Pragas e Doenças
O sobreiro é uma das espécies florestais Portuguesas onde se encontra maior biodiversidade de insetos e fungos, com várias centenas de espécies a coexistir tanto em árvores jovens como adultas. A maioria destas espécies não causa qualquer dano significativo às árvores, mas em casos esporádicos, os insetos e fungos podem atingir níveis populacionais elevados e este aumento está na origem de várias doenças do sobreiro que, em casos mais intensos, podem provocar o declínio ou mesmo a morte destas árvores.
Geralmente, os ataques destes agentes patogénicos são potenciados por desequilíbrios nos próprios povoamentos. Degradação e desequilíbrios no solo ou fenómenos climatéricos extremos, como secas prolongadas, incêndios e inclusive más práticas de gestão são alguns dos fatores que podem levar a uma maior fragilidade dos sobreiros.
No nosso país, alguns dos agentes mais nocivos associados às doenças do sobreiro são:
– a fitóftora (Phytophthora cinnamomi), que também causa a doença da tinta do castanheiro, é um organismo filamentoso semelhante aos fungos – um oomiceta – que pode ser encontrado em grande parte dos montados que se encontram em declínio. Estes organismos podem permanecer no solo por longos períodos e têm como hospedeiros, além de diversos carvalhos, várias plantas típicas dos montados, como estevas (Cistus ladanifer), tojos (Ulex spp.) e murta (Myrtus communis). Os esporos da fitóftora germinam nas raízes, invadem os tecidos e levam à sua morte. À medida que as lesões se vão espalhando pelas raízes, com efeitos percetíveis pela seca e amarelecimento das folhas, as próprias raízes e o colo da árvore apodrecem, o que pode culminar na morte do sobreiro.
– o plátipo (Platypus cylindrus) é um inseto de grande preocupação devido à sua abundância e agressividade. Estas características levaram à implementação de um Plano de monitorização e controlo a nível nacional. Este inseto, que ataca preferencialmente sobreiros recém-descortiçados ou afetados por incêndios florestais, pode causar a sua morte rapidamente – entre três meses a ano e meio após o ataque inicial.
– o xileboro (Xyleborus dispar) é um inseto que, tal como o plátipo, ataca o tronco na primavera e no outono, preferindo colonizar geralmente árvores debilitadas por outros agentes bióticos ou abióticos, nomeadamente sobreiros afetados por incêndios florestais.
– Os fungos da família Botryosphaeriaceae, nomeadamente do género Diplodia, são importantes agentes patogénicos do sobreiro e na maior parte dos casos causam sintomas muito semelhantes aos da fitóftora. Para além de deficiências de clorofila que alteram a cor e saúde das folhas (cloroses) e provocam a seca de ramos, também se observam cancros no tronco e ramos. Em Portugal são encontradas com frequência em zonas de declínio do montado as espécies Diplodia corticola e Diplodia quercivora, sendo a primeira muito agressiva para o sobreiro.
– o fungo que causa o carvão-do-entrecasco (Biscogniauxia mediterranea) tem vindo também a aumentar a sua incidência nos últimos anos, associado ao enfraquecimentos das árvores. Coloniza os seus tecidos e causa fendas na cortiça, criando ainda estruturas reprodutoras nos troncos e ramos, cujo aspeto se assemelha a placas de carvão.
– a portésia (Euproctis chrysorrhoea) e a limântria (Lymantria dispar) são dois insetos desfolhadores, que causam a perda de folhas, na primavera, prejudicando o crescimento da árvore e podendo afetar a produção de cortiça, embora geralmente as árvores recuperem depressa destas desfolhas. Geralmente, os ataques são intensos, mas localizados no espaço e no tempo. Não há registos de ataques frequentes nos últimos anos.
– a cobrilha da cortiça (Coroebus undatus) é uma das doenças do sobreiro que não causa a morte das árvores, mas que em caso de ataques intensos afeta a quantidade e qualidade da cortiça, com enorme impacte económico.
Como em outras áreas florestais, os meios para travar as pragas e doenças do sobreiro são limitados. Nos montados estes limites são maiores porque estes agro-sistemas de usos múltiplos são geralmente incompatíveis com a utilização em larga escala de inseticidas e fungicidas. Neste sentido, não existem sequer produtos químicos homologados que se possam aplicar em segurança.
As exceções vão para certos agentes, como os insetos desfolhadores, em que se podem aplicar produtos eficazes e específicos em caso de surtos intensos. A par, há outras soluções que apoiam o controlo de populações, como no caso do plátipo e do xileboro, em que se recorre a armadilhas iscadas com atrativos específicos. Também para outros agentes, como a cobrilha, estão a ser testadas e desenvolvidas novas estratégias para monitorizar e controlar as populações e diminuir os impactes.
É, no entanto, de salientar que só com uma gestão integrada e sustentável do montado, orientada à saúde e equilíbrio do solo, se conseguirão obter árvores saudáveis e em boas condições de vitalidade, capazes de repelir e combater o ataque e danos das principais pragas e doenças do sobreiro.
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