEF sobre as propriedades da cortiça para tratamento de Alzheimer.

 

Cortiça para tratamento de Alzheimer inspira bioeconomia circular

Historicamente aproveitada para a produção de rolhas e outros bens de consumo, a cortiça é uma matéria-prima essencial para a indústria de base florestal. No entanto, há muitos componentes da casca de sobreiro e da cortiça que não são valorizados no processo industrial ou que acabam por ser descartados como resíduos. É o caso, por exemplo, do entrecasco, de onde proveem os extratos de etanol-água analisados no estudo do CEF e que podem vir a ser usados como fonte de novos medicamentos.

Desenvolver novas aplicações e abordagens que aproveitem estes recursos florestais permite aumentar o valor acrescentado da floresta e reduzir o desperdício dos processos silvícolas e industriais, contribuindo para fortalecer a bioeconomia circular.