Com inauguração prevista para julho de 2020, o passadiço da Ribeira das Quelhas e o passadiço das Fragas de São Simão vêm reforçar as opções de turismo de natureza no Centro de Portugal. Coloque a mochila às costas e parta à aventura: os dois novos passadiços na Serra da Lousã permitem um acesso único a cascatas, praias fluviais, miradouros e património natural da região.
No caso do passadiço da Ribeira das Quelhas (Castanheira de Pera), atualmente em fase final de construção, serão cerca de 1200 metros de um percurso entre fragas de xisto e granito. Conhecida entre os habitantes locais pela sua elevada beleza paisagística, a zona da ribeira era acessível através de canyoning ou de uma exigente caminhada, devido às escarpas rochosas (que permitiram proteger as características botânicas únicas do local). Com o passadiço, o acesso ao local tornar-se-á mais fácil – embora com alguns degraus ao longo do percurso.
O passadiço tem início perto da aldeia do Coentral – conhecida, historicamente, pelos “neveiros” que conservavam o gelo do inverno até ao verão, para abastecimento da corte real em Lisboa –, onde ainda podem ser vistas as antigas e pitorescas casas construídas em granito. À medida que se afasta da povoação, o percurso acompanha o relevo da Serra da Lousã pela margem direita da Ribeira das Quelhas. Os troços são diversificados – entre zonas de vegetação rasteira e áreas na sombra de arvoredo diverso – com acesso privilegiado a lagoas e quedas de água emblemáticas do local, que se precipitam por entre as fragas.
Em termos de património natural, destaca-se o habitat prioritário de matagais de loureiro (Laurus nobilis) com populações de azevinho (Ilex aquifolium), que marcam presença ao longo da Ribeira das Quelhas. Além destas espécies, a ribeira e a sua envolvente apresentam ainda exemplares de castanheiros (Castanea sativa), carvalhos (Quercus), azinheiras (Quercus ilex) e até pilriteiros (Crataegus monogyna) – espécie conhecida pelas suas bagas vermelhas.
Fragas de São Simão: unir o miradouro, a praia fluvial e a aldeia
A pouco mais de 25 quilómetros da Ribeira das Quelhas, outro ex-libris da região merece uma visita. Trata-se das Fragas de São Simão, grandes escarpas rochosas que ladeiam a Ribeira de Alge, no concelho de Figueiró dos Vinhos. É precisamente no miradouro das Fragas, com vista privilegiada para os grandes blocos de quartzito, que outro passadiço foi inaugurado a 3 de julho de 2020.
O passadiço das Fragas de São Simão faz a ligação entre o miradouro – cuja requalificação está englobada no projeto – e a popular praia fluvial, ao longo de um quilómetro de percurso. Com o mesmo nome da formação geológica que lhe dá forma, a praia fluvial das Fragas de São Simão localiza-se entre as duas escarpas. Além dos banhos nas águas límpidas da ribeira de Alge e da paisagem onde predominam loureiros e sobreiros (Quercus suber), o local é propício à prática de escalada, rappel ou slide.
Pela sua localização, o passadiço promete uma vista sobre os bosques de carvalho-alvarinho (Quercus robur), loureiros, sobreiros, medronheiros (Arbutus unedo) ou castanheiros (Castanea sativa), entre a vegetação diversa que compõe o património natural das fragas e a respetiva envolvente, de floresta de produção de eucalipto.
A pretexto do novo miradouro, impõe-se uma visita à inconfundível aldeia de Casal de São Simão, integrada na rede de Aldeias de Xisto. Ao contrário das restantes Aldeias de Xisto, as casas do Casal de São Simão estão construídas em quartzito (rocha predominante das fragas), o que confere à pequena aldeia de uma só rua a sua tonalidade única.
A povoação já estava ligada, por um pequeno trilho, à praia fluvial. Com o passadiço de madeira, os três pontos – miradouro, praia e aldeia – passam a beneficiar de uma ligação de fácil acesso.
Passadiços na Serra da Lousã seguem a “moda” no turismo de natureza
Resultado da iniciativa destas duas autarquias da região Centro – Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos –, os passadiços na Serra da Lousã criam possibilidades de passagem em troços de, até agora, difícil acesso, democratizando o acesso ao património natural da região. São também uma confirmação destas estruturas de madeira como “tendência” que, nos últimos anos, tem conquistado adeptos de norte a sul do país – os Passadiços do Paiva são o exemplo mais emblemático – , permitindo atrair mais visitantes a territórios do Interior do país.
Cada um dos passadiços na Serra da Lousã engloba um valor de investimento aproximado de 400 mil euros, financiados a 90% pelo Programa Valorizar – Linha de Apoio à Valorização Turística do Interior.